segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Fechar na quaresma? - Pai Ronaldo Linares



A tradição de se fechar os Templos de Umbanda quando não havia liberdade de crença não tem razão de ser no mundo atual.  Muito ao contrário do que se pensa, é nessa época que NÃO DEVEMOS PARAR, é nessa época em que espiritualidade maligna trabalha à vontade, que o Templo deve estar prepara para, com o auxílio das Entidades de Luz, denunciar qualquer trabalho negativo que tenha sido feito para atrapalhar seus filhos de fé ou frequentadores.  Atualmente, interromper os trabalhos do Templo na quaresma é descabido, é ingenuidade, é desconhecer que os inimigos trabalham nas trevas e que, se não temos o preto velho, o caboclo ou qualquer entidade que possa nos avisar do mal feito, estamos desprotegidos, descobertos, ou seja, nas mãos dos inimigos.

É preciso urgentemente esclarecer que a quaresma não é afro, é hebraico-europeia, e que já não é preciso se esconder de ninguém, pois nossa Constituição assegura o direito à liberdade de crença e os padres não podem mais nos queimar nas fogueiras da inquisição.  Por isso vamos abrir nossos Templos de Umbanda na quaresma e cuidar com amor dos nossos filhos de fé.

Pai Ronaldo Linares - Presidente da FUGABC

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sábado, 9 de fevereiro de 2013

Cuidados a serem tomados num terreiro - por Rodrigo Queirós


Primeiramente quando chegar à porta do terreiro, peça licença aos guardiões da casa. 
Dentro do terreiro, sinta o ambiente, feche os olhos e respire fundo (a respiração é a base da vida, os ciclos e ritmos - o Fole Vital). Inspire os perfumes, as essências do Templo. Elas lhe despertarão sentimentos e prazeres jamais sentidos. Experimente...
Quando as entidades estiverem incorporadas, visualize bem e sinta a vibração do atabaque e das entidades. 
No passe é necessário que você sinta a vibração da entidade, ou quem não sente vibração sentirá qualquer outro tipo de sensação que mostrará se a entidade está ali ou se é uma mistificação.
Qualquer tipo de entidade da linha branca não tem linguajar grosseiro nem fica falando da vida de outros ou até mesmo falando que fulano fez isso aqui ou macumba acolá.
As entidades têm sempre que deixar uma mensagem de conforto. Se isso não acontecer fale com a entidade chefe, pois pode estar havendo mistificação!
Tomar muito cuidado com médiuns mistificadores, não existe na lei de Umbanda Sagrada cobrar para fazer trabalho, muito menos a própria entidade falar que tem que ser cobrado. Isso é um imenso desrespeito com nosso Senhor Zâmbi (Deus) e com as entidades. Existem muitos engraçadinhos que querem ganhar a vida através de mistificação, portanto cuidado, irmãos!

Publicado originalmente na primeira edição do JUS, em 1999.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Espírito tem forma? - por Douglas Fersan


Espírito tem forma? - por Douglas Fersan

Um tabu que permeia o meio umbandista é aquele sobre as imagens das entidades.  Como realmente seria o Caboclo Tupinambá?  Qual a aparência do Exu Marabô?  Com quem se parece o Preto Velho Pai João Benedito? 

Nossos olhos, extremamente humanos e carnais pedem uma representação - isso não acontece somente na Umbanda, a Igreja Católica faz uso das imagens há séculos a fim de estabelecer um elo entre o fiel, sua fé e o santo representado.  O princípio dessa lógica na Umbanda não é muito diferente, porém temos, em nossa religião, uma particularidade a essa respeito.

Em primeiro lugar, sabemos que as entidades de Umbanda trabalham em falanges, isso significa, na prática, que não existe apenas um Caboclo Tupinambá, um Exu Marabô ou um Preto Velho Chamado Pai João Benedito.   Existem sim várias -  centenas ou milhares - entidades que trabalham em cada uma dessas falanges e, como a Umbanda é uma religião que prima pela humildade, pelo trabalho sem estrelismos, cada um dos trabalhadores dessas falanges assume o nome de seu líder.  Isso explica porque baixam dois, três ou mais Zés Pelintras num mesmo terreiro, no mesmo momento: porque são diversos trabalhadores da mesma falange usando o mesmo nome.

Mas e quanto à sua forma física?  Ou melhor, quanto à sua forma espiritual?  Será que todos aqueles que se apresentam como Zé Pelintra são negros e vestem terno branco e chapéu panamá?  Se houver essa regra quanto à aparência, algo não faz sentido nessa história de os espíritos trabalharem em falanges.

Uma coisa que chama a atenção é o fato de os caboclos, que representam e estereótipo do nativo brasileiro, ser muitas vezes representados como os caciques estadunidenses, com aqueles cocares típicos que se arrastam ao chão.  Mais alguma coisa não faz sentido.

É provável que as pombogiras sejam realmente bonitas, isso faz parte do seu estereótipo, mas por que será que alguns insistem em representá-las, tanto nas pinturas como nas imagens de gesso, com roupas vulgares (diferente de sensuais) e às vezes até seminuas?  Será que alguns umbandistas querem reforçar o senso comum de que elas eram prostitutas.  Erro crasso, e se alguém discordar, que venham as pedras, não caio no senso comum.

Os compadres exus provavelmente são os que mais sofrem com as deturpações sobre a sua imagem.  Basta ir a uma loja de artigos de Umbanda para encontrarmos imagens de exus com chifres, pernas de bode e rabo com uma seta na ponta.  Existe até uma explicação histórica para isso: a fim de manter os intolerantes afastados, usava-se essas imagens para assustá-los e evitar que profanassem os trabalhos entregues em encruzilhadas e outros pontos de força.  Porém essa interpretação das coisas parece ter apenas se reforçado com o tempo.  Tendo exu um caráter extrovertido, talvez até tenha se divertido (e se utilizado) dessa situação em algum momento, mas não podemos tomar isso como via de regra.

Certa vez, conversando com o Exu Pimenta, ele me disse ser um senhor muito respeitável e como tal, gostava de estar sempre elegante e com boa aparência, mas que as pessoas insistiam em representá-lo de uma forma assustadora.  Disse que o seu trabalho independia dessa imagem que haviam criado para ele, mas que havia um equívoco nela.

Muitas vezes esquecemos que espírito não tem forma, é energia.  É provável que muitas vezes assuma a forma que lhe convém.  Mas que fique bem claro: que convém a ele, e não a nós, que temos a infantil tendência de mistificar e folclorizar as entidades que tanto nos servem.  Um pouco de estudo e critério nesse assunto com certeza nos seria útil, pois nos faria mais respeitados se fôssemos menos folclóricos.

Umbanda é religião, não é folclore.

Douglas Fersan.

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