domingo, 13 de setembro de 2015

Mediunidade não é miojo - por Douglas Fersan


Ser médium não é um privilégio, é uma constante provação, não no sentido pejorativo, não no sentido de sofrimento, mas sim de sermos colocados à prova em todos os instantes.

Ser médium não é ter superpoderes, não é prever o futuro, não é obter vantagens do mundo espiritual para a vivência no mundo material. Ser médium não "ter" um exu, um preto velho ou um caboclo. Ser médium é SER instrumento do exu, do preto velho ou do caboclo. Acima de tudo, ser médium é ter responsabilidade e paciência.

Ser médium é ter responsabilidade, pois tudo que é dito através de nossa boca durante a incorporação deve ser somente palavras das entidades, e nunca nossas. Em outras palavras, jamais devemos usar o nome das entidades ou a (suposta) incorporação para dizer coisas que não diríamos sem nos esconder atrás do nome deles.

E ser médium é ter paciência, porque requer muita resignação. O desenvolvimento mediúnico é um processo, não um evento, e é extremamente particular: para uns mais rápido, para outros mais lento. Alguns desenvolvem a sua mediunidade rapidamente, pois, devido a diversos fatores, entram em sintonia com seus orixás e entidades mais facilmente. Outros, por fatores como a ansiedade, os vícios, os medos, a timidez, demoram mais para estabelecer essa sintonia. O importante é não pular os degraus do desenvolvimento mediúnico.

Médiuns responsáveis sentem lentamente as vibrações das entidades e as vão assimilando aos poucos. Dessa forma a "coisa" acontece de forma natural, sadia, responsável e correta. O bizarro - e irresponsável - é quando um "médium" que nunca sentir sequer uma irradiação de repente, como que se alguém apertasse do botãozinho do "ligar" sai dançando o gingado das entidades e orixás como se apesar de nunca ter sentido nada antes, naquele dia a sua mediunidade tivesse se desenvolvido instantânea e milagrosamente e seus orixás e entidades já estivessem 100% sintonizados com ele.

Estranho?
Não... infelizmente não. Mais comum do que parece.
Apenas não imaginem que as outras entidades, bem como os dirigentes e até mesmo a assistência não percebe isso. Também não confunda solo sagrado (terreiro) com palco. São coisas bem distintas.

Também não confunda mediunidade com miojo. Um fica pronto em três minutos, a outra requer equilíbrio e seriedade. E isso às vezes leva tempo.

Douglas Fersan
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terça-feira, 8 de setembro de 2015

O Templo de Umbanda é sua igreja. Ou não? - Por Douglas Fersan


Ao entrar na igreja o fiel permanece em silêncio ou fica conversando com os amigos os assuntos da semana?
Ao entrar na igreja o fiel, seja católico ou evangélico, fica contando piadas ou se mantém em prece?
Para ele não importa se a igreja é suntuosa, luxuosa ou se tem os bancos feitos em madeira rústicas o piso em cimento cru.  Ele mantém a postura adequada.  Ele entende que aquele é um ambiente sagrado e não vai, em momento algum, tomar atitudes que o profanem. Pelo menos é isso que se espera dele.

O mesmo esperamos do umbandista.
Ao entrar no terreiro de Umbanda você se lembra que está entrando em sua igreja?
Lembra que ali é onde residem as energias e as divindades que você cultua e que, portanto, deve respeitar?
Lembra que como praticante da religião é o espelho dela, ou seja, as pessoas julgam a sua religião a partir das suas atitudes?
Você se lembra que o ambiente requer respeito e palavreado adequado?  Você entende que determinadas atitudes profanam aquele lugar e que Deus, apesar de onipresente, costuma se afastar de ambientes que não condizem com uma postura adequada.

Então não importa o luxo da casa que você frequenta, o que importa é o respeito que você tem por ela.

Douglas Fersan
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sábado, 5 de setembro de 2015

Sou uma andorinha nesse inverno hostil - por Douglas Fersan

Hoje eu gostaria de colocar uma mensagem de alegria, de felicidade aqui, mas será possível?  Nessa semana o mundo se chocou com a imagem (que de tão triste prefiro não colocar aqui na nossa página) do menino sírio que morreu afogado quando a  família tentava refúgio e a embarcação naufragou no litoral da Turquia.

Ora - dirão alguns - todos os dias morrem centenas de pessoas, crianças, inclusive, de fome, de frio, de sede...  É verdade. Infelizmente é verdade.  Mas poucas vezes surgem imagens que chocam tanto, e quando elas aparecem e causam comoção, talvez seja a oportunidade para repensarmos nossa imperfeita condição humana.

Até quando fronteiras geográficas irão nos impor fronteiras fraternais e espirituais?  Até quando permitiremos que a cor da pele, a crença, a condição sexual, a origem geográfica nos separem entre melhores e supostamente piores?

Até quando permitiremos que seres inocentes, os quais nos foram confiados por Deus, sofram pelas nossas sandices?


Quando vi aquela foto, do menino de bruços na areia, não pude deixar de pensar nos meus filhos. Quantas vezes os troquei, vesti, coloquei sapatinhos... da mesma forma que os pais daquele menino fizeram com ele.  Tudo que queremos para nossas crianças é a felicidade, é um mundo melhor.  O problema é que costumamos querer isso para as "nossas" crianças, esquecendo de tantas outras crianças que existem no mundo. Acabamos deixando que os nossos idiotas valores adultos se tornem mais fortes que essa necessidade de cuidar de tanta infância dispersa por aí.

Hoje estou de luto. O mundo deveria estar de luto. Não só pelo menino, mas por toda nossa imperfeição. Pela nossa vergonhosa imperfeição, pela mesquinhez dos donos do poder e pela nossa inércia e burrice em permitir que eles e seus valores continuem sendo ditados como nossos valores.

Apesar de ser uma das poucas andorinhas nesse inverno, espero que um dia possamos fazer verão.

Tristeza profunda.
Douglas Fersan
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