domingo, 31 de agosto de 2014

A mão suave de Oxalá - por Douglas Fersan


Houve um período da minha vida que tudo parecia dar errado.
De repente fui pego por uma enfermidade, que fatalmente afetou o meu humor, o meu modo de tratar e de me relacionar com as pessoas. Fiquei introspectivo, pouco falante.

Vieram problemas no trabalho. Coisas que antes eu resolvia com facilidade, passaram a ter uma dimensão maior - talvez por causa da minha fragilidade. Aqueles que me cercavam diziam que eu estava diferente, alguns até compreendiam que a enfermidade afetava o meu estado, mas outros achavam que eu devia reagir. Eu bem que tentava, e às vezes até acreditava que estava conseguindo, mas pelos comentários que ouvia, não estava.

Como dirigente de uma casa espiritual, muitos achavam que eu tinha o dever de estar bem. Afinal, como Deus haveria de desamparar justamente aquele que se dispõe a exercer o sacerdócio em Seu Santo Nome? Mero senso comum. Padres, pastores, rabinos, pais-de-santo também sofrem enfermidades e problemas no dia a dia.

Pior ainda: sempre havia alguém que chegava para dizer que era fulano quem estava "demandando" (enviando feitiços, negatividades e afins) para me derrubar. Não acredito que tenham feito, mas se assim o fizeram, lá no futuro colherão o hoje plantaram, isso é fato.

O que acredito é que, como qualquer ser humano, meu corpo padeceu pelos excessos que cometi e pelos cuidados que deixei de tomar com o físico e que fatalmente desencadeou uma bola de neve que afetou o meu humor e o espiritual.

Mas o que ninguém percebia é que nos momentos em que eu estava calado, aparentemente introspectivo, mal humorado e calado, estava com uma mão sobre meu ombro. A mão divina do Pai Oxalá, que pacientemente cuidava da minha enfermidade. Não de uma forma milagrosa e imediatista como alguns pensam que deve ser, mas da forma racional que necessita ser. Me fez repensar hábitos (inclusive alimentares), posturas, pessoas e, principalmente fortaleceu a minha fé.

Lição aprendida: não estou só. Tenho a minha família carnal, os amigos fiéis, os irmãos e filhos-de-fé, os sagrados orixás e as entidades e, acima de tudo e de todos, Deus... e ninguém pode mais que Ele.

Que fique a lição. A dor é sagrada, pois nos avisa que algo deve ser mudado em nosso modo de tratar o organismo física e consequentemente o espiritual. A introspecção também é necessária, pois nos leva a refletir muita coisa e a aprimorar nossa condição de seres divinos humanizados.

Engana-se quem me via calado e achava que eu estava entregue à tristeza. Eu estava sentindo a mão suave do pai Oxalá afagando meu ombro e dizendo que a luta continuava e muito ainda tinha a ser construído.

Salve nosso pai Oxalá.

Douglas Fersan
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quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Quer montar um terreiro de Umbanda? Tenha culhões para isso - por Douglas Fersan


Em primeiro lugar me desculpo pelo termo chulo com que intitulo esse artigo (não é do meu feitio), muito embora o ache verdadeiro. Criar um templo de Umbanda não é para qualquer um. Não basta pendurar algumas guias no pescoço, incorporar algumas entidades e pronto. É preciso bem mais que isso.

 É preciso, em primeiro lugar, ter conhecimento para segurar todas as energias que rondam uma casa e uma gira. Não basta saudar os orixás/entidades e pronto. Não basta acender uma vela preta e vermelha no tronqueira e acreditar que a segurança está feita. Umbanda é coisa séria para gente séria e que tem conhecimento para isso. As energias que rondam uma gira e uma casa de Umbanda são enormes e por melhores que sejam as suas entidades, você também tem que possuir firmeza, conhecimento, tato e bom senso para administrar tudo isso. Não se esqueça que sacerdócio é coisa séria e que normalmente você é escolhido por uma força maior e não pelo seu ego.

