terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Como lidar com diferentes pessoas num terreiro? - Por Pai Rodrigo Queiroz

Me questionaram sobre como é que faço para lidar com as diferentes pessoas dentro de um Templo e as formas de trato com o outro e se realmente eu me relaciono com todos igualmente.

Respondi que não, não é possível agir igualmente com todos.

Após a expressão de susto pela sinceridade, o interlocutor ficou meio sem palavras e arriscou: - Mas então existe predileção da sua parte. Tem aqueles mais queridos e os menos queridos.

Respondi que não, seria uma estupidez da minha parte. Realmente são todos igualmente queridos e acolhidos.

Ainda mais confuso, ele balbuciou: - Mas então... não compreendo...

- É simples, sou um reflexo, se por um lado aquelas pessoas enxergam em mim alguém para se associar, seguir ou acompanhar, então de alguma maneira reflito aquilo que querem ou precisam no campo da Fé.

Mas já no convívio interno não há como ser diferente, de modo que:
Aquele que me reconhece como um Pai Espiritual, eu o abençoo como um filho de fé;
Aquele que me reconhece como um irmão, eu o acolho como irmão;
Aquele que me reconhece como um professor, eu o instruo como aluno;
Aquele que não me reconhece, eu simplesmente o desconheço.

É simples, na relação humana, nós damos o que recebemos, este é o espírito do convívio social, humano, espiritual. RECIPROCIDADE.

O contrário disso, pode ser doloroso para alguma das partes e desonesto na maioria das vezes.

Pai Rodrigo Queiroz
Dirigente ICA - Instituto Cultural Aruanda.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

O mensageiro dos orixás - por Douglas Fersan

Exu é o mensageiro entre o Orum (mundo espiritual) e o Aiyê (mundo material).
Justamente por isso, ao se fazer um pedido aos orixás, costuma-se primeiramente fazer uma oferenda a Exu, para que ele leve o pedido dos homens até os seus destinatários.

Nesse caso, deve-se tomar um cuidado especial para não confundir o Exu (orixá cultuado na África e nos Candomblés) com o exu catiço, o espírito desencarnado, que trabalha na lei de Umbanda e Kimbanda em busca de sua evolução. Ambos possuem seu valor, mas são entidades diferentes.

Mas a ambos pedimos proteção. Uma nova semana está chegando. Novos desafios surgirão, momentos de decisão no exigirão respostas. Que Exu, tanto o orixá quanto o catiço, estejam guiando nossos passos no caminho da verdade, da justiça e do bem, a fim de que possamos progredir, com o seu auxílio, enquanto seres carnais e espirituais.

Laroyê Exu.

Douglas Fersan
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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Palavras do Pai João Benedito - por Douglas Fersan


No cativeiro tive a oportunidade de sofrer para valorizar a felicidade. Antes eu achava que eu tinha o direito de ser feliz, se o outro não era, o problema não era meu. Sob o açoite eu aprendi o valor de cada minuto de felicidade e aprendi a ficar feliz quando sabia que um irmão havia escapado do cativeiro e não estava mais sofrendo.

Aprendi a dar valor a cada coisa que eu achava pequena.

Quando vinha a noite eu estava com o corpo dolorido de tanto trabalho, mas aproveito o tempo que tinha para venerar meus orixás. Às vezes fazia isso em silêncio para não incomodar meus companheiros de cativeiro, e ia rezando até o sono me dominar. Aprendi o valor da fé e aprendi que não preciso fazer rituais barulhentos para que meu orixá sinta as minhas preces.

Fui resignado, e por assim ser, fui criticado até por meus irmãos de cativeiro. Muitas pedras recebi, tanto alguns irmãos negros, que não aceitavam minha resignação, mas principalmente dos opressores que queriam a força do meu trabalho, mesmo quando minhas costas já estava arqueadas, os braços fracos e as pernas doloridas.

Com as pedras construí uma muralha. Usei minha fé para cimentar uma pedra à outra e assim resisti até o dia em que Olorum me permitiu viver nessa terra. E foi com grande alegria que aceitei a tarefa de voltar como energia espiritual, para ensinar o que aprendi com os anos na escravidão. Não me sinto mais sábio, mas aprendi a valorizar cada momento, seja de alegria ou tristeza, e a entender que cada um deles nos ensina uma lição. Hoje o que eu faço é ajudar os filhos da terra a entender essas lições.

