quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A linha dos baianos


Durante minha caminhada como umbandista, tive a oportunidade de conhecer a amada linha dos Baianos e suas entidades que representam toda a alegria e descontração de um povo que mesmo tendo uma vida sofrida e cheia de dificuldades quando encarnados, traz toda a esperança e fé em dias melhores, numa mensagem de positivismo, humildade e por vezes com muita braveza.

Por muitos anos e em muitas casas a linha dos Baianos não era aceita, pois havia o argumento que logo surgiriam outras linhas com nomes de estados, porém, o que se notou foi que mesmo entidades que num determinado momento que encarnaram em outros estados do norte e nordeste brasileiro, tendem a fazer parte desta linha de trabalho.

Um exemplo disso é o Sr. Zé Pelintra, que ao que tudo indica nasceu no estado de Alagoas e que geralmente vem na linha de trabalho dos Baianos.

Veja que, esta linha é uma linha de trabalho comum em São Paulo, enquanto em outros estados trabalha-se mais com a linha dos Malandros, em que também se tem a presença do Sr. Zé Pelintra.

A linha dos Baianos é excelente para atuar na quebra de demanda e atuam tanto na Direita como na Esquerda e, quando isso acontece, algumas casas denominam como sendo a “virada de Baianos”.

Baianos que conheci durante essa caminhada entre eles, Maria do Coco, Severino, Zé do Coco, Sr. Zé Pelintra ou o primeiro que tive contato que simplesmente denominava-se Baiano, entre outros, deram-me lições de vida impressionantes, como o senso de justiça, a humildade, a simplicidade, a fé e a alegria de viver mesmo com todas as dificuldades.

Mostraram-me que ter autoconfiança é extremamente importante, porém não deve ser confundido com auto-suficiência. Mostraram, ainda, que a fé deve ser pautada num momento de lucidez e não usada como muleta. E que a espiritualidade esta sempre atenta e alerta para ajudar aqueles que se ajudam.

Esta linha, boa de papo, boa de história, boa de ensinamentos e boa de trabalho, faz com que nossas giras fiquem alegres toda vez que eles nos brindam com sua presença.

SALVE O GRANDE CRUZEIRO DA BAHIA, MEU PAI!!!


Jairo Pereira Jr. - 2009
Professor de Economia e Matemática
35 anos, casado, 1 filha e Umbandista

