quarta-feira, 25 de abril de 2012
Religiões e culto à natureza - por Donc Galvão
As Religiões mais próximas da Natureza, como o Candomblé, estão mais próximas da compreensão do que seja Deus e os seus desígnios. Por não possuírem um livro sagrado que no decorrer do processo histórico vai sendo adulterado obedecendo a interesses pessoais e políticos, sobra-lhes a necessidade de observar a Natureza e suas ações de manutenção, equilíbrio e desenvolvimento.
Quer perceber o que Deus espera de vc? Olhe a Natureza
Quer saber as respostas para seus problemas existenciais? Sinta a Natureza
Quer saber como se relacionar consigo, com o próximo e com o meio ambiente? Viva à natureza.
Quer se espiritualizar transcendendo os sentidos do cotidiano e ter uma experiência com Deus e o Sagrado? Seja a Natureza em sua forma mais pura, respeitosa, equilibrada e se doe como ela faz por nós todos os dias.
Deus é sempre conosco e somos sempre com ele, embora algumas vezes não percebamos.
Axé Irmãos, Axé Irmãs!
segunda-feira, 23 de abril de 2012
Salve 23 de Abril - Salve Ogum - por Douglas Fersan
Salve 23 de abril
Salve Ogum, pai guerreiro, que a tudo enfrenta sem medo, sem receio da derrota, sem vacilo ou dúvida.
Salve senhor dos metais, cuja espada, forjada em aço e sangue – sangue dos nossos ancestrais, trazidos da Mãe África – brandida como as árvores sob o vento, vence toda demanda.
Senhor dos exércitos, patrono dos soldados, que lutam pela Lei, pela justiça, pela ordem e paz dos seus filhos e irmãos.
Senhor das estradas de terra, de asfalto, de ferro. Dos trilhos e das trilhas que a vida nos impõe, não desampare seus filhos, que em seu escudo impenetrável depositam a certeza de que as flechas inimigas jamais chegarão à sua carne sofrida.
Que a sua lança afaste todos os dragões e tua índole guerreira imponha a paz, que o seu olhar altivo e austero nos guie no caminho da Lei e da retidão e que todos, mesmo aqueles que em ti não creem e de ti desdenham, estejam sob seu manto.
Que todas as orações e manifestações a ti dirigidas hoje, sejam lembradas diariamente e não só em datas comemorativas, e que sirvam de alimento para a nossa fé e para a tua legião de guerreiros que patrulham a nossa Terra, ainda tão fragilizada pelas nossas próprias atitudes.
Que sua espada rompa matos, trilhas, árvores e florestas, abrindo os caminhos daqueles que sofrem e vivem dificuldades. Que não nos falte a sua proteção e que jamais esmoreça a nossa fé em ti.
Salve Ogum.
Patacori, meu pai.
Douglas Fersan – 23/04/2012
domingo, 15 de abril de 2012
Professora evangélica que pregava a Bíblia em escola de São Bernardo do Campo – o outro lado da moeda - por Douglas Fersan
Estado brasileiro é laico e essa condição deve ser refletida em suas instituição, incluindo aí – e talvez principalmente – a escola.
O jornal Diário do Grande ABC publicou em 28/03/2012 uma matéria (retransmitida nesse blog) sobre a professora Roseli Tadeu Tavares de Santana que, segundo o artigo, usava as aulas para fazer pregações evangélicas tendenciosas e, que tal fato, levou ao constrangimento de um aluno, filho de um sacerdote de Candomblé. O adolescente teria sofrido bullying por sua condição religiosa e por não participar de bom grado das pregações, que chegariam a ocupar até vinte minutos da aula (cada aula nas escolas públicas do estado de São Paulo dura cinquenta minutos).
O fato teria ocorrido na Escola Estadual Antônio Caputo, localizada no subdistrito de Riacho Grande, em São Bernardo do Campo, e a denúncia gerou uma série de manifestações, levando até mesmo à abertura de um processo para apurar os fatos e assim garantir o direito religioso do adolescente, o cumprimento da lei e a laicidade das instituições escolares públicas.
Nós, umbandistas e seguidores e simpatizantes dos cultos afro-ameríndios temos a tendência a encarar fatos como esse com uma paixão às vezes exagerada, que nos faz esquecer a necessidade de apurar os fatos, para entendê-los com mais clareza e evitar injustiças. No furor em defender nossa crença, reagimos imediatamente, levantando a bandeira contra a intolerância. E a intolerância deve mesmo ser combatida, sem qualquer piedade, porém todo fato carece de uma análise mais profunda.
Resido em São Bernardo do Campo e atuo na área da educação. Professores são constantemente massacrados pela sociedade, que lhes impõe – sem pedir seu consentimento – coisas que vão muito além da tarefa de ministrar aulas. A eles é imposta a tarefa de educar (não no sentido pedagógico, mas no mais primitivo da palavra, pois muitas vezes as crianças chegam à escola sem essa condição, que deveria vir através do processo de socialização, que se dá no seio familiar), de servir de babás, de psicólogos, além de aturar situações de desrespeito e violência moral e às vezes até física. Professores também sofrem bullyuing, mas disso os jornalistas, como Gilberto Dimenstein, que não poupam esforços em denegrir a classe dos educadores, nunca se lembram.
