sábado, 5 de setembro de 2015

Sou uma andorinha nesse inverno hostil - por Douglas Fersan

Hoje eu gostaria de colocar uma mensagem de alegria, de felicidade aqui, mas será possível?  Nessa semana o mundo se chocou com a imagem (que de tão triste prefiro não colocar aqui na nossa página) do menino sírio que morreu afogado quando a  família tentava refúgio e a embarcação naufragou no litoral da Turquia.

Ora - dirão alguns - todos os dias morrem centenas de pessoas, crianças, inclusive, de fome, de frio, de sede...  É verdade. Infelizmente é verdade.  Mas poucas vezes surgem imagens que chocam tanto, e quando elas aparecem e causam comoção, talvez seja a oportunidade para repensarmos nossa imperfeita condição humana.

Até quando fronteiras geográficas irão nos impor fronteiras fraternais e espirituais?  Até quando permitiremos que a cor da pele, a crença, a condição sexual, a origem geográfica nos separem entre melhores e supostamente piores?

Até quando permitiremos que seres inocentes, os quais nos foram confiados por Deus, sofram pelas nossas sandices?


Quando vi aquela foto, do menino de bruços na areia, não pude deixar de pensar nos meus filhos. Quantas vezes os troquei, vesti, coloquei sapatinhos... da mesma forma que os pais daquele menino fizeram com ele.  Tudo que queremos para nossas crianças é a felicidade, é um mundo melhor.  O problema é que costumamos querer isso para as "nossas" crianças, esquecendo de tantas outras crianças que existem no mundo. Acabamos deixando que os nossos idiotas valores adultos se tornem mais fortes que essa necessidade de cuidar de tanta infância dispersa por aí.

Hoje estou de luto. O mundo deveria estar de luto. Não só pelo menino, mas por toda nossa imperfeição. Pela nossa vergonhosa imperfeição, pela mesquinhez dos donos do poder e pela nossa inércia e burrice em permitir que eles e seus valores continuem sendo ditados como nossos valores.

Apesar de ser uma das poucas andorinhas nesse inverno, espero que um dia possamos fazer verão.

Tristeza profunda.
Douglas Fersan
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