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

E surgiu a Umbanda - Douglas Fersan


Entender a Umbanda é entender o Brasil. Um país rico em variedades étnicas e culturais só pode ser resultado de uma intensa miscigenação ao longo de seu processo de formação histórica e que ainda hoje mostra-se em movimento. Diversos elementos contribuíram para a formação desse imenso país e essa variedade de costumes que o caracteriza. Do seu elemento étnico primordial – o indígena – pouco restou, levando-se em conta o massacre de que foram vítimas, no entanto, herdamos vários de seus costumes e crenças, dos quais podemos destacar diversos topônimos e o uso de ervas para fins ritualísticos e medicinais. O colonizador europeu não tardou a impor seus hábitos e crenças, assim, o catolicismo e toda sua liturgia foi introduzido no Brasil, passando a fazer parte da própria identidade nacional. Mais um elemento incorporava-se à massa humana e cultural que formava nossa população. Grande e inegável contribuição para esse processo foi dada pelos negros, que vieram cativos da África. Proibidos de realizar seus cultos, nos quais adoravam os Orixás – divindades provenientes do panteão africano – trataram logo de encontrar um subterfúgio para garantir a sobrevivência de sua crença: associaram os Orixás aos santos católicos, assim podendo realizar seu culto sem interferência violenta de seus patrões. Foi criado então, o sincretismo entre santos católicos e Orixás africanos e, dessa maneira, os negros deixavam fincadas suas raízes, de forma definitiva, na cultura brasileira – era mais um elemento que se agregava. Mais tarde, já na segunda metade do século XIX, em plena febre do positivismo europeu, surge na França, através do pedagogo Hippolyte León Denizard Rivail (que tornou-se conhecido com o codinome de Alan Kardec), a Doutrina Espírita ou Espiritismo, que tenta levar a comunicação com os espíritos à luz da ciência, além de definir padrões morais e filosóficos sobre questões como a morte, pecado, culpa e carma. Essa nova doutrina encontrou vários adeptos entre a classe média brasileira, e assim, o Espiritismo tornou-se mais popular no Brasil do que em seu país de origem. A população brasileira, no entanto assimilou todos esses elementos e, salvo casos em que o sectarismo não permitia, criou um verdadeiro emaranhado de todas essas crenças e, mesmo quem se declarava católico “praticante”, não titubeava em procurar uma benzedeira ou fazer uma simpatia. Ao contrário do que pode parecer, isso não significava a falta de uma identidade definida, era a própria identidade nacional que se definia. Dessa maneira, variados cultos proliferaram pelo Brasil afora – como o Catimbó e o Xangô (o culto, não o Orixá) - no Nordeste, e as macumbas cariocas, quem embora não fosse designada como Umbanda, já apresentava todo o esboço de sua liturgia. Embora o Espiritismo estivesse inserido na mentalidade da população brasileira, ele era praticado principalmente pela classe média, que carregava consigo seus conceitos e preconceitos. Foi dentro desse contexto que o jovem Zélio Fernandino de Moraes, em 1908, contando então com dezessete anos de idade, incorporou, em uma mesa espírita, o Caboclo das Sete Encruzilhadas (um espírito indígena) que, diante da reação dos presentes, que não aceitavam a manifestação de espíritos de índios e negros, declarou que estava fundada ali a Umbanda, “uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados”. Para muitos esse fato é tido como a fundação da Umbanda, para outros, ela já existia, na prática, há muito tempo, sendo essa passagem apenas mais uma manifestação de um caboclo, espírito tão comum em seus rituais. A verdade é que, sendo o Caboclo das Sete Encruzilhadas o fundador ou não, a Umbanda é o próprio retrato do Brasil, do processo histórico que o marcou tão profundamente, dos povos que o construíram, da identidade que assumiu para si. Assim como o povo brasileiro, a Umbanda é diversa, contendo em si elementos de todas as crenças que existem no país – a pajelança, o culto aos Orixás, o Catolicismo, o Espiritismo. Ser umbandista é ser brasileiro em sua essência, é carregar consigo cada traço e cada cicatriz do povo que construiu o Brasil, suas crenças, seus hábitos e sua fé. Do primeiro contato entre os diferentes povos e sua diversidade surgiu a Umbanda, ainda hoje presente de maneira discreta em todas as regiões do país.
Fonte: Região em Destaque
Autor: Douglas Fersan
Artigo publicado no jornal Região em Destaque em 14/01/2009

Arquétipos, um estudo interminável - Jordam Godinho


É incontestável que muito falamos sobre os arquétipos dos Orixás a nossa personalidade, a relação entre nós seres humanos e imperfeitos com estes seres naturais é objeto de discussão dentro das religiões de matrizes africanas, mas também pela psicologia.

