quinta-feira, 24 de junho de 2010

O Exu na Igreja Evangélica - por Douglas Fersan



A tolerência à diversidade é a palavra de ordem do momento. Longe de querer pregar o repúdio a qualquer religião, pois todas exercem sua função social e espiritual, esse texto tem o objetivo de mostrar que em alguns templos o nome das entidades da Umbanda Sagrada é usado de maneira pejorativa e que ainda assim os incansáveis trabalhadores do Astral não baixam sua guarda e nem deixam de dar proteção àqueles que os difamam.
Quantas e quantas vezes as entidades da Umbanda, em especial os compadres exus e as senhoras pombogiras, são invocadas nas igrejas evangélicas, como se fossem responsáveis por todo tipo de mal que afeta a vida de pessoas sofridas, que buscam solução para seus problemas nesses templos? Os nomes das entidades mais populares do panteão da nossa religião são citados sem qualquer respeito ou pudor. Os senhores Tranca-Ruas, Marabô, Tiriri, Tatá Caveira, Maria Padilha, Maria Mulambo e outros tantos são acusados de serem os responsáveis pelo infortúnio de pessoas desesperadas com questões materiais, espirituais, de saúde ou familiares. Esses nobres trabalhadores são acusados de causar doenças, prejuízos materiais, destruir famílias e outras mazelas mais, num ato de total desrespeito aos símbolos (nesse caso, às entidades) da religião alheia.
Esses mesmos detratores das nossas entidades – as quais acusam de serem demônios – batem no peito para bradar aos quatro ventos que “o diabo veio para mentir, roubar e matar” e não se atentam que eles próprios podem estar sendo enganados por um “diabo” (sem entrar no mérito da existência dessa figura mítica judaico-cristã) que mente, que os engana, dizendo se chamar Tranca-Ruas, Marabô, etc. Em outras palavras, zombeteiros adentram esses templos, usam os nomes das entidades da Umbanda, e aqueles mesmos que dizem que o “diabo” veio mentir, não notam que estão sendo vítimas de uma grande mentira. Caem como patinhos na lábia de verdadeiros arruaceiros espirituais que conseguem usar uma religião para denegrir outra. E o que é pior, denegrir justamente a imagem dos guardiões, daqueles que policiam sua ação nefasta no mundo espiritual e que se reflete de forma extremamente negativa no mundo material, atingindo mentes pouco esclarecidas e/ou preconceituosas, que não medem esforços em acusar os senhores exus, os verdadeiros soldados do Astral, os agentes da Lei Cósmica e cármica universal pelas mazelas que grassam as vidas daqueles que, desesperados, buscam ajuda.
Os compadres exus têm seus nomes achincalhados de maneira vergonhosa dentro de algumas igrejas, que sem o menor pudor ignoram inclusive a Carta Magna do país, que garante o respeito a todos os cultos religiosos e seus símbolos. Mal sabem esses detratores do mundo espiritual que, ao contrário deles, os nossos guardiões exus são desprovidos desse preconceito infantil e barato, e ali estão, à porta das diversas igrejas, trabalhando incansavelmente como sempre costumam fazer, impedindo que ataques do mais baixo reduto espiritual atinja a nós, encarnados, independente da religião que professamos.
Se não fossem os nossos fiéis amigos exus, quantos ataques os diversos templos religiosos sofreriam dos elementos trevosos que, apesar de desprovidos do corpo carnal, rondam e obsedam o mundo material sem que a maioria se dê conta disso?
Não importa o nome que se dê a eles. Na Umbanda e na Kimbanda chamamos de exus. Outros preferem chamar apenas de guardiões ou protetores, mas o importante é que estejam ali, guardando a entrada dos Centros Espíritas, das igrejas católicas, das protestantes tradicionais ou das neo-pentecostais, pois o fato é que ali estão, abnegados e cumprindo bem a sua tarefa de impedir que kiumbas ou trevosos deturpem o culto lá realizado.
Se em algumas denominações (especialmente neo-pentecostais) certos espetáculos acontecem, com obsessores se passando pelos exus (principalmente os mais conhecidos, por assim dizer) é porque os próprios exus de lei permitiram que eles ali adentrassem, a fim de que participassem do show de horrores para depois serem encaminhados ao devido local de merecimento, ou então têm ciência do teatro que alguns fazem usando seu nome, sem que haja, na realidade, entidade qualquer ali.
Em ambas as situações, levando-se em conta o seu caráter irreverente – apesar da seriedade com que realizam sua tarefa, os verdadeiros exus, aqueles que guardam incansavelmente até mesmo a porta das igrejas evangélicas, devem se divertir muito enquanto fazem o seu trabalho e observam essa “Broadway” de quinta categoria. E para quem conhece bem essas entidades, sabe que sua gargalhada não é apenas uma manifestação de hilaridade, e sim um fundamento usado com mestria para descarregar situações tensas, onde elas se fazem necessárias.
Exu está em toda parte, pois a sabedoria cósmica sabe como agir e onde colocar cada um de seus trabalhadores, para que desempenhem bem sua finalidade. Se alguém possui o dom da vidência, não se espante se um dia se deparar com um compadre exu guardando a entrada de uma igreja evangélica. O Universo possui razões que nós somos ainda muito imaturos para entender.
Laroyê Exu.

