sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Respeito ao Templo Sagrado de Umbanda - por Claudete A. H. Andrade






Nós, umbandistas conscientes estamos sempre buscando conhecimento através do estudo da nossa religião; primeiro porque é inerente ao ser humano a busca pelo conhecimento, e segundo, que um médium bem preparado se entrega mais facilmente ao amor e caridade de nossos orixás e guias na realização de um trabalho (gira). Buscamos esse conhecimento não para satisfação própria, mas por amor à nossa religião. Somos o espelho de nossa religião dentro de fora do terreiro. Se amo a minha religião, quero bem representá-la.
Me lembro que, no início da campanha do Censo 2010 era para que todos os umbandistas assumissem sua religião quando perguntado. Quase fiquei no portão aguardando a visita do recenseador, e qual não foi a frustração quando soube que para a pergunta “qual a sua religião?” a resposta só caberia a alguns.
Tenho orgulho de ser umbandista. Sinto que a Umbanda corre junto ao sangue de minhas veias; é nela que busco força, coragem, determinação, inspiração e, sendo assim, quando vemos qualquer ação de preconceito ou desrespeito à Umbanda, entristecemo-nos.
E por isso, meu pedido hoje de conscientização não é para que o médium bem preparado ou que busca sua preparação, nem ao sacerdote dedicado, nem ao cambone que serve com amor ou aos ogãs que dão força às giras com seus toques e cantos, mas à assistência, para que saibam de sua importância na participação de um trabalho (gira).
Sim, senhores freqüentadores assíduos ou não, participantes de um Terreiro de Umbanda, a vossa participação e o vosso respeito são muito importantes para a realização de um bom trabalho.
Há que se conscientizar que um terreiro de Umbanda é um espaço sagrado, onde acontece um dos mistérios de Deus, um mistério transformador, que transforma o profano em sagrado.
Por isso o silêncio, no momento em que você se interioriza, busca dentro de si a verdadeira razão que o levou até ali, afinal, o trabalho já começou.
Ao cruzar a porta de entrada, já um trabalho de amor e caridade espiritual vem acontecendo; então mantenha seu celular, pager ou qualquer outro aparelho eletrônico desligado, para que você possa desligar-se do profano e conectar-se ao sagrado.
Sua roupa deve ser sóbria e comportada, como dita a boa conduta; e conversa paralela, ah, essa também jamais deve existir.
Seu pensamento agora é para Deus, elevado ao Altíssimo, aos Divinos Orixás, Guias, Mestres e Mentores, colocando-se na oração e humildade, para que a misericórdia de Deus lhe conceda aquilo que você foi buscar.
Há, hoje em dia, campanhas e campanhas de conscientização lançadas o tempo todo; uma delas é a campanha de conscientização no trânsito. Esse diferencial não tem que ser só na religião, no trânsito há que se trabalhar para nos tornarmos seres humanos melhores. Então por que não tomar essa postura também na Umbanda?
Não estou aqui ditando regras e deveres a ninguém, muito menos a terreiros de Umbanda, mas acredito que todos gostam de ser tratados com respeito e dignidade, como diz a máxima do cristianismo: “Portanto tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o também a eles”. Jesus Cristo, durante o Sermão da Montanha, em Mateus 7, 12.
E só para terminar, como exemplo do que acabei de escrever, segue uma experiência:
Outro dia fui à uma Igreja Católica participar de uma missa de sétimo dia. Na hora do sermão, o celular de alguém tocou dentro da igreja e a pessoa que estava sentada nos bancos logo levantou-se e saiu para atender, tendo que cruzar toda a igreja.
Nesse momento o padre parou o sermão e fez-se um silêncio na igreja enquanto a pessoa se retirava. Em seguida o padre fez a seguinte observação:
“Gostaria de lembrá-los, caros fiéis, que é de extrema falta de educação e respeito deixar o celular ligado e atendê-lo dentro de local sagrado. Manda a boa educação que se desligue o celular em um ato de respeito, nos lugares sagrados, templos, igrejas, sinagogas, e em fóruns judiciais”.
Assim, caros irmãos em Oxalá, gostaria de citar as palavras de meu irmão e mestre Alexandre Cumino ao término da “Palavra do Editor”, no JUS de outubro de 2010:
“Afinal, quem não incorpora, camboneia; quem não camboneia, toca; quem não toca, canta; quem não canta, dança... todos dançam, todos vibram, todos participam do sagrado com seu poder e mistério”.
Autora: Claudete A. H. Andrade
Publicado originalmente no Jornal de Umbanda Sagrada – novembro de 2010.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

102 anos de Umbanda - por Alexandre Cumino



Ontem a Umbanda completou 102 anos, em que foi anunciada pelo Caboclo da Sete Encruzilhadas, por meio de seu médium Zélio de Moraes.