Jung por exemplo fez diversas pesquisas sobre o assunto e “em suas investigações científicas em torno da mente humana profunda, Jung se deparou constantemente com o fenômeno religioso que chegou a prender seu interesse de tal forma a ocupar um lugar central nos escritos do cientista, especialmente os dos últimos anos. Mantendo-se num plano rigorosamente científico, ele observou acurada e conscienciosamente toda espécie de manifestação daquilo que podemos chamar de fator religioso, tomado em sua amplidão universal, abrangendo, portanto, as representações religiosas tanto do homem primitivo bem como as formas diversas de religiões que se manifestaram nas fases mais avançadas da cultura humana ao longo dos séculos. Após essas investigações, Jung sentiu-se obrigado a reconhecer, “como conteúdos arquétipos da alma humana, as representações primordiais coletivas que estão na base das diversas formas de religião”. Mesmo sem nunca ter falado expressamente de Deus com o propósito de demonstrá-lo, Jung, nesse estudo, admite na estrutura profunda da mente humana uma potencial idade nata que impulsiona o ser humano a procurar a Deus e com ele se relacionar através da religião. A importância desse assunto, analisado pelo enfoque psicológico, adquire maior interesse por ser tratado por C. G. Jung, pioneiro insuperado nas pesquisas da Psicologia Profunda.”(1)
Por outro lado a Umbanda diz que “os arquétipos são representativos das questões sociais, como também em estruturas comunitárias alojadas em sociedades contemporâneas mais complexas. Eles também podem estar ligados a fases de nossas vidas, representado como estrutura familiar, comportamento individual de personalidade, ou ligados a profissões e ações sociais.”(2)
Para exemplificar poderíamos dizer que na fase da vida Oxum esta ligada a fertilidade, como também a jovem e bela mulher vaidosa, que Oxalá é o patriarca de uma família junto com Iemanjá sua matriarca, que Ogum apesar de guerreiro é dono de um temperamento duro e instável, e que Xangô esta ligado a questões jurídicas, e Oxossi aos negócios comerciais.(2)
Pierre Verger analisou pela ótica do Candomblé de uma forma social e abrangente:
“Com o passar do tempo à concepção sobre o que é orixá no Brasil tende a evoluir. Em se tratando de africanos escravizados no Novo Mundo, ou seus descendentes ai nascidos, sejam eles de sangue africanos, mulatos, ou de pele clara, não havia e não há problemas, pois o sangue africano que correm em suas veias, independente da proporção, justifica a dependência do orixá-ancestral.” (3)
Gisele Cossard observa que se examinarem o iniciados agrupando – os por orixás, nota-se que eles possuem, geralmente, traços em comuns, tanto no biotipo, como em características psicológicas. Os corpos parecem trazer mais ou menos profundamente, segundo o individuo, a marca das forças mentais e psicológicas que os anima.(3)
São pontos de vistas distintos cada um sobre uma visão diferente, mas que mostra a riqueza sobre este tema, inclusive traz a tona uma discussão que esta ligada a formação social, espiritual e religiosa, todos no entanto sabem da importância que tem dentro do inconsciente coletivo.
A FORMAÇÃO DO ARQUÉTIPO.
Sem sombra de dúvidas a formação do arquétipo religioso, traz para nós um pouco mais da compreensão deste universo, para que possamos caminhar sobra à luz da formação e elevação espiritual.
Estima-se que um total de 3.600.000 escravos foram transportados da África para o Brasil entre os séculos XVI e XIX (Bastide, 1978: 35), fazendo do Brasil o segundo maior importador de escravos do novo mundo. Durante este período, a população negra escrava era maior que a dos brancos que legislavam. Os escravos vieram principalmente da Nigéria, Daomé (atual Benin), Angola, Congo e Moçambique. Apesar da instituição escravagista ter quebrado as famílias e espalhado grupos étnicos através do país, os escravos conseguiram manter alguns laços com sua herança étnica. Isso aconteceu devido ao fato, entre outros, dos portugueses usarem a política de dividir para governar, separando os escravos em diferentes nações. O termo nações se refere ao local geográfico de um grupo étnico e sua tradição cultural (por exemplo, os que falavam Yorubá da Nigéria eram os Nagô, Ketu, Ijejá, Egba etc.) A conseqüência inesperada dessa divisão foi que o conceito de nação desempenhou um papel importante para a manutenção de várias identidades étnicas africanas e para a transmissão cultural e as tradições religiosas.
Enquanto as religiões afro-brasileiras estavam concentradas no nordeste do Brasil, as correntes religiosas do sudeste tiveram uma importância decisiva na fundação da Umbanda, uma nova religião brasileira. Para a burguesia intelectual branca do sudeste, a França era o maior expoente das mais novas correntes culturais e espirituais. Assim, o Espiritismo de Allan Kardec, que foi praticado primeiro em Paris por volta de 1855 pelo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-69), rapidamente se espalhou no sudeste brasileiro. Essa nova forma de Espiritismo misturava filosofia, ciência e religião. As idéias de Kardec sobre a imortalidade da alma e a comunicação com os espíritos combinavam com o evolucionismo social, o positivismo de Comte, o magnetismo, conceitos Hindus de reencarnação e karma e os ensinamentos cristãos da caridade.

