quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Deus tem muito bom humor - por Jairo Pereira Jr
Deus tem muito bom humor!
Muito me admira os seres humanos que acreditarem que seriedade não está ligada ao senso de humor.
Digo isso, pois a maioria das vezes, a seriedade está ligada à sisudez, ao mau humor e a ditadura e rigidez de humor. Isso para mim é inconcebível.
Analise o mundo, as pessoas, os animais e a natureza. Quer uma prova? Darei várias. Mas veja que para demonstrar o bom humor de Deus pegarei exemplos concretos de animais, por exemplo.
O Ornitorrinco é um exemplo do bom humor de Deus. Um mamífero que tem pé e bico de pato, é peludo e bota ovos só pode ser piada. Quer mais? Faça uma pesquisa sobre animais exóticos e esquisitos. Você encontrará o Aye Aye, a Alpaca, o Tarsier, o Bico de Tamanco entre outros. Isso mostra o bom humor de Deus.
Acha pouco? Quer um exemplo no mundo vegetal? Frutas que brotam em locais diferentes sendo praticamente de mesma origem. O morango, por exemplo, nasce em vegetação rasteira, já a cereja em árvores enormes. É uma disparidade ou bom humor? Mas o humor, não está em observar as disparidades?
Alguns me chamarão de herege, que esses animais e plantas são parte da evolução das espécies e que estão aí explicados pelas teorias de Darwin. Não importa. Mas que os bichos são engraçados são, ué! Que tudo podia dar em arvora também podia, uai!
O mais engraçado de todos, ao meu ver é o ser humano. Arrogante, prepotente, acredita ser o único ser pensante de todo o universo. Diz ser a imagem e semelhança de Deus e ao menos entende o seu bom humor e sua sutileza.
Não entende o contra-senso que é um universo inteiro e infinito para ser explorado e povoado, e acreditar piamente que só este pequeno planeta ínfimo e insignificante é habitado. Além de um grande senso de humor de Deus, seria uma baita perda de tempo.
Mas voltemos a analise de sisudez humana e sua falta de humor.
No âmbito religioso, pois este é o objeto desse artigo, vemos que os templos evangélicos, as igrejas, as sinagogas e as mesquitas estão repletos de gente assim.
E não pense você que é somente dos pregadores que isso parte, pois a maioria das vezes parte dos fiéis ali presentes. Pessoas incapazes de observar que a bondade, a generosidade, a sapiência e o amor de Deus está também pautado no seu bom humor, no seu senso de humor.
Mesmo nos terreiros do Brasil afora, Pais e Mães de Santo (ou dirigentes espirituais, como querem alguns politicamente corretos) exibem sua seriedade dom certa rispidez, aspereza e falta de modos não exibindo o bom humor que um trabalho voltado à caridade merece.
Note irmão que, bom humor não significa gracinhas ou baderna, mas sim um estado de espírito em que as coisas do cotidiano podem ser encaradas por um ponto de vista diferente e de forma diferente, ou seja, podem e devem ser vistas pelo lado bom da coisa, da aprendizagem, do acúmulo de experiência e da observação do bem comum.
Sendo assim, peço a todos que encarem a vida com bom humor, pois esta será sua garantia de que a vida foi bem aproveitada, que foi vivida plenamente e que a plenitude dessa vida está em rir das coisas ruins do cotidiano.
Acredite ainda que, de bom humor, você estará mais próximo de Deus.
Jairo Pereira Jr. - 2010
Professor de Economia e Matemática
37 anos, casado, 2 filhos e Umbandista
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Umbanda e inclusão social - por Alexandre Cumino
Já faz tempo que queria escrever sobre esse tema, da relação da inclusão social com a Umbanda.
A partir de arquétipos daqueles que são historicamente excluídos, inclusive por aqueles que eram legalmente excluídos, como o preto velho (arquétipo do negro escravo) e do caboclo (arquétipo do índio). Hoje não há mais uma exclusão legal, todos são iguais perante a lei, no entanto, há outras formas de exclusão, principalmente a decorrente da condição socioeconômica e também da discriminação com que alguns são tratados.
Por exemplo, aqui na região Sudeste, mais especificamente São Paulo, um grande preconceito contra o nordestino é fato. E é justamente nessa cidade e estado que se trabalha com a linha dos baianos. Temos também na Umbanda a linha dos ciganos, que por muito tempo estiveram à margem da sociedade; eram qualificados com os piores adjetivos, como “ciganos é ladrão de criancinhas”.