Falando em bom senso, não misture suas crenças pessoais (senso comum) com fundamento de Umbanda. São coisas distintas. Não é porque você sonhou que uma entidade disse uma coisa que isso se torna um fundamento de Umbanda. Talvez você esteja delirando. Não é porque você acha que determinados elementos devam (ou não) ser usados ou evitados, que sua vontade deve ser feita. As entidades não devem deixar de beber ou fumar, de usar determinados paramentos, de usar certos procedimentos só porque você quer. Você não é o papa da Umbanda e, sinto informar, sabe bem menos que as entidades e os orixás: esses sim, os verdadeiros mestres a quem devemos ouvir para nortear o nosso culto. Os fundamentos da Umbanda vêm do Astral, da Espiritualidade Maior, e não do seu ego, às vezes tão mesquinho.

Também não se ache o baluarte da Umbanda. Na Umbanda verdadeira impera a simplicidade e não existe lugar para super-heróis (ou supostas entidades que assim se acham e já baixam se dizendo chefes de falange). Converse com um preto velho se tiver dúvidas quanto a isso. Não existe entidade mais sábia que um preto velho... paradoxalmente não existe também entidade mais humilde. Portanto, se quer contribuir tanto para uma boa Umbanda, comece sendo humilde.


Outro bom conselho: aprenda a controlar a sua língua. Ela não tem osso, pode serpentear de um lado para outro, falando de tudo e de todos. E fica a dica: quem fala de todas as pessoas para você, certamente fala de você para todas as pessoas.

Quer montar um terreiro de Umbanda? Ótimo... mas primeiro assuma a religião para a sua família, vizinhos e amigos. Vamos honrar a roupa branca que vestimos, e não ter vergonha dela. Salve Oxalá e a brancura do seu manto. Tenha culhão para assumir aquilo em que você acredita. Não pratique a Umbanda às escondidas... não é vergonha nem crime ser umbandista, a Carta Magna do país nos garante isso. Se você tem medo de assumir a Umbanda o problema está em você, não nos outros.
Siga seu caminho. Se não conseguiu fazer com que os irmãos-de-fé da sua casa sejam seus cordeiros, procure um lugar com pessoas menos inteligentes, que talvez caiam em sua conversa. Mas não tente abrir um terreiro se não tiver culhão para isso.

E ao sair dessa casa, deixe-a em paz. Deixe seu sacerdote em paz, os filhos-de-fé em paz, seus fundamentos em paz. Você será esquecido por eles mais rápido do que pensa se deixá-los em paz. Não caia do jogo mesquinho de tentar ficar aliciando às escondidas os filhos dessa casa (aqueles mesmos que você tanto criticava) para migrarem para o seu pseudo-terreiro. Além de anti-ético, isso é muito feio. E além de tudo, você vai (tentar) tirar alguém de uma casa para levar para onde, se ainda não teve culhão (além de preparo) para montar um terreiro?

Enfim, tenha ética.

Douglas Fersan
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segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Por que me ajoelho? - Douglas Fersan

Eu me ajoelho porque reverencio Deus, supremo criador de tudo e de todos. Porque respeito os orixás, sua manifestação divina e as entidades que caridosamente vêm nos auxiliar. Me ajoelho para pedir perdão pelas minhas falhas. Me ajoelho pedindo pela saúde, sorte e segurança daqueles que seguem (ou não) a minha fé. Às vezes me ajoelho por aqueles que frequentam uma casa de caridade mas, pelas costas, falam mal das entidades, dos dirigentes, dos seus irmãos-de-fé. Usam o tempo livre para criticar a casa que um dia lhes abriu as portas. Ajoelho por eles pois ainda não aprenderam o significado de tirar os sapatos e pisar um solo sogrado - ou sequer sabem o que é isso.