Douglas Fersan – 24/6/2010

sexta-feira, 11 de junho de 2010

O Erveiro na TV - É a Umbanda ultrapassando limites - por Douglas Fersan



No dia 10 de junho de 2010 tivemos uma agradável surpresa na programação vespertina da TV aberta. Entre tantas coisas fúteis e inúteis (algumas até daninhas, arrisco dizer), tivemos a imensa honra de acompanhar uma entrevista (provavelmente a palavra mais correta seria uma palestra, dada a qualidade do evento) com o nosso querido e admirável Adriano Camargo, sacerdote do Templo Ventos de Aruanda, em São Bernardo do Campo.
O “Erveiro”, como é conhecido, estava completamente à vontade perante a apresentadora e as câmeras, como quem já está habituado a esse tipo de acontecimento. Mas na realidade sabemos que as câmeras de TV não fazem parte do cotidiano de Adriano Camargo. A sua desenvoltura se devia, na verdade, à confiança e ao respeito que tem naquilo que conhece e fala, pois não fala como demagogos, que querem apenas o brilho dos holofotes. O Erveiro fala como quem leva adiante a bandeira da sua religião, manifestada, entre outras nuances, no uso espiritual e terapêutico das ervas.
Numa atitude de inteligência e respeito às diversidades, Adriano deixou claro logo no início de sua participação, que o uso das ervas não é uma modalidade restrita à Umbanda e seus rituais. Seu uso é milenar, faz parte de diversas religiões e até mesmo de tratamentos médicos sem qualquer ligação religiosa. As ervas são instrumentos deixados aos homens pelas divindades, que devem usá-las da melhor maneira possível, para os mais diversos fins, e isso não está ligado a nenhum dogma religioso. Seu uso é livre para qualquer pessoa, de qualquer religião.
Sempre com um sorriso estampado, Adriano Camargo deu várias dicas em relação às ervas, com a responsabilidade de não misturar assuntos religiosos com profanos e principalmente sem entrar em questões de fundamentos, informações restritas aos templos de Umbanda, e que por questão de segurança dos leigos e respeito aos rituais, ali devem permanecer. Conseguiu a proeza de falar de um tema inerente à Umbanda sem profaná-la. É a arte de transmitir a informação com responsabilidade.
Um momento divertido que merece destaque, foi quando ensinou como fazer as arrudas crescerem fortes e bonitas:
_Fale à arruda – disse Adriano – que se ela não crescer direito, vou plantar violetas em seu lugar.
Tenho certeza que muita gente correu ao seu vasinho de arruda para dar essa bronca na plantinha. As violetas certamente acharam graça nisso.
Não resta dúvidas de que sua participação rendeu bons índices de audiência ao programa, pois ao final da sua participação, a simpática apresentadora Cátia Fonseca afirmou que em breve o Erveiro estará lá novamente, dando novas boas dicas a todos nós.
Seguindo o próprio conselho de Adriano, ao falar sobre a manipulação das ervas e outros elementos, deixo aqui duas palavrinhas a esse nobre guerreiro de Aruanda: POR FAVOR, continue compartilhando seu conhecimento conosco e OBRIGADO por levar ao Brasil o nome da Umbanda de forma tão digna.

Axé sempre.
Douglas Fersan – 11/06/2010