As crianças, que muitas vezes são tratadas sem o devido cuidado, aqui também recebem posição de destaque, assim como o idoso, o “velho”, que sempre é sinônimo de sabedoria e tratado com muito mais amor que boa parte dedica realmente a seus avós e bisavós quando os tem. Marinheiros, boiadeiros, cangaceiros, piratas, exus, pombagiras e malandros. O marginalizado passa por uma re-significação de valores dentro da Umbanda. Mesmo um cangaceiro que em vida representou morte, medo e terror, agora pode vir trabalhando para ajudar e proteger; um malandro não é vagabundo, e sim aquele que nos ensina a passar com “jogo de cintura” e bom humor as maiores dificuldades; exu e pombagira são guardiões do templo e da religiosidade; boiadeiros e marinheiros, todos têm o seu valor. Por mais que tenham errado, ainda assim possuem qualidades e virtudes e é por meio delas que vamos buscar o que há de melhor a oferecer ao próximo.
Aprendemos que nosso valor não está na roupagem, não está na cor da pele ou dos olhos ou mesmo na orientação sexual. Nosso valor está na vida e no outro, em nossas atitudes perante a vida e perante o semelhante, por mais diferente que ele seja, todos temos uma essência original em comum, todos somos irmãos. Tudo isso aprendemos na Umbanda, uma religião que não exclui nada nem ninguém, a religião da inclusão em todos os sentidos. Justamente pelo fato de nos sentirmos excluídos em muitas situações em que outras religiões ganham destaque, como no cenário político, por exemplo, por sua força de pressão.
Nós umbandistas desenvolvemos um grande senso de justiça e também o bom senso para ver o diferente com olhos de amor, pois somos também a religião dos diferentes. Enquanto muitas religiões hoje pregam discriminação e preconceito, que alimentam homofobia e agressões de todos os tipos, a Umbanda nos ensina a respeitar as diferenças.
Uma criança que cresça no ambiente de Umbanda desde cedo aprende a amar o diferente em todos os sentidos e é incentivada a pensar a religiosidade de um ponto de vista racional e emocional ao mesmo tempo. Racional pois tudo tem um porquê de ser e emocional pois há uma dimensão mística na profundidade de experiência religiosa de Umbanda que nem sempre dá para ser explicada.
Poderia me estender muito mais ainda, no entanto o objetivo aqui é chamar a atenção para algo muito grave que vem acontecendo, pois há tempos estamos alertando a sociedade para uma guerra religiosa que vem sendo travada contra nós, mas que vem se estendendo a todos que sejam diferentes dos intolerantes e fundamentalistas religiosos que vêm dominando o quadro social e político no Brasil.
Pouca atenção e pouca mídia se tem dado aos fatos de agressão sofridos por adeptos dos segmentos afro-brasileiros. Com o tempo os estragos tendem não só a aumentar não só na quantidade, como no raio de ação.
Pouca relação se faz entre ataques de homofobia e religião, mas é fato que muitas religiões não aceitam uma diferente orientação sexual.
Temos visto em todas as escalas de valor social o desrespeito e a agressão, que muitas vezes começam com o “bullying” nas escolas entre crianças e termina em casos de polícia entre adultos que tiram as vidas uns dos outros apenas por não aceitarem que o outro seja diferente.
Na Umbanda somos moldados a uma postura inclusiva, naturalmente somos lapidados. Qual preconceituoso, soberbo, arrogante, vaidoso que não muda ou começa um processo de mudança ao tirar os sapatos e ajoelhar aos pés de um preto velho como última esperança para suas “urucubacas”, “ziqueiras” e outras “coisas feitas” que muitas vezes ele mesmo se fez ao agredir o outro com sua postura? Quem não aprende humildade, simplicidade e respeito ao outro na Umbanda, ainda não aprendeu nada...
Alexandre Cumino
Publicado originalmente no Jornal de Umbanda Sagrada (JUS)
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
A Umbanda não tem nação - por Heldney Cals
Esta afirmação pode parecer estranha, mas vou explicar. Dentro da realidade que vivo na Umbanda, recebo muitas vezes a pergunta: qual a nação do seu terreiro/casa/templo/Ilê/etc.?
E eu respondo sempre: portuguesa.