Há dois anos atrás o Brasil inteiro comemorou os 100 anos da Umbanda, mas nem todos se deram conta o quanto conquistamos com este marco, que pode parecer pouco em comparação à idade cronológica das outras religiões, no entanto o que ganhamos não tem nada a ver com tempo e sim com reconhecimento.

Aos poucos as pessoas e os próprios umbandistas estão se dando conta de que a Umbanda é uma Religião Brasileira. Com todos os prós e contras que esta identidade oferece. O brasileiro vive uma relação de amor e ódio consigo mesmo (com esta “brasilidade” controversa), adoramos nossas qualidades e detestamos nossos defeitos. Somos um povo apaixonado e Umbanda é uma Religião Apaixonante – brasileira - tem ginga, encanto e magia.

Umbanda se canta em verso e prosa; se toca no nagô, angola e ijexá; batendo ritmo na palma da mão, para quem quiser ver. Umbanda dança, gira e roda nas voltas de nosso coração, para nos tirar do comodismo e mesmice a que a sociedade nos condicionou, com seus dias; protocolos e métodos repetitivos e mecânicos.

Umbanda cheira guiné, arruda e alecrim; mirra incenso e benjoim. Umbanda nos pega pelos cinco sentidos, levando ao transcendente para além do sexto e sétimo sentidos. Umbanda é a Cachoeira da Oxum, a Mata de Oxossi, a Pedreira de Xangô, o grito do caboclo, o cachimbo do preto-velho e a presença de Cristo. São Jorge, Santa Bárbara, Santo Expedito e Padre Cícero nos ensinam que há muito mais que sincretismo entre culturas; há encontro, presença e olhar.

Êxtase Religioso, Transe Mediúnico, Estado Alterado de Consciência são palavras para descrever o indescritível, o momento em que passamos do ser ao “não-ser”, do vazio à plenitude, de Exu à Oxalá, do EU ao Nós, ao ponto de não saber mais se sou EU, nós ou Ele. Louco é pouco, já diziam os mestres que a sanidade do mundo é loucura para o sagrado e que o sagrado é a loucura de deus. Ser médium é muitas vezes andar de olhos fechados num precipício em que a única corda que temos é nossa fé esticada de um lado ao outro entre a terra e o céu, ou melhor a Aruanda.

E se não bastasse tudo isso ainda nos traz uma proposta de maturidade religiosa, não pede conversão, não tem tabus nem dogmas, aceita cada um de nós sem julgamentos; jovem que é respeita os mais velhos, se diverte com as crianças e liberta das amarras sociais, emocionais e psicológicas, nas quais a razão quase sempre prepara armadilhas.

Ajoelhada ao lado do preto-velho mata nosso ego, junto do caboclo nos desafia a rasgar o peito e mostrar onde está nosso coração, pelo exemplo pede que todos nós estejamos abertos a reaprender o que é bom com a criança.

A Umbanda reza, ora e faz prece aos santos, orixás, anjos, arcanjos e guias, sem exclusividade nenhuma, não reconhece sectarismos ou proselitismos com relação às divindades, que assim como o sol, nasce para todos. Espíritos de origens e culturas diversas se unem e integram numa mesma direção, numa mesma BANDA, nesta que quer ser UM com o outro, que quer ser UM com o TODO.

E quem vai explicar tudo isso, como entender e dar sentido para algo tão exuberante, quase exótico; colcha de retalhos ou fina tapeçaria?

Da esquerda nos parece vir uma voz firme a responder que somos guardiões destes mistérios, não cabe a nós entendê-los todos e sim respeitar, bater cabeça e silenciar.



Como compreender a Umbanda?

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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Estudar a Umbanda? - por Douglas Fersan





Estudar a Umbanda... eis um tema que sempre desperta as mais variadas paixões e discussões calorosas. Deve o umbandista estudar a sua religião?

Existem aquelas correntes que defendem a idéia de que só se aprende a Umbanda nos terreiros, aos pés das entidades. Mas existem também aqueles que defendem o seu estudo sistemático, até mesmo em faculdades ou colégios destinados a isso. Quem tem razão?

Certamente o bom senso, sempre ele.

Uma gira de Umbanda é um momento dinâmico, no qual nem sempre há tempo para se sentar ao lado das entidades e fazer-lhes perguntas sobre a filosofia da nossa religião, assim, muitos que frequentam as giras sistematicamente não conseguem tempo - ou mesmo não têm a consciência da necessidade do estudo - para conversar com um preto-velho, um caboclo ou exu e esclarecer suas dúvidas.

Existe uma grande dúvida entre ser e estar umbandista.

Muitos estão umbandistas duas, três, quatro horas por semana, período que dura a gira de sua casa. Terminados os trabalhos, despem a roupa branca e voltam para sua vida secular e para mais uma semana de trabalho, acreditando com toda convicção, que seu dever está cumprido. Ao longo dessa semana, esse irmão-de-fé vai blasfemar, maldizer, contrariar os princípios da própria religião e agir como qualquer outro ser humano sem uma orientação espiritual agiria. Somente no dia da próxima gira lembrará de agir como um umbandista.