Além do Espiritismo Kardecista, a Umbanda tem um importante predecessor na Macumba. O termo Macumba se refere a várias misturas de afro-brasileiras com outras religiões que se originaram no sudeste brasileiro, especialmente no Rio de Janeiro. Macumba é também um termo depreciativo para baixo espiritismo. Acredita-se que a Macumba se originou no Rio de Janeiro e sua imediações, onde a população dos ex-escravos eram em grande escala do Congo, da Angola e de Moçambique, e foram agrupados de acordo com as nações.
A Umbanda é freqüentemente vista como a maior síntese entre as tradições religiosas Afro-brasileiras e Ameríndias, o Espiritismo Kardecista e o Catolicismo. Por seu sincretismo e caráter eclético, a Umbanda tem sido percebida como uma religião que reúne os vários grupos étnicos brasileiros, sua cultura e tradições religiosas, e assim reflete a miscigenação que compõe a sociedade brasileira. A Umbanda é vista como uma tentativa de formular uma religião nacional, de criar uma religião democrática que seria capaz de unir os vários grupos étnicos e classes sociais.(4)
Assim temos os arquétipos dentro das matrizes afro-brasileira, mas que não termina aqui neste texto, mas traz aqui uma abertura para aprofundarmos mais sobre este tema que tratamos de maneira às vezes inconseqüente, mas que requer desdobramento, o que importa realmente é sabermos que quando falamos de arquétipos não estamos falando simplesmente de qualidades de orixá com relação ao individuo, temos que buscar os pilares que sustentam dentro da religião esses arquétipos.

Axé irmãos........

Fonte de Pesquisa:
(1) CG Jung – Psicologia e Religião
(2) http://naturamistica.com .br
(3) Orixás – Pierre Verger
(4) Pucsp - http://www.pucsp.br/rever/rv1_2001/t_jensen.htm

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

DE$DE QUANDO E ATÉ QUANTO?

Estou na Umbanda a pelo mesmo 5 anos. É um tempo irrisório se comparado a alguns irmãos que estão a 20, 30, 40 anos, ou que simplesmente nasceram dentro de um terreiro.
Durante todo o tempo que freqüento esta religião que amo, sempre ouvi que a Umbanda é caridade. Não se cobra por trabalhos, passes ou ajuda espiritual de qualquer natureza.
Mas o que me faz escrever este artigo são duas coisas que me chamaram a atenção:
1º) Num Chat de discussão sobre Umbanda, um irmão nosso disse que, determinado terreiro cobrava R$ 40,00 por atendimento.
2º) No mesmo dia meu cunhado aparece na minha casa com o CD do saudoso sambista Bezerra da Silva, tocando a música “Pai Véio 171”.
Tudo bem, que tal artigo pode causar polêmica por parte de alguns que defendem a cobrança, mas digo e repito que sempre aprendi que devemos dar de graça o que recebemos de graça.
Recebemos gratuitamente do plano espiritual a missão de médiuns de Umbanda, porque cobrar daqueles que necessitam de ajuda?
Percebi ouvindo a música, que foi escrita na década de 70, que muitos marmoteiros já usavam de sua missão de mediunidade para dar golpe em pessoas desavisadas e menos esclarecidas com os preceitos da religião.
Para quem não sabe do que estou falando reproduzo um trecho da música:

Quê falá com pai véio vem agoraPorque pai véio já quê isse embora (2x)I mai meu fio tú tá todo macumbadoAs piranhas estão te devorandoNão tem um lugar nem prá dormirE ainda meu fio mora andandoEscute o que o véio vai falaE num papé tú vai iscrivinhandoÓi mai me traga oito quilo di feijãoDeis galinha bem gorda e bem peladaDeis quilo de arroz e macarrãoE deis lata de doce de marmeladaDeis garrafa de vinho do bonzãoE a tua mironga tá curadaI mai me traga também um bi e meioQue meu fio vai ganhá grande tesouroVai ser o maior dos fazendeirosVai vendê muita vaca e muito touroSe meu fio não tivé dinheiro vivoPode ser cheque verde ou cheque ouroI meu fio mai tú vai na paz de DeusQue agora meu fio tá seguroE vai ganhá tudo o que perdeuPai véio vai te dá grande futuroSe voltá contando ao povo t'euPor favor não me traga ninguém duro.