Pois foi aqui, em Portugal, que ele nasceu.
Claro que eu entendo a pergunta.
Respondo assim para ver qual a reação das pessoas e para depois poder explicar.
E, normalmente, a reação não é nem um pouco favorável.
É do gênero: “Você deve estar a brincar!”, “Estou vendo que você não entende nada de Umbanda!” e por aí fora. Não é segredo para ninguém que a Umbanda é de nacionalidade brasileira, como também não o é que o espiritismo é francês, a igreja apostólica é italiana, ou melhor, romana, o budismo indiano, etc. Mas o que eu explico é que a Umbanda não é culto de nação, por isso ela não tem nação. Claro que tem, respondem-me uns até um tanto ofendidos. E eu volto a dizer que não. E isso não quer dizer que tenho algo contra o culto de nação, pelo contrário, respeito-os muito. O que eu quero é apenas esclarecer um pouco da confusão existente.
A Umbanda pode ter, e tem, influências de vários cultos de raízes afros, mas não tem e não é culto de nação. Esta confusão é bastante comum, e eu entendo bem isso, mas quando eu pergunto:
_ Você sabe quem fundou a Umbanda?
_ Você conhece a sua história?
A resposta é sempre afirmativa.
Então eu pergunto:
_ E qual é, ou era a nação de Pai Zélio de Morais? Ou da Tenda N. S. da Piedade?
A resposta é um silêncio.
É um silêncio, porque não tem!
Umbanda é Umbanda, culto de nação é culto de nação e ponto.
Um Terreiro de Umbanda pode ou não ter uma ação mais africanista do que outro e isso não quer dizer que estão escurecendo ou branqueando a Umbanda. Estão-se utilizando de métodos, de outras influências que, dentro do cosmos universalista da Umbanda, se adaptam e até se encaixam. Porém, se a Umbanda recebeu influências de cultos afros, ela também recebeu de cultos europeus e americanos.
Essas influências não podem ser consideradas como uma qualificação do culto, porque
senão teríamos Umbanda de Angola, Umbanda de Kêto, Umbanda de Gêge, Umbanda da
França, da Itália, do Brasil, de Portugal, indígena, etc.
A Umbanda tem uma nacionalidade, brasileira, porque nasceu ou foi fundada em solo brasileiro, mas tal como outras religiões e filosofias, popularizou-se, difundiu-se, espalhou-se e
hoje está no mundo, é universal e, como tal, adapta-se ao meio e condições onde se manifesta, sem profanar ou distorcer as suas raízes.
Assim, afirmo e repito: a nação do meu terreiro é portuguesa, porque nasceu aqui, em
Portugal, tal como existem terreiros franceses, americanos, suíços, brasileiros, etc. E continuo
afirmando, sem a intenção de querer ofender ninguém, mas esclarecer e desabafar: a Umbanda não tem Nação! Da mesma maneira que não tem linha ou cor.
Porque é que eu digo isto?
Porque as pessoas me perguntam: a sua Umbanda é de linha branca?
Tal como a pergunta da nação, eu entendo o que querem dizer. Estão perguntando se a minha Umbanda só faz o bem. A Umbanda não pratica nem pode praticar o mal, senão deixa de
ser Umbanda para ser outra coisa qualquer. A Umbanda está para nos auxiliar nas nossas
aflições, está para nos ensinar, nos mostrar um caminho, nos fazer crescer, melhorar, nos
conhecer. A Umbanda não é de linha branca, preta ou vermelha, a mais pesada de todas,
segundo algumas pessoas! Bom, deve ser porque a cor vermelha está associada à Justiça e à Lei Maior e, quando ela cobra as nossas faltas, deve ser um bocado “pesado”.
A Umbanda tem sete linhas, tem sete luzes, tem cores; a Umbanda tem muito amor, muita paz, alegria, muita felicidade.
Por isso, volto a afirmar: a Umbanda não é de linha branca, preta, verde ou vermelha; a Umbanda não é de Angola, não é de Kêto, não é de Nagô, não é de Gêge.
A Umbanda é de todas as cores, de todas as raças, de todos os povos.
A Umbanda só é Umbanda quando está no coração, essa sim, a verdadeira nação umbandista.
Por: Heldney Cals. País: Portugal. www.amadeus.pt.to / www.portais-pt.com
Publicado originalmente em www.jornaldeumbanda.com
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