Pai João Benedito

Douglas Fersan
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sábado, 8 de fevereiro de 2014

Filhos de umbandistas - por Douglas Fersan


Nós umbandistas temos uma grande responsabilidade nas mãos. Apesar do Brasil ser oficialmente um país laico, suas instituições, incluindo as escolas, serem laicas pela lei, sabemos que não é bem isso o que acontece. Temos plena consciência de que não somos a maioria na sociedade e, justamos por sermos minoria, é que temos que saber como nos defender. Orientar nossas crianças é fundamental, para que não sejam vítimas de preconceito ao declarar a sua religião ou a religião de seus pais.
Assim como o negro deve assumir com orgulho a sua negritude, assim como como estrangeiro deve assumir a sua identidade cultural diversa, assim como o homossexual deve assumir sem medo a sua condição, nós umbandistas também devemos assumi - e com muito orgulho - a nossa religião.

Alguns dirão que não assumem porque a sociedade é preconceituosa. Pois esse preconceito ficará cada vez mais forte enquanto nos escondermos sob esse argumento.  Filhos de umbandistas não precisam esconder a religião que seus pais praticam. E não devem (e nem podem) ser discriminados por isso.  Portanto, já passou do tempo de orientarmos nossos filhos quanto a isso. Quanto a se defender da ótica preconceituosa que lançam sobre nós.  É preciso orientar as crianças sobre como agir em caso de preconceito.  Aliás, não somente em relação ao preconceito, mas caso sejam aliciadas e/ou intimidadas por seguidores de outras religiões.

Jamais vou exigir que meu filho seja umbandista. Essa será (ou não) uma opção dele. Mas também não quero que o tentem converter a outra religião. Isso também será opção dele.  Mas enquanto estiver sob a minha tutela, como pai vou ensinar os meus valores. Vou ensinar que existe um Deus supremo, seus orixás e entidades que trabalham para o bem.  Assim como o católico leva o seu filho à missa, vou levar o meu á gira, para que ele saiba o que o pai dele faz. E mais, para que saiba que o que o pai dele faz não é errado e nem coisa do demônio, como certamente alguém dirá a ele um dia. E quero que ele tenha argumentos para se defender e para me defender.

Acredito que ensinar que nossa religião é voltada à prática do bem e da caridade e que visa a própria evolução enquanto ser humano, é primordial. Se tento ensinar aos meus filhos-de-fé o quanto a Umbanda é uma religião bonita, por que não farei isso com o meu filho de sangue?  Sinto-me no dever de mostrar isso a ele. E isso não significa impor valores, significa mostrar a realidade que vivo.

Se o católico manda seus filhos para o catecismo, se o protestante manda os seus para a escolinha dominical, por que não posso ensinar ao meu filho a beleza da minha religião?  E mais que isso, deve ensiná-lo a se defender do preconceito que terão sobre ela e sobre quem a pratica.  Tenho que ensiná-lo que a escola é laica e não pode tratar a nossa religião como folclore.  Tenho que ensinar que o Estado e todas as suas instituições são laicas.  Tenho que ensiná-lo através do exemplo que sou umbandista e que isso me ajuda a ser uma pessoa de bem e que faz o bem, para que ele cresça acreditando na própria potencialidade de trabalhar na prática do bem, sendo umbandista ou não.

Douglas Fersan
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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Ibejis tocam tambor e enganam a morte - por Douglas Fersan

Ibejis tocam tambor e enganam a morte

O trecho a seguir é uma pequena parte do curso "Lendas dos Orixás" que em breve o Templo de Umbanda Lar de Preto Velho estará ministrando. São várias lendas, cada uma trazendo um ensinamento. Aprecie essa sobre os Ibejis.

  Iku (a morte) havia espalhado diversas armadilhas pela florestas. Homens e mulheres, jovens e crianças morriam indistintamente, caindo nas armadilhas de Iku. O povoado estava em pânico. Foi então que os Ibejis, traquinas como sempre, tiveram uma ideia. Cada um pegou um tambor e saiu tocando pela floresta, mas enquanto um tocava, o outro se escondia e silenciava.  Foi quando deram de cara com Iku, que não resistiu ao ritmo contagiante do tambor e começou a dançar freneticamente.  Quanto mais a morte dançava, mas o Ibeji tocava e quanto mais o Ibeji tocava, mas a morte dançava.