Preocupado com a possibilidade de que uma injustiça fosse cometida, conversei com pessoas que conhecem a professora e afirmaram que houve certo exagero na descrição dos fatos. Assim eu soube que se trata de uma boa professora e – segundo me narraram, é importante lembrar que não presenciei os fatos – o seu “delito” consistiu em, ao se deparar com a desordem (para não dizer o caos) nas classes, dizer que pediria a Deus que a aula transcorresse de forma tranquila. Segundo outros, ela fazia cinco minutos de reflexão (baseada em ensinamentos bíblicos, o que teoricamente fere o princípio da laicidade). Observando o site do Diário do Grande ABC é possível perceber pelos comentários online que a maioria dos alunos apoia a professora, porém também fica claro que a grande maioria desconhece o princípio do Estado laico. Curiosamente, existem também aqueles que afirmam que “Bem, o que este veículo de comunicação fez foi gritar para todos os praticantes de cultos afros, para que eles coloquem em prática a CRISTOFOBIA, vamos supor que nesta sala de aula estudem 40 alunos, e 35 sejam cristãos, e 5 sejam de outras crenças. Enfim, ensinam que a DEMOCRACIA do PT é: A MAIORIA CALA A BOCA” – Uma tremenda manifestação de desconhecimento do que é diversidade, democracia, cidadania, além de uma apologia à intolerância e ao fanatismo.
Direitos existem para todos, mesmo para as minorias. Mais assustadora do que a possibilidade da pregação por parte da professora, é essa manifestação obtusa de apoio.
Não se trata, porém, de apoiar ou não a professora. Trata-se de ser justo. Que o Estado é laico todos já sabem, é fato e não há o que discutir. E se houve a pregação religiosa, também fica óbvio que o erro aconteceu, pois um professor deve, no mínimo, conhecer a legislação que norteia seu trabalho. Porém todas as partes devem ser ouvidas, para que não cometam injustiças e nem exageros no julgamento do caso.
Em nota oficial, a subsede da APEOESP (sindicato dos professores do estado de São Paulo) afirma que não houve tal prática denunciada pelo Diário do Grande ABC e que a escola Antônio Caputo é uma referência no trabalho de resgate da cultura afro-brasileira, conforme determina a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional no seu Art. 26-A: “Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena”. (Redação dada pela Lei nº 11.645, de 2008).
Enfim, antes que, em nome da luta contra a intolerância nos tornemos intolerantes e inquisidores também, é melhor que acompanhemos o fato, sem corporativismo profissional ou de credo, zelando pelo cumprimento da lei, que garante a laicidade do Estado. Que a verdade venha à tona e que a professora Roseli tenha o amplo direito de defesa (o de crença já é garantido pela lei – fora dos muros da escola) e que em nome de nosso pai Xangô, nenhuma injustiça seja cometida, principalmente por nós, que clamamos tanto pelo respeito e pela tolerância.
Douglas Fersan
15/04/2012
quinta-feira, 5 de abril de 2012
Professora evangélica prega em aula e aluno sofre bullying na escola
Adolescente de 15 anos passou a ser vítima de bullying e intolerância religiosa como resultado de pregação evangélica realizada pela professora de História Roseli Tadeu Tavares de Santana. Aluno do 2º ano do Ensino Médio na Escola Estadual Antonio Caputo, no Riacho Grande, em São Bernardo, o garoto começou a ter falta de apetite, problemas na fala e tiques nervosos.
Ele passou a ser alvo de colegas de classe porque é praticante de candomblé e não queria participar das pregações da professora, que faz um ritual antes de começar cada aula: tira uma Bíblia e faz 20 minutos de pregação evangélica aos alunos. O adolescente, que no ano passado começou a ter aulas com ela, ficava constrangido. Seu pai, o aposentado Sebastião da Silveira, 64 anos, é sacerdote de cultos afros. Neste ano, por não concordar com a pregação, decidiu não imitar os colegas. Eles perceberam e sua vida mudou.
Desde janeiro, ele sofre ataques. Primeiro, uma bola de papel lhe atingiu as costas. Depois, ofensas graves aos pais, que resolveram agir. "Ficamos abalados", disse Silveira. "A própria escola não deu garantias de que meu filho terá segurança."
O garoto estuda na unidade desde a 5ª série. Poucos sabiam de sua crença. E quem descobria se afastava.Da professora, ouviu que pregação religiosa fazia parte do seu método. Roseli não quis comentar sobre o caso.
A Secretaria Estadual da Educação promete que a Diretoria de Ensino de São Bernardo irá apurar a história e reconhece que pregar religião é proibido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Na escola, os alunos reclamam da prática. "Não aprendi nada com ela. Só que teria de ter a mesma religião que ela", disse um menino de 16 anos.
‘Nossas crianças não têm direito a ter uma identidade. São discriminadas'
A presidente da Afecab (Associação Federativa da Cultura e Cultos Afro-Brasileiros), Maria Campi, anunciou que dará amplo suporte à família de Magno pelo que o garoto vem sofrendo. "Nossas crianças não têm direito a ter uma identidade. São discriminadas quando usam as vestimentas. Falta estudar mais as culturas africanas", completou.
Um registro de ocorrência foi feito no 4º DP (Riacho Grande), e a Comissão de Liberdade Religiosa da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e o Ministério Público foram acionados. "O Estado brasileiro é laico e não pode promover uma religião específica através de seus agentes. É preciso compreender a importância do respeito à escolha do próximo", disse a presidente da comissão, Damaris Moura.
"Escola não é lugar para se fazer pregação", definiu Carlos Brandão, doutor em Educação pela Unesp (Universidade Estadual Paulista). "O superior que está permitindo isso não está só indo contra a lei, mas sim prejudicando a moral dos alunos."
Até mesmo pais evangélicos de alunos do local criticam a postura. "Nunca foi falado em casa que ela fazia isso. Senão eu reclamaria, é errado", disse a doméstica Edemilda Silva, 46 anos, moradora do Capelinha. Seu filho, 13, está na 8ª série do Ensino Fundamental e confirmou a atitude da professora. "Se quiser ouvir a palavra, vou na igreja. "
Fonte: Diário do Grande ABC - 28/03/2012
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