Se prestarem atenção na letra, veremos que é um abuso descarado, uma exploração à fé do cidadão que procura por auxilio.
Agora pergunto, desde quando, pessoas de índole duvidosa deturpam os fundamentos de nossa religião e com isso conseguem colocar nossa imagem na lama?
Hoje, somos agredidos de diversas formas. É a sociedade civil, as igrejas neopentecostais, a imprensa e outros tantos, mas desde quando esse abuso dentro de diversos terreiros espalhados por nosso Brasil, não procedeu da mesma forma que o tal Pai Véio 171?
Na crítica bem humorada do genial Bezerra da Silva, já havia um alerta para o que ocorria dentro de alguns terreiros, geralmente localizado nas periferias das grandes cidades, que abusavam da população que procurava tais locais em busca de ajuda.
Meu pequeno artigo só vem alertar a aqueles que fazem uso de sua mediunidade, de seus terreiros e de suas casas, que deveriam ser de caridade, e usam em benefício próprio, que façam sem manchar o nome de nossa religião. E que tenham consciência que a todos vocês podem enganar, mas aos seus guias, aos nossos amados Orixás e ao nosso Divino Criador Olorum, não há como enganá-los.
Alerto ainda que, a Justiça e a Lei Divina são implacáveis quanto ao uso de sua missão para benefício próprio e prejuízo de outrem.
Peço que este artigo sirva de alerta para aqueles que praticam tais atos, e que o quanto antes corrijam sua postura. Peço ainda que, este artigo sirva também de alerta para aqueles que procuram os terreiros de Umbanda, saberem que nossa religião é pautada na caridade, e que não cobramos por consultas, passes ou atendimentos, não fazemos amarração para o amor, não trazemos de volta a pessoa amada. E como religião temos o objetivo comum a todas as religiões, aproximar o homem de Deus, fazer o bem e a caridade por simples amor ao próximo.

Jairo Pereira Jr.
Professor de Economia e Matemática
35 anos, casado, 1 filha e Umbandista


segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O Desiderato da Umbanda - por Jordam Godinho


O DESIDERATO DA UMBANDA.

Mais que uma palavra bonita, desiderato significa “desejo”, e o desejo da Umbanda, está no seu reconhecimento não só como religião, mas na sua contribuição para sociedade, como instituição aglutinadora, de agregação de todas as classes sociais, da sua história e sua essência.
A história da Umbanda esta umbilicalmente ligada ao Brasil e a seu povo de uma mistura de raças e credos extraordinariamente capaz de professar sua fé sem perder a noção de que todos os caminhos levam a Deus.
Os cultos bantos e africanos que dão o marco da religião, são mal compreendidos, até o início do século XX, onde ela se mostra como religião e sofre todas as perseguições possíveis e violações da liberdade de expressão religiosa sendo marginalizada.
A Umbanda não é espiritismo, ela é uma religião própria de fundamentos próprios, ela não reinventa e nem perde tradições de outros cultos, sua trajetória se confunde com a dos povos escravizados desde a nossa colonização. Passou por períodos em que foi declarada proibida e rechaçada, sendo definida como crendice, seita de ignorantes, idolatria pagã, culto demoníaco, alucinação e histeria.
Hoje a religião vive uma mudança que muitos preferem chamar de evolução, trazendo a tona interpretações das mais diversas ordens, que neste texto não vou ponderar, também traz neste século XXI a migração de uma nova classe social que descobre a Umbanda de maneira diferente, parte desta migração se dá por conta desta “evolução”, que particularmente chamo de maquiagem mas que esta de certa forma aglutinando mais pessoas para o seu interior.

