Num dia qualquer de minha vida,
sem real porquê, sentado numa pedra, fiquei a contemplar as cascatas que
despreocupadamente deixavam suas águas rolarem num torvelinho cristalino e
invejei a natureza por ser dádiva divina.
Foi então que se fez presente uma forma de mulher, uma figura bela, de
olhar tranquilo e profundo, como o mais profundo lago. Vestida de azul com reflexos celestiais, ela
se aproximou de mim, dizendo que a cachoeira que eu estava ali a admirar nada
mais era que o véu puro que encortinava sua morada.
Chorei de emoção ao ouvir sua
voz. Ela, porém, num gesto muito terno,
ofereceu-me a ponta de seu manto para que eu enxugasse meu pranto. Sem ousar olhá-la, beijei-lhe com gratidão a
fímbria de sua veste e nessa humildade encontrei a minha verdade.
Fui banhado então, não pelas
águas da cachoeira, mas com pétalas de rosas que, com seus fluídos, fizeram-me
renascer para a vida e para o amor, extirpando do meu ser todas as amarguras,
fazendo-me ver nas desventuras apenas sombras fenecidas. Flamejante, senti a força de sua luz que
iluminou um novo caminho, um caminho melhor, sem mágoas e sem espinhos, que
para gáudio meu, era um tapete florido de minha existência, que percorria
compassos seguros, sem temer, guiado por sua mão. Repentinamente a bruma da incerteza se
esvaiu, dando passagem a uma visão futura, com a qual fiquei atônico, ao ver a
mim mesmo.
Uma concha dourado entreabria-se,
deixando que eu entrasse nela; atrás de mim restavam apenas folhas caídas de um
passado outono. Elas cobriam todos os dissabores,
a inveja, a calúnia e até as pessoas que foram falsas amigas. À minha frente estava ela, tão divina, tão
graciosa na leveza de seus encantos. Foi
então que ao encontrá-la, Mamãe Oxum, encontrei a mim mesmo, pois dentro do meu
ser somente existe lugar para o amor e a harmonia.
E mais uma vez bendigo tê-la
achado, minha mãe, Divina Oxum.
Babalorixá Newton de Almeida
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