terça-feira, 30 de setembro de 2014

Lenda de Xangô - por Douglas Fersan


Xangô é reconhecido como o Senhor da Justiça.

Oyó, o reino de Xangô, foi invadido por um exército inimigo. Os comandantes desse exército não tinham a menor piedade: aprisionavam não só os soldados de Xangô, mas também os velhos, as mulheres e as crianças do reino. Após aprisionar os inocentes, os comandantes mandavam mutilá-los e enviava seus braços, pernas e cabeças para torturar Xangô.

Tomado de uma imensa ira, Xangô subiu ao alto de uma pedreira com seu oxé e implorou a Olorum que o ajudasse. Em sua fúria, batia com força o oxé na pedreira enquanto rogava ajuda de Olorum.  Desse impacto começaram a sair faíscas, que se tornaram raios gigantescos. Esses raios atingiram as cabeças dos comandantes do exército inimigo e os seus soldados foram aprisionados. 

No entanto, Xangô determinou que esses soldados não fossem punidos, pois assim como os seus comandados, também cumpriam ordens apenas.  Diante da atitude digna de Xangô, Olorum o designou como o senhor da Justiça e assim é até hoje. Quando alguém precisa da Justiça Divina é a Xangô que recorre.


Parte integrante do curso "Mitologia dos Orixás" ministrado por Douglas Fersan, dirigente do Templo de Umbanda Lar de Preto Velho.
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domingo, 28 de setembro de 2014

O orixá mais bonito - por Douglas Fersan


Por tantas vezes já ouvir dizer que os orixás/entidades de uma determinada casa têm mais força que os orixás de outra casa. Fico me perguntando se eles, os orixás, passam por algum tipo de curso, de graduação, treinamento ou algo semelhando para atuar numa casa mais forte ou mais fraca.

Aliás, o que é uma casa de Umbanda mais forte ou mais fraca?
O que determina a força dessa casa?
A quantidade de filhos-de-fé?  Os anos de Umbanda de seu dirigente?  O luxo e a grandeza do espaço físico?

Certamente que não.
Existem casas cheias de "médiuns-samambaia" (aqueles que só ficam encostados na parede para enfeitar e fazer número), portanto a quantidade de filhos-de-fé não determina a força da casa.  Existem também pessoas que estão na Umbanda há dez, vinte, trinta anos e não aprenderam o básico, que é o princípio da fraternidade e a constante busca do crescimento espiritual (e acham que a suposta experiência lhes garante uma posição de PhD na religião e que por isso jamais devem ser questionados, quando não sabem sequer pilar um pó de pemba). Por outro lado, o luxo de um templo em nada colabora com a força da casa. Serve apenas para ostentar algo que talvez nem possua.  Existem casas de Umbanda que se restringem um cômodo apertado com alguns poucos trabalhadores e que ainda assim possuem mais eficácia em seu propósito do que os grandes templos com holofotes iluminando as imagens luxuosas e gigantescas dos orixás.

O que determina a força dos orixás então?
Resposta: os próprios orixás.

Os orixás são seres divinos que sempre possuem força.
Quem deixa de possuir essa força (ou firmeza, se assim preferirem) são as pessoas atuam numa gira de Umbanda). Numa casa onde prevalece a vaidade, o ego, o interesse pessoal em detrimento da caridade e da busca constante pela reforma interna, não sobra espaço ao orixá para usar a força que realmente tem. Aliás, ali talvez nem tenha orixá.

O orixá mais forte e mais bonito se encontra na simplicidade. No lugar onde a prioridade é a caridade, o amor e o respeito mútuo. Portanto, cabe a nós, filhos de Umbanda, vigiar os próprios atos e fazer do templo que frequentamos um lugar onde existam esses pré-requisitos. Com isso - somado à seriedade e o devido preparo para conduzir os trabalhos - os orixás estarão presentes, belos e fortes, sempre dispostos a nos amparar e ensinar que a vida é mais simples do que parece. E que a Umbanda é tão simples quanto a vida, tão simples quanto o Universo.