CONTIBUIÇÃO PARA SOCIEDADE

Podemos afirmar sem medo que a Umbanda, tem um papel social importante, percebemos que os terreiros (uso este termo por gosto pessoal) estão localizados na sua grande maioria dentro dos bairros mais carentes, e em muitos terreiros seus zeladores são sempre reconhecidos ou pela simpatia das pessoas ou pelo ódio das religiões cristãs, e seus trabalhos com essas comunidades causam um efeito de cidadania.
O exemplo mais comum e não é somente este mais o mais conhecido, são as festas abertas nos dias em que se comemoram Cosme e Damião e Dia das Crianças, a comunidade no entorno do terreiro se alvoroça toda esperando por aquele momento de receber o benzimento de um Caboclo e o seu saquinho de doces, bem como receber um brinquedo.
Mas existem trabalhos mais profundos, hoje feitos juntos a moradores de rua, desabrigados, e muitos outros, sempre contando com ajuda dos membros daquela instituição.

AGLUTINADORA, E QUEBRA DE BARREIRAS SOCIAIS.

Sua organização democrática rompe com padrões e hierarquias sociais. A figura da mulher como líder religiosa rompe um paradigma judaico-cristão e faz aumentar o preconceito e o não reconhecimento como religião.O sincretismo religioso, a aceitação de pobres, homossexuais, negros, brancos, ricos, cultos e incultos, somado ao fato de ser uma expressão religiosa que surgiu nos espaços urbanos populares, faz da Umbanda uma estrutura que ameaça a estrutura hierárquica hegemônica e o domínio econômico vigente no país.
Este é o sentido de aglutinar e quebrar com as barreiras sociais, pois dentro do terreiro, o, rico, heterossexual ou homossexual, está na mesma condição, o de servir a um propósito único, este processo tem chamado a atenção das outras religiões, assim os ataques começaram a ser mais freqüentes, e os apelos maldosos dizendo que a religião tem um pacto com o diabo, faz dos mais desinformados junto com a mídia o melhor aliado dessas religiões. A mídia na verdade tem sido usada muito pouco a nossos favor, mas aos poucos estamos buscando o nosso espaço dentro dela, precisamos saber lidar melhor mas isso faz parte do crescimento nosso.

Por fim a vontade de fazer uma religião respeitada pela Constituição do seu país e pela Carta Universal dos Direitos Humanos, sem perseguições, e com liberdade total de expressão forma o desiderato da Umbanda para todos que nela estão trabalhando dia após dia no objetivo de ser uma fonte de conhecimento.


JGodinho
Contabilista, Gestor em Terceiro Setor, e Umbandista.

Referências: Tridisciplina URFGS.

http://www.ufrgs.br/tramse/tridi/2006/12/umbanda-esta-desconhecida.html

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

REFLEXÃO SOBRE A QUESTÃO CÁRMICA (TRECHO DO LIVRO SÀNGÓ)

