domingo, 31 de maio de 2015

Amor de marinheiro - por Douglas Fersan


Dizem que o marinheiro olhava as estrelas e as achava solitárias, apesar de serem tantas no céu.  Ouvia o lamento das ondas e acreditava que o mar chorava, mas quem chorava era seu coração.

O marinheiro estava solitário, aliás, sempre estava solitário. Sua companhia era a maresia e a garrafa de rum que esvaziava tão rapidamente.  Não acreditava mais em amor.  Conseguia um carinho aqui e outro ali, mas não eram carinhos sinceros, eram sempre movidos a interesses: pagava-se uma bebida e em troca recebia um beijo, um cafuné...

Mas isso não espantava a tristeza nem a solidão.
O marinheiro queria algo que preenchesse o vazio de sua alma, mas só que o satisfazia era o balanço do mar. E, diziam, no mar nunca encontraria um amor, pois o mar é profundo e obscuro, belas mulheres temem o mistério do mar.

Mas foi naquela noite, observando as estrelas, que percebeu outro som que não era apenas o lamento das ondas do mar.

♫♫♪ Um pouco de ti deixo aqui,
um pouco de ti vou levar,
no corpo um pouco de areia,
um pouco do sal do mar ♪♪♫♪♫♪

Prestou atenção naquele som... era um canto doce... doce como o mel.
Marinheiros não estão acostumados a coisas doces, já que levam a vida na água salgada e bebem o amargor da solidão.

Da pedra onde estava sentado, olhou ao redor e viu uma bela mulher... Deitada sobre o rochedo, sendo acariciada pelas ondas do mar, a bela sereia entoava seu cando delicado.

Sem titubear o marinheiros caminhou até aquela bela figura, beijou seus lábios e sentou ao seu lado e ficou ouvindo seu canto a noite inteira.  Quando o dia estava para raiar, a sereia o beijou, num gesto de despedida e voltou para a água.

O marinheiro nunca mais foi visto.
Contam que não conseguiria viver sem o cheiro de sal da sereia e nem das conchinhas que enfeitavam seus cabelos. Até hoje há quem acredite que o marinheiro virou encantado e se casou com a princesa Janaína e que junto com ela reina sobre as profundezas azuis do mar,

Autor: Douglas Fersan
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sexta-feira, 29 de maio de 2015

Silêncio, os orixás estão em terra - por Douglas Fersan

Quando o sagrado se manifesta os ventos abrandam, o sol amorna, as nuvens clareiam e os trovões tornam-se mansos.
A presença dos orixás em terra é sinal do sagrado se aproximando de nós, profanos, mortais.  É a manifestação do divino em nosso plano. É a alta espiritualidade, em sua sua mais pura forma humildemente pisando em solo hostil e impuro É a oportunidade que Olorum, Criador supremo do Universo, nos dá de nos aproximarmos d'Ele, de termos contato com sua centelha divina e de redimirmos parte de nossas imperfeições.

Presenciar a manifestação do orixá em terra é testemunhar mais de uma história: a história de uma crença, uma história mítica, que porém conta nossa ancestralidade, e também a história da construção da identidade do nosso povo.

Ver um orixá dançar ao som de Rum, Rumpi e Lê é ter o privilégio da visão do divino.  Ajoelho diante do orixá, porque Ele é a partícula de Deus que Ele me permite ver.  Silencio diante de sua presença, pois como diz a saudação ao Senhor da Terra em iorubá: "Atotô", ou seja: "silêncio", pois os orixás estão em terra.

Douglas Fersan
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terça-feira, 19 de maio de 2015

Poema a Omolu - Tania Mara Camargo


Da terra tudo renasce.
Germinam as sementes, crescem os campos.
Mãe que ampara as águas da chuva para o ciclo incessante dos rios continuarem.
Terra que zela para a vida humana prosseguir.
Guardiã de nossos ancestrais, fonte de nossa ascendência.
Terra pura de onde vem a cura para tantos males físicos e espirituais.
Terra nova a cada estação: seca, úmida, molhada, fertilizada - Plataforma de meus pés, meu chão.
Solo verde de arvoreados que nos traz a madeira, as palhas...
Aquela que se doa totalmente, que nos devolve renovado tudo que foi utilizado.
Mas não nos deixa ver seus olhos jamais!

Tania Mara Camargo.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Um grito de liberdade? A corrente se quebrou? - por Douglas Fersan


Para refletir:
Um grito de liberdade e a corrente se quebrou.
Saravá todos os pretos velhos.
Saravá zumbi dos palmares.
Saravá santa Isabel...

Comemoramos hoje, 13 de maio, o dia dos pretos velhos, entidades maravilhosas dos nossos cultos. Porém sabemos que existe uma aura de romantismo em torno do assunto quando se fala em abolição. Sabemos que não foi um ato de bondade, foi movido por interesses econômicos e políticos. E a princesa, tida como a grande redentora, não era santa.
Mas o principal: o que mudou para os negros após a libertação? Houve uma política que possibilitasse a igualdade social entre brancos e negros ou continuaram sendo tratados como população subalterna?
Em homenagem aos nossos queridos pretos velhos acho que devemos hoje não só fazer nossas preces, mas também refletir sobre essas questões.

Douglas Fersan
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segunda-feira, 11 de maio de 2015

Vamos comemorar a vitória dos guerreiros do Lar de Preto Velho - Douglas Fersan


Curta o Lar de Preto Velho​, pois somos uma casa de raiz. Já enfrentamos vários tipos de mazelas, desde a falta de um lugar pra trabalhar, a torcida daqueles que nos queriam derrubar (pelo simples fato de sermos um mísero pontinho de luz no Universo).

 Enfrentamos línguas venenosas, traições, falas maledicentes, intolerância religiosa (até polícia chamaram para tentar evitar nossos cultos - e a polícia defendeu nosso direito constitucional). Mesmo diante de tantas pessoas maldosas e de tanta negatividade que cruzou nossas vidas, só crescemos em número e qualidade.

 Nessa semana, em agradecimento a tudo o que superamos e conquistamos, ofereceremos gratuitamente a todo o público que nos procurar, um almoço (feijoada) em homenagem aos nossos queridos mentores, os pretos velhos, que não pouparam esforços em nos proteger.
Adorei as almas. Salve a Umbanda.

Salve todos aqueles que têm Deus em seu coração e que só usam suas palavras para construir coisas boas, livres de do mal que a língua profere e do egoísmo que prende o espírito.
Sejamos abnegados e sábios como os pretos velhos.

Douglas Fersan
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