Douglas Fersan
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sábado, 6 de setembro de 2014

O papel das Iabás na Umbanda - por Maria da Lua

O Papel das Iabás na Umbanda

Iabá é o termo usado para definir os Orixás femininos tais como: Oxum, Oyá, Obá, Yewá, Iemanjá, Nanã e outras. Também é a designação de um cargo feminino, dentro de um Centro de Umbanda, sendo que, quando um médium passa a ser uma Iabá, é porque sua sensibilidade está se aflorando, é um crescimento espiritual.
A Iabá é a responsável pela preparação das oferendas ou amacis, tanto preparo das oferendas aos Orixás, quanto preparo dos amacis para os médiuns, sempre se utilizando das mesmas pedras. O amaci é uma mistura de água pura e sumo de ervas, imantado aos pés do Congá, que dentro da Umbanda, é o altar. Basicamente, o amaci é utilizado para reenergizar o chacra coronário, para que o médium suporte as incorporações e as energias manipuladas na Umbanda.

No livro “A Missão do Espiritismo”, psicografado por Hercílio Maes, pelo espírito Ramatis, apresenta um estudo profundo de comparação entre religiões e nos explica, que diferentemente dos irmãos espíritas Kardecistas, um médium de Umbanda trabalha diretamente no desmanche de fluidos pesadíssimos emanados da magia negra, em um trabalho corpo-a-corpo que exige proteções fluídicas, como no caso do uso do branco ou das tradicionais guias no pescoço. O amaci então, tem a função de reenergizar o médium diante de tamanho desgaste físico e espiritual, fortalecendo seu corpo e seu perispírito, bem como fazendo uma conexão com os guias que compõem sua corrente espiritual, em especial seu guia chefe.

Ao preparar o amaci, a Iabá deve estar sempre buscando a sintonia com o Orixá correspondente através de seu ponto, vibrando sempre com amor e fé. Há de se saber, que a Iabá está colocando também a sua vibração no que está fazendo, portanto também possui responsabilidade no que acontece ao médium envolvido.

Outra responsabilidade da Iabá é com relação ao bom andamento dentro da corrente, cuidando do médium desatento ou distraído. Ela ensina como o médium deve se comportar na corrente e deve sempre prestar atenção em tudo que está acontecendo. Ela ajuda na busca das entidades dos médiuns, sentindo a necessidade de cada um. Se tiver duvidas, deve esclarecê-las com o Dirigente do Centro, um dos Babás ou com as Entidades de Luz. Em reuniões de Iabás com os Babás o que for falado sobre os médiuns e seus problemas, será sempre na intenção de como ajudar o mesmo. Porque temos na corrente, médiuns em vários níveis de desenvolvimento com suas entidades. O que for dito nas reuniões não deve ser levado para fora, pois o respeito por todos deve imperar, num Centro que trabalha em nome de Jesus.

A Iabá tem a responsabilidade de ensinar várias coisas ao médium iniciante, tais como os cuidados que o médium deve ter com a própria roupa que se utiliza nos trabalhos no Centro. Ensina também a bater cabeça no Congá – que é um ato submissão, onde nos abaixamos diante de Jesus e todos os Orixás, pedindo sua proteção. O médium se abaixa e toca suavemente a testa no chão, ou no Congá, demostrando respeito pela terra que toca, e humildade ao se abaixar diante de Deus.

Outro ensinamento passado pela Iabá é o ato de salvar a trunqueira – um local físico que delimita o campo energético das linhas de direita e de esquerda, onde se fazem alguns tipos de descarregos. A esquerda dentro de um Centro, é quem segura a tronqueira, pois nela é feito o firmamento de um exu como chefe da esquerda e sob o comando dele trabalha todas as outras entidades da esquerda do terreiro, não podendo jamais fazer algo que contrarie a Lei.

O exu firmado como chefe, além de obedecer às Entidades de Luz, respondem também ao dirigente do Centro. Ele trabalha sob o comando de Ogum, que é a Lei, respondendo por todos os seus atos. A Umbanda trabalha sob a Lei que o Pai deixou escrita na Bíblia, ou seja, com humildade, fé, caridade, esperança, perdão, respeito, enfim, todas as virtudes. A Iabá também é responsável por cuidar da Trunqueira.