A Gênese de tudo é o nada. Nem o caos, nem a escuridão, apenas o nada. Supor que as coisas que existem surgiram a partir de “algo” já existente é subestimar o Princípio Criador. Somente o Incriado sempre existiu e tudo, absolutamente tudo o mais, partiu Dele. Assim, todas as criaturas e criações de suas criaturas são parte d’Ele também. A primeira e mais pura manifestação do Divino é a natureza em seu estado mais rudimentar, pois ali está o esboço da obra, intocada, como os olhos conseguem enxergar sem jamais entender. Não apenas os elementos considerados básicos pela Alquimia – Terra, Água, Fogo e Ar – compõem esse emaranhado de matéria tangível e não-tangível que forma o tudo. Outros elementos de igual – e outros de maior importância – participam dessa eqüidade universal: a Concepção, a Lei, a Ordem, a Razão, o Movimento, a transformação e a Fé. Associados, esses elementos promovem a transformação de tudo que foi lançado à luz do Universo pelo Incriado. Aos homens e demais seres frutos da Criação, também cabem atributos (emocionais, racionais e físicos) que contribuem nesse processo de constante transformação: o SENTIMENTO e todo o leque de possibilidades que ele abre – positivos e negativos -, tais como o desejo, a cobiça, a inveja e seus correlatos, a RAZÃO, na qual se inclui a necessidade, a busca, a solidariedade, a moral, a ética e a união, e, por fim, a REALIZAÇÃO, que é a síntese de toda essa fusão, manifestada através do trabalho, da construção, da estética e, ao atingir padrões mais elevados, aproximando-se de sua essência original, da arte.
Em todos os confins do Universo foram lançados esses elementos, ações e sentimentos, cabendo aos seres que Nele habitam, a tarefa de utilizá-los na medida correta, como uma receita alquímica, a fim de participar desse processo de transformação. Mesmo os elementos considerados nocivos aos olhos simplistas, como a inveja e a cobiça, fazem parte do dinamismo saudável do Universo, quando dosados de maneira correta. Entretanto, havia um outro elemento em questão, também colocado à disposição dos seres terrenos para que se aprimorassem dentro de todo esse processo: a liberdade, também chamada pela tradição cristã de Livre Arbítrio.
Esse elemento fundamental consistiu no tempero cíclico de toda a manifestação ocorrida no Universo. Fazendo uso de cada elemento na dosagem que melhor lhe convinha, os filhos do Universo o transformaram a seu bel prazer, sem medir conseqüências morais, espirituais e materiais, sendo obrigados, por razão de seu próprio merecimento, a colher frutos da própria intransigência e com eles progredir a fim de retornar à pureza simplista de sua essência primitiva. Diversos mitos foram criados para explicar esse princípio, sendo o da raça adâmica o mais conhecido.
Entretanto, a falta de compreensão das coisas mais singulares tornou-se a característica estigmatizada da raça humana e isso é facilmente percebido pelos seus próprios escritos, em particular aquele que conta a fábula da expulsão do Éden. O homem afasta-se da condição paradisíaca não por tentar alcançar o Criador, mas por não compreendê-lo. Alcançar Deus é parte da marcha civilizatória do espírito e não constitui pecado capital. O erro é não compreender Deus – isso sim torna uma existência inteira vã e completamente nula.
O mesmo pode-se afirmar em relação ao mito do anjo caído como causador de todos os males existentes no plano material e espiritual. O Universo não é maniqueísta e nem prepara armadilhas para seus filhos, deixando-os à mercê de um ser perverso que os levaria à perdição. O demônio existe e nada mais é do que a imperfeição de cada ser que afastou-se do Divino acreditando na possibilidade de alcançar algum benefício com isso. E como todos são parte do Criador, ao prejudicar qualquer ser que habita o Universo, atenta-se contra o próprio Deus, manifestando-se dessa forma o seu demônio interior. Disciplinar os seres diante de suas próprias conseqüências é uma tarefa que exige preparo e acima de tudo compreensão sobre o Cosmos, em todas as suas faces e manifestações, mesmo naquelas que parecem ter rompido a estética habitual que a civilização calcada em princípios conservadores e manipulados segundo interesses escusos, quase sempre digeridos, porém quase nunca assimilados. Seres que dispõem sua existência a essa tarefa, fatalmente serão vistos como a escória espiritual ou como algozes, principalmente nas culturas onde proliferou o pensamento judaico-cristão e, em determinadas situações, islâmico também. A maldade reside no âmago de quem a praticou, e não nas mãos de quem executa a Lei imutável da reação cármica. Entendendo o Universo é possível compreender a ação de seus guardiões, que ao longo da História sofreram medos e preconceitos, principalmente após o processo de demonização que lhes foi imposto por aqueles que não os aceitam como agentes da Justiça Divina da mesma forma que também não aceitam a própria consciência a lhes julgar e condenar – pois somente ela (a consciência) lhes aponta o dedo indicador, já que qualquer outro ser, consciente do funcionamento do Universo, preocupa-se com os próprios atos e deveres a serem cumpridos.
O conceito de bem e mal cai por terra quando colocados não à luz, mas à sombra da subjetividade, pois mentes diferentes emitem conceitos diferentes. A eqüidade de valores existe somente quando se está em sintonia com o Princípio Criador ou a ele subordinado, fazendo com que se cumpra a sua Lei. Assim trabalham os verdadeiros soldados, guardiões da ordem espiritual e zeladores da Lei cármica.

Laroyê, Exu.

Douglas Fersan - 2008