quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Espírita ou Umbandista - por Douglas Fersan



Não raras vezes ouvimos irmãos-de-fé que praticam e freqüentam a Umbanda referirem-se a si próprios como “espíritas”. Fato muito comum.

Mas afinal, são espíritas ou umbandistas?

Muitos responderão cheio de convicção: todo umbandista é espírita. Ora, se é assim, vamos sofismar um pouco: se todo umbandista é espírita, o inverso também vale, ou seja, todo espírita é umbandista, correto?

Obviamente que não. Aliás, se alguém tem alguma dúvida quanto a isso, basta perguntar a um espírita (e nem precisa ser daqueles mais ortodoxos) se ele é umbandista. Certamente a resposta será um belo e redondo “NÃO”.

Estaria errado esse espírita? A resposta mais uma vez é não. Ele está correto, afinal em sua doutrina não se faz oferendas, defumações, não existem pontos cantados ao som dos atabaques, incorporação dos falangeiros dos orixás, etc. Além disso, na própria bibliografia de Kardec, que forma a base doutrinária dos espíritas, está bastante claro que o termo “Espiritismo” refere-se à filosofia descrita ali, no Pentateuco kardequiano, e não às demais práticas espiritualistas.

Mas se o espírita não aceita se declarar como umbandista, por que o contrário deveria acontecer? Deveria, obviamente, mas não isso o que acontece. Muitos e muitos umbandistas se autodenominam espíritas – ou acreditam que realmente o são, não percebendo que existe um leque de diferenças abissais entre as duas religiões.

Para entender melhor essa questão é preciso recorrer à História, sempre sábia e pronta a nos dar respostas.

A corrente umbandista que tem em Zélio Fernandino de Moraes o seu fundador, diz que a Umbanda nasceu em um centro espírita, diante da recusa dos seguidores de Kardec em aceitar a manifestação de espíritos que na sua concepção eram atrasados e/ou ignorantes, como caboclos e pretos-velhos. Essa passagem já serve para nos mostrar que existe uma diferença colossal entre o Espiritismo e a Umbanda, já que o primeiro não aceita a manifestação de espíritos que formam o pilar da segunda.

Mas há quem argumente dizendo que para a espiritualidade não existem fronteiras. Mas para nós existem. Tanto existem que a espiritualidade se dividiu em dezenas de religiões, as mais diversas, para que cada uma atendesse às necessidades das pessoas em seu espaço e tempo. Se as diferenças não fossem necessárias para a compreensão e evolução moral de cada sociedade, a espiritualidade se encarregaria de criar uma religião única. Se as diferenças existem, é porque precisamos delas (alguns podem seguir uma religião mais liberal, pois possuem discernimento para isso; outros precisam de religiões com mais rédeas, pois são pessoas que precisam de mais regras em sua vida, e assim por diante, apenas para exemplificar).

Ainda recorrendo à História, vale lembrar que a Umbanda agrega diversos elementos africanos em sua liturgia – desde os espíritos dos pretos-velhos, até os falangeiros dos orixás e os atabaques – e não é segredo para ninguém que a construção de nossa sociedade se alicerçou em uma ideologia eurocêntrica, que classificava tudo que era de origem africana (leia-se negra) como inferior, atrasada e ruim. Assim, cultos que agregam elementos negros, como a Umbanda e o Candomblé foram vistos como coisa de gente ignorante e atrasada, além de sofrer repressões das mais diversas formas. Não raras vezes, terreiros de Umbanda e Candomblé eram atacados e destruídos. Até hoje existem aqueles que se referem a esse culto como “baixo espiritismo” – puro senso comum e manifestação de desconhecimento.

Durante os primeiros anos da república no Brasil, não eram raras as perseguições. Porém, durante a Era Vargas (1930 – 1945) surgiram vários terreiros de Umbanda que se denominavam espíritas, pois nessa época as elites mais esclarecidas eram simpáticas ao Espiritismo. Assim, denominando-se espíritas, os umbandistas conseguiam trabalhar em paz, sem ser incomodados pelas autoridades. Surgiram então, diversos terreiros que carregavam o status de “espírita” em seu nome, como “Centro Espírita Caboclo Pena Verde”, “Tenda Espírita Pai João de Angola” e assim por diante.

Ainda hoje muitos aceitam bem o Espiritismo, mas ainda têm reservas com a Umbanda, por não conhecê-la bem. Se alguém se declara espírita é bem aceito, mas se por acaso se declarar umbandista, corre o risco de sofrer algum tipo de preconceito. Por isso muitos preferem se dizer espíritas no lugar de se assumir como umbandistas de fato. Esses o fazem de forma consciente, como um mecanismo de defesa.

Porém existem aqueles que são umbandistas, mas se dizem espíritas e acham que estão corretos, pois acreditam tratar-se da mesma religião. A esses falta entendimento da própria religião que professam e, mais que isso, falta vestir a camisa da Umbanda, sentir orgulho dela.

Mesmo aos que se dizem espíritas como maneira de se defender falta vestir essa camisa. A legislação brasileira garante a liberdade de culto e o respeito aos diferentes credos. Qualquer manifestação de intolerância pode e deve ser denunciado, portanto já passou do momento de vestir a camisa da Umbanda, de se assumir umbandista e ter orgulho dos seus orixás, entidades e fé. Não devemos ter medo dos olhares ignorantes que nos taxam como macumbeiros, feiticeiros ou o que for. Perante eles devemos assumir a nossa condição e dar o bom exemplo, para que compreendam o que realmente é a Umbanda e saiam das trevas da ignorância. Não existem motivos para ficarmos acuados e envergonhados da nossa religião. Não somos a maioria da população (ainda bem, pois a Umbanda não é uma religião de massas, e sim de pessoas preparadas para ela), mas temos o direito de ser respeitados e esse direito começa a ser exercido quando perdemos a vergonha de ser o que realmente somos e passamos a ter orgulho da nossa condição.

Espírita é o seguidor de Kardec – ao qual devemos o maior respeito pela linda doutrina que seguem.
Mas nós somos umbandistas, acreditamos no Orixá, cultuamos o preto-velho, o caboclo, as crianças e recebemos a proteção de Exu. Temos rituais próprios, temos sacerdotes e liturgia própria. E nos orgulhamos disso.

Douglas Fersan – 05/01/2012
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2 comentários:

Daniel Vinhas disse...

Douglas, muito oportuna esta postagem.
Antigamente eu mesmo me identificava como espírita, mas hoje faço questão de deixar claro que sou umbandista.
Admiro, respeito e busco conhecer a codificação espírita, mas é preciso termos claro que somos o que somos. UMBANDISTAS.
Assim como Candomblé e Umbanda são religiões bem diferentes quanto a doutrina, mística, ritual e origens, a Umbanda também é diferente do Espiritismo..

RESPEITAR O ESPÍRITISMO, SIM, CONHECER A DOUTRINA ESPÍRITA, SIM SE FOR DO INTERESSE, MAS CONFUNDIR-NOS COM O ESPIRITISMO NÃO

Jessy disse...

Pessoal,
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Que minha mãe te abençõe.
Filhas de Oxum.