Uma Iabá sempre terá palavras de conforto e carinho para com os médiuns, e deve tratar todos de uma maneira igual e com respeito. Tanto os Babás, ou Dirigentes, como as Iabás sempre devem estar prontos para ajudar um irmão de fé, sem julgar quem merece ou não, tanto dentro ou fora do Centro.

Postado por Maria da Lua

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quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Iansã na África - por Pierre Fatumbi Verger

Iansã na África

Iansã é a divindade dos ventos, das tempestades e do rio Níger que, em iorubá, chama-se Odò
Foi a primeira mulher de Xangô e tinha um temperamento ardente e impetuoso. Conta uma lenda que Xangô enviou-a em missão na terra dos baribas, a fim de buscar um preparado que, uma vez ingerido, lhe permitiria lançar fogo e chamas pela boca e pelo nariz. Iansã, desobedecendo às instruções do esposo, experimentou esse preparado, tornando-se também capaz de cuspir fogo, para grande desgosto de Xangô, que desejava guardar só para si esse terrível poder.
Iansã foi, no entanto, a única das mulheres de Xangô que, ao final do seu reinado, segui-o na sua fuga para Tapa. E, quando Xangô recolheu-se para baixo da terra em Kossô, ela fez o mesmo em Irá.
Antes de se mulher de Xangô, Iansã tinha vivido com Ogum. Vimos, em capítulos precedentes, como a aparência do deus do ferro e dos ferreiros causou-lhe menos efeito que a elegância, o garbo e o brilho do deus do trovão. Ela fugiu com Xangô, e Ogum, enfurecido, resolveu enfrentar o seu rival; mas este último foi à procura de Olodumaré, o deus supremo, para lhe confessar que perdoasse a afronta. E explicou-lhe: "Você, Ogum, é mais velho do que Xangô! Se, como mais velho, deseja preservar sua dignidade aos olhos de Xangô e aos outros orixás, você não deve se aborrecer nem brigar; deve renunciar a Iansã sem recriminações". Mas Ogum não foi sensível a esse apelo, dirigido aos sentimentos de indulgência. Não se resignou tão calmamente assim, lançou-se à perseguição dos fugitivos e, como vimos anteriormente, trocou golpes de varas mágicas com a mulher infiel, que foi então, dividida em nove partes. Este números 9, ligado a Iansã, está na origem de seu nome Iansã e encontramos esta referência no ex-Daomé, onde o culto de Oiá é feito em Porto Novo sob o nome de Avesan, no bairro Akron ( Lokoro dos Iorubás) e sob o de Abesan, mais ao norte em Baningbê. Esses nomes teriam por origem a expressão Aborimesan ("com nove cabeça"), alusão aos supostos nove braços do delta do Níger.

Uma outra indicação da origem desse nome nos é dada pela lenda da criação da roupa de Egúngún por Iansã. Roupas sob as quais, em certas circunstâncias, os mortos de uma família voltam a terra a fim de saudar seus descentes. Iansã é o único orixá capaz de enfrentar e de dominar os Egúngún.

Iansã lamentava-se de não ter filhos. Esta triste situação era conseqüência da ignorância a respeito das suas proibições alimentares. Embora a carne de cabra lhe fosse recomenda, ela comia a de carneiro.
Iansã consultou um babalaô, que lhe revelou o seu erro, aconselhando-a a fazer oferendas, entre as quais deveria haver um tecido vermelho. Este pano, mais tarde, haveria de servir para confeccionar as vestimentas dos Egúngún. Tendo cumprido essa obrigação, Oiá tornou-se mãe de nove crianças, o que se exprime em iorubá pela frase: "Iyám mésàn, Origem de seu nome Iansã.