   Iku dançou até ficar exausta. Começou a lhe faltar o fôlego. Já não suportando mais, Iku pediu que o Ibeji parasse de tocar, acreditando que ele também estivesse cansado, mas sem que Iku percebesse, o outro Ibeji tomou seu lugar e começou a tocar... e Iku não conseguia parar de dançar.  E assim fizeram por horas e horas seguidas, sem que a morte percebesse que eles se revezavam no toque do tambor.

Iku não aguentava mais aquela tortura, então implorou aos Ibejis que parassem com aquele batuque. Então os Ibejis disseram que só parariam se ela fosse embora dali, levasse todas as armadilhas e deixassem as pessoas viver em paz.  Não tendo alternativa, Iku aceitou a proposta dos Ibejis e foi embora daquele povoado. A partir daquele dia eles passaram a ser vistos como heróis e curandeiros da tribo.

Já a explicação e o debate sobre o significado dessa lenda (e das outras) acontecerão durante o curso.  Participe.

Douglas Fersan.
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terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Iniciantes, hierarquia e fundamentos - por Douglas Fersan

É muito comum o iniciante de Umbanda empolgar-se com a religião. As velas coloridas, a roupa branca, a dança dos orixás e das entidades, o som dos atabaques, os pontos cantados... tudo isso contribui para que se crie uma aura de fascinação.

Porém o iniciante deve ser tratado como uma pedra bruta a ser lapidada até que se torne um diamante.  Todo carinho e cuidado com ele são poucos.

Tão comum quanto a empolgação do iniciante é a sua possibilidade de colocar o carro na frente dos bois.  O sujeito frequenta a Umbanda há apenas alguns meses, apenas sente a irradiação de seus orixás, sem incorporá-los de fato, e rapidamente já faz propaganda do "poder da sua mediunidade" e sai por aí dando atendimentos privados fora do terreiro, "à la carte", sem imaginar o risco que expõe a si e àqueles a quem presta atendimento.  E quem nunca viu uma situação dessas que atire a primeira pemba.

Claro que procuramos entender que se trata de uma empolgação até mesmo no sentido de fazer o bem, mas não podemos negar que há aí também um (grande) ranço de vaidade, de mostrar que não a Umbanda ou as suas entidades, mas que a sua mediunidade o faz quase um super-herói.

Por isso é bom dizer novamente, que o neófito deve ser tratado como uma pedra bruta até que se torne um diamante. Caso contrário esse mesmo médium que um dia poderia se desenvolver se tornar um excelente trabalhador a serviço do bem, se tornará um médium vaidoso e rebelde, não respeitando a hierarquia do terreiro e nem mesmo os fundamentos da Umbanda, pois seu orgulho vai impedi-lo de entender que a hierarquia é necessária (o dirigente está lá por determinação do astral, e não por eleição ou aclamação) e que os fundamentos existem - para ele existirá apenas o que entender como correto, sem buscar explicações concretas para os fatos.

Um dia esse médium se rebelará contra seus irmãos-de-fé e, ainda que inconsciente, contra os próprios fundamentos da Umbanda, pois achará que ele, o super-médium é o único correto.  E pior ainda, se afastará do caminho correto, arrumará um espaço que passará a chamar de "terreiro de Umbanda" e passará a atender os necessitados à sua maneira, mas por não conhecer os fundamentos mais básicos, acabará mais prejudicando do que ajudando.  Aos outros e a si mesmo.

Douglas Fersan
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domingo, 2 de fevereiro de 2014

Oriki a Iemanjá


Iemanjá, de dentro das água, responde com o bem.
Minha mãe, que pode ser chamada para trazer prosperidade.
A que sorri elegantemente, tu és minha senhora.
Louváveis são os passos de teus pés.
Dona do meu orí. A água que traz prosperidade não falta em nossa casa.
Água em abundância.
Iemanjá,firme como a montanha,nela podemos nos apoiar.
Possui casa formada por muitas águas.
Orixá que cura doenças com água fria.
Que cura as doenças sem pedir sangue aos familiares do doente.
Iemanjá, que melhora o mau ori.
Melhora mais e mais o meu ori, até o fim da minha vida.

Odoyá

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