E me levanto, porque Deus. supremo criador de tudo e de todos, os orixás, sua manifestação divina, as entidades, que caridosamente vêm nos auxiliar, cada irmão-de-fé que se entrega dia a dia, semana a semana, não me deixar perder a fé. Me levanto porque apesar das línguas maledicentes e dos olhos que procuram defeitos e jamais apontam soluções, existem aqueles que são fiéis a quem lhes abre as portas. Porque assim devem ser as portas: abertas a quem precisa, mesmo a quem um dia vá pagar com ingratidão o bem que recebeu.

Douglas Fersan
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segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Os mitos como representações da transmissão do conhecimento - fonte Ôro Orum

Mito não é verdade. Também não é mentira. É uma representação. Uma forma de interpretar algo. Ou um conto que carrega mensagens, significados, representações de acordo com a cultura, a ética e a visão de mundo de um determinado povo.

Há muitas coisas em comum entre mitos de diferentes povos. Por exemplo, os mitos da criação. Em quase todos os mitos da criação que encontramos em livros e sites o homem tem origem do barro. Como “Adão e Eva” por exemplo. O barro por sua vez é a junção de dois dos quatro elementos básicos: água e terra. Enquanto o fogo e o ar são relacionados à energia vital, ou o sopro da vida.

Muitos povos criaram mitos diferentes para transmitir seus conhecimentos e visão de mundo. Um dos povos que mais se destacaram por seus complexos mitos foi o povo grego. “O Mito da Caverna” é um ótimo exemplo de como os pensadores gregos tratavam do apego aos bens materiais, da alienação do ser - humano. ( Para compreender a essência básica do MITO DA CAVERNA assista: http://www.youtube.com/watch?v=csXLZw4amUM).

O mitos Yorubás são a base mitologia africana. Consistem em uma centena de contos, histórias, passagens da vida dos Orixás, que carregam um vasto conhecimento sobre a essência da religião. Passagens diversas de todos os Orissás contêm ensinamentos sobre as regências de cada um; sobre suas personalidades; sobre suas fraquezas e seus domínios.
A ética que permeia a crença africana é é transmitida e ensinada através desses mitos, ao contrário do Cristianismo que estabelece verdades através da Bíblia e suas interpretações, dando ao mito de Adão e Eva a validade de uma verdade absoluta.
No culto aos Orixás os mitos não são verdades absolutas. A crença africana não defende isso. Não precisa disso. Tais mitos são a fonte de transmissão e compreensão da essência dos Orixás. De seus ensinamentos.

Fonte: Ôro Orum

domingo, 3 de agosto de 2014


A Umbanda é musical, a Umbanda tem ritmo.
Ao entrar pela primeira vez em um templo de Umbanda muitos se deslumbram com a musicalidade dos pontos cantados e o consequente acompanhamento, pelos filhos de fé, que felizes batem palmas. Esse gesto parece, a princípio, apenas o acompanhamento daqueles que estão à vontade, felizes e interagindo com a curimba (atabaques) da casa. Mas não é não simples assim.

Ao bater palmas, ativamos os chacras localizados em diversos pontos das mãos, entramos em sintonia com a curimba, que deixa de trabalhar sozinha e passa a ter o apoio da corrente e assim conseguimos alcançar esferas espirituais às quais necessitamos para aqueles trabalhos.

O ponto cantado é uma prece, a curimba é a cadência que leva essa prece ao astral e traz o seu retorno, e as palmas ativam a energia dos chacras de cada membro da corrente (e até da assistência) para que haja fluidez nos trabalhos.

Portanto, cada um, mesmo sem perceber, desempenha um papel importante dentro da grande engrenagem que é uma gira de Umbanda. Ser um "médium samambaia" (daqueles que ficam estáticos, parados e nem se mexem) não condiz com o que necessitamos para o bom desenvolvimento dos trabalhos. Tarefas aparentemente simples e espontâneas, como bater palmas são muito importantes para o bom andamento dos trabalhos. Faça a sua parte e terá um retorno espiritual maior.

Douglas Fersan
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