Existe uma lenda, conhecida na África e no Brasil, que explica de que maneira os chifres de búfalo vieram a ser utilizados no ritual do culto de Oiá-Iansã:
"Ogum foi caçar na floresta. Colocando-se à espreita, percebeu um búfalo que vinha em sua direção. Preparava-se para matá-lo quando o animal, parando subitamente, retirou sua pele. Uma linda mulher apareceu diante de seus olhos. Era Oiá-Iansã. Ela escondeu a pele formigueiro e dirigiu-se ao mercado da cidade vizinha. Ogum apossou-se do despojo, escondendo-o no fundo de uma depósito de milho, ao lado de sua casa, indo, em seguida, ao mercado fazer a corte à mulher-búfalo. Ele chegou a pedi-la em casamento, mas ela recusou inicialmente. Entretanto, ela acabou aceitou, quando, de volta à floresta, não mais achou a sua pele. Iansã recomendou ao caçador não contar a ninguém que, na realidade, ela era um animal. Viveram bem durante alguns anos. Ela teve nove crianças, o que provocou o ciúme das outras esposas de Ogum. Estas, porém, conseguiram descobrir o segredo da aparição da nova mulher. Logo que o marido se ausentou, elas começaram a cantor: " Máa je, máa um, àwò re nbe nínú àká", Você Pode beber e comer (e exibir sua beleza), mas a sua pele está no deposito (você é um animal).
"Iansã compreendeu a alusão; encontrando a sua pele, vestiu-a e voltando à forma de búfalo, matou as mulheres ciumentas. Em seguida, deixaram os seus chifres com os filhos, dizendo-lhes: Em caso de necessidade, batam um contra o outro, e eu virei imediatamente em vosso socorro. É por essa razão que chifres de búfalos são sempre colocados nos locais consagrados a Oiá-Iansã".

Tivemos oportunidade de ouvir essa história na Bahia, narrada por Pai Cosme, um Velho pai-de-santo, hoje falecido. Ele pronunciava com perfeita correção a frase iorubá citada acima.

Os oríkì dirigidos a Iansã descrevem-na bastante bem:
"Oiá, mulher corajosa que, os acordar, empunhou um sabre".
Oiá, mulher de Xangô.
Oiá, cujo marido é vermelho.
Oiá, que embeleza seus pés com pó vermelho.
Oiá, que morre corajosamente com seu marido.Oiá, vento da morte.
Oiá, ventania que balança as folhas das árvores por toda parte.
Oiá, a única que pode segurar os chifres de um búfalo".

Oiá-Iansã no Novo Mundo

As pessoas dedicadas a Iansã, nome sob o qual ela é mais conhecida no Brasil, usam colares de contas de vidro grená. A quarta-feira é o dia da semana consagrado a ela, o mesmo dia de Xangô, seu marido. Seus símbolos são como na África: os chifres de búfalo e um alfanje, colocados sobre seu "pejí". Ela recebe oferendas de acarajés (àkàrà na África) e detesta abóbora..
Quando se manifesta sobre um dos iniciados, ela está adornada com uma coroa semelhante à dos reis africanos , cujas franjas de contas escondem o seu rosto. Ela traz um alfanje em uma das mãos e um espanta-moscas feito de cauda de cavalo na outra. Suas danças são guerreiras e, se Ogum está presente, ela se engaia num duelo com ele, lembrança, sem dúvida, de suas antigas divergências. Ela evoca também, através de seus movimentos sinuosos e rápidos, as tempestades e os ventos enfurecidos. Seus fiéis saúdam-na gritando: " Epa Heyi Oya!".
No Brasil é sincretizada com Santa Bárbara e, em Cuba, com Nuestra Señona de la Candelária.
Certa Iansãs, chamadas Yánsàn de Igbalè, ligadas ao culto dos mortos, os Egúngún, quando dançam
parecem expulsar as almas errantes com seus braços largamente abertos e estendidos para a frente.

Arquétipo

O arquétipo de Oiá-Iansã é o das mulheres audaciosas, poderosas e autoritárias. Mulheres que podem ser fiéis e de lealdade absoluta em certas circunstâncias, mas que, em outros momentos, quando contrariadas em seus projetos e empreendimentos, deixam-se levar a manifestações a mais extrema cólera. Mulheres, enfim, cujo temperamento sensual e voluptuoso pode leva-las a aventuras amorosas extraconjugais múltiplas e freqüentes, sem reserva nem decências, o que não as impede de continuarem muito ciumentas dos seus maridos, por elas mesmas enganados.

Esse texto foi retirado do livro: "Orixás" de Pierre Fatumbí Verger

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