Outros, espíritos inquietos, buscam o conhecimento, e esse se dá, como defendem os mais conservadores, principalmente dentro do terreiro, mas nada impede que no dia a dia, o umbandista procure entender a sua religião, a fim de adotar na sua prática diária os princípios norteadores da sua fé, da fé que o faz diferente de um ser humano qualquer, não que ele seja melhor que um católico, um evangélico ou um ateu, mas que tenha atitudes condizentes com aquilo que a sua Umbanda prega.

Por outro lado, existe a necessidade imensa de se "filtrar" informações, especialmente no mundo virtual. A internet, tida por muitos como a terra de ninguém, é um espaço onde qualquer informação, verdadeira ou não, pode ser publicada e constitui uma verdadeira armadilha para os leigos. Não será difícil a um iniciante afoito por conhecimento e que o busca através de sites na internet, acreditar, por exemplo, que exu é o diabo ou que é possível "fazer sua própria macumbinha" copiando receitas mágicas espalhadas por aí. Nesse mundo virtual todo cuidado é pouco, e isso é perfeitamente visível quando passeamos pelos mais diversos sites e encontramos absurdos em nome da Umbanda. Verdadeiros médiuns e pais-de-santo virtuais sem qualquer conteúdo proliferaram nos últimos anos.

Estudar a Umbanda é fundamental. Ter bom senso é mais ainda.

Sou um eterno defensor dos estudos da Umbanda, porém defendo ainda mais a necessidade de estudá-la junto às entidades. Os livros, sites e blogs serviriam apenas com um suporte onde, com o devido filtro do bom senso, obteríamos informações para enriquecer a nossa cultura sobre o assunto, mas não sobre a prática umbandista, pois essa começa no terreiro, sob a orientação dos seus zeladores e das entidades - essas sim, mesmo não falando um português impecável, são as verdadeiras autoridades no assunto. Nós, "mortais", que vestimos o branco, estamos ali para aprender e colocar em prática uma conduta séria, respeitosa e que venha a honrar o nome às vezes tão desgastado da Umbanda.

Estudemos a Umbanda, mas sem deixar de praticá-la.


Douglas Fersan - Novembro/2010

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Palavras de um pastor - uma lição de tolerância.





Hoje vou contar algo que aconteceu há um ano atrás mais ou menos. Minha mãe em uma das tentativas de me converter, me levou "enganado" para um culto evangélico. Seria uma festa no apartamento novo de uma amiga dela e para agradecer esse apê, essa amiga fez antes da festa um mini culto de graças alcaçadas no local. Minha mãe, tão inocente, disse que não sabia desse culto que rolava antes.


Eu respeito muito todas as religiões, mas numa ocasião dessas se me perguntam "você aceita Jesus", eu deixo claro que aceito toda tragetória dele, mas que já tenho minha religião bem definida.


O culto estava rolando muito bem, a pregação rolando solta, palavras da bíblia, relatos da dona do apartamento, chorôrô de emoção dos amigos e enfiiiiiiim vieram os comes e bebes (não alcoolicos). Tô vendo de longe, meu padrasto virando amigo de infância do pastor e minha mãe ao seu lado. E assim ficaram durante toda festa.


Minha mãe as vezes se aproximava de mim como quem não quer nada e dizia: "Viu que clima legal?" ou então ficava me perguntando o tempo todo se eu estava gostando. Eu fiquei quieta no meu canto a festa toda, pois não queria dar brecha pra alguém se aproximar de mim e tentar me converter.


Até que na hora de ir embora, fomos nos despedir do pastor. Nisso ele vira para o meu padrasto e diz: - Deus tem muitos planos pra você. Você será um excelente PASTOR!!!


Aí depois ele vira pra minha mãe e diz: - A senhora será uma excelente obreira ao lado dele!


Ele olha pra mim e eu penso: "PRONTO! Lá vem..." Porém, ele respira fundo e fala: - Você tem um caminho muito bonito pela frente, uma missão muito bonita pra cumprir e sei que você já está agarrada com ela ! Deus fica muito feliz de você ter aceitado essa missão ! Ele vai te dar muita força porque é um caminho difícil e tem muita gente contra, mas não escute esses, escute só seu coração!!! -
Eu abracei o pastor com o meu corpo todo arrepiado, pois era nítido que aquilo foi uma mensagem que passaram pra ele. Até minha mãe adimitiu.


Essa noite ficará guardada na minha memória (e a cara de sem graça da minha mãe também). Aprendi que não posso julgar se serei julgada, pois nesse caso o preconceito partiu de mim e eu perdi uma ótima oportunidade de uma possível conversa agradável.

Texto gentilmente cedido pela nossa querida amiga e irmã "Docinho" da comunidade Amigos, Umbanda e Espiritismo e publicada originalmente no blog http://diariodeumafilhadepemba.blogspot.com