sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Oxum é a mãe das águas doces - Babalorixá Newton de Almeida




Num dia qualquer de minha vida, sem real porquê, sentado numa pedra, fiquei a contemplar as cascatas que despreocupadamente deixavam suas águas rolarem num torvelinho cristalino e invejei a natureza por ser dádiva divina.  Foi então que se fez presente uma forma de mulher, uma figura bela, de olhar tranquilo e profundo, como o mais profundo lago.  Vestida de azul com reflexos celestiais, ela se aproximou de mim, dizendo que a cachoeira que eu estava ali a admirar nada mais era que o véu puro que encortinava sua morada.

Chorei de emoção ao ouvir sua voz.  Ela, porém, num gesto muito terno, ofereceu-me a ponta de seu manto para que eu enxugasse meu pranto.  Sem ousar olhá-la, beijei-lhe com gratidão a fímbria de sua veste e nessa humildade encontrei a minha verdade.

Fui banhado então, não pelas águas da cachoeira, mas com pétalas de rosas que, com seus fluídos, fizeram-me renascer para a vida e para o amor, extirpando do meu ser todas as amarguras, fazendo-me ver nas desventuras apenas sombras fenecidas.  Flamejante, senti a força de sua luz que iluminou um novo caminho, um caminho melhor, sem mágoas e sem espinhos, que para gáudio meu, era um tapete florido de minha existência, que percorria compassos seguros, sem temer, guiado por sua mão.  Repentinamente a bruma da incerteza se esvaiu, dando passagem a uma visão futura, com a qual fiquei atônico, ao ver a mim mesmo.

Uma concha dourado entreabria-se, deixando que eu entrasse nela; atrás de mim restavam apenas folhas caídas de um passado outono.  Elas cobriam todos os dissabores, a inveja, a calúnia e até as pessoas que foram falsas amigas.  À minha frente estava ela, tão divina, tão graciosa na leveza de seus encantos.  Foi então que ao encontrá-la, Mamãe Oxum, encontrei a mim mesmo, pois dentro do meu ser somente existe lugar para o amor e a harmonia.

E mais uma vez bendigo tê-la achado, minha mãe, Divina Oxum.


Babalorixá Newton de Almeida

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A origem do Ogan - Autor desconhecido



Num tempo muito distante, o orun (ceu) era lugar de grandes festas. Os orixás (protetores de cabeças) lá se reuniam para celebrar a vida. Exu era o grande animador daquelas festas porque era ele quem tocava os tambores e 
que entoava as mais belas e alegres cantigas. E ele ficava todo prosa por exercer tal função. Certo dia, entendendo que estava difícil conversar ao mesmo tempo em que o som dos tambores ecoavam, os orixás pediram para Exu que parasse com aquela cantoria e toques. E assim se deu: Exu deixou de tocar e cantar nas festas.


 Sem muita demora, os orixás perceberam que festa sem tambores e sem cantoria, não era festa. Eles se reuniram novamente e decidiram pedir para que Exu voltasse com toda a animação. Mas ele não aceitou: estava profundamente magoado com o pedido do grupo, uma vez que ele desempenhava tais atividades com tanto fervor e o impediram de continuar. Os orixás insistiram bastante até que Exu disse: “Perdi totalmente a vontade de cantar e tocar para vocês, mas vou passar a tarefa para a primeira pessoa que se colocar na minha frente”.


 E assim aconteceu. Ogan, um jovem rapaz caminhou na direção de Exu. Exu olhou para ele e o escolheu para inicia-lo na arte dos cânticos e toques em louvor aos orixás. Ogan, prontamente aceitou o convite de Exu, era rapaz esforçado e que queria aprender.


 Tão bem Exu o ensinou Ogan e Ogan tão bem aprendeu a animar as festas dos orixás que em sua homenagem, Exu estabeleceu que todo o homem responsável por animar as festas dos orixás deveria receber o cargo de Ogan.





Autor desconhecido.