terça-feira, 29 de dezembro de 2015

A procissão das almas - por Douglas Fersan


Sofrer com a dor da perda, da morte, é inevitável. Não temos o direito de condenar aqueles que choram quando um ente querido parte. Porém, como espiritualistas que somos, temos ao menos que procurar entender que a morte é parte de um ciclo inevitável de transições às quais temos que passar para atingir uma etapa evolutiva. Contam que em uma longínqua aldeia da antiga África, uma peste tomou conta do lugar. Pais e mães, esposas e maridos, filhos e filhas choravam a morte de seus entes queridos. Revoltados por não conseguir conter a fúria daquela doença, voltaram-se contra Olorum, o Criador supremo, e passaram a blasfemar contra ele. Até que um dia um velho apareceu na aldeia, com o corpo todo coberto por uma roupa feita com palha da costa. Todos ficaram apreensivos, achando que ele poderia ser portador de mais doença que dizimaria todos os moradores do lugar. Calmamente o velho explicou que ele era na verdade um portador da mensagem de Olorum, e que mostraria que a vida transitória no Ayê (Terra) era apenas parte de um ciclo. Retirou a roupa de palha, ficando completamente nu. Muitos viraram o rosto para não ver as chagas horrendas que cobriam seu corpo. Mas o velho colocou-se de joelhos e passou a rezar, pedindo a Olorum que o ajudasse a carregar o seu fardo. Diante da sua fé imensa, uma ventania se fez e as feridas estouraram e saltaram de seu corpo, como se fossem pipocas, as rugas desapareceram e o velho Omolu se tornou um jovem belo e forte, agora chamado de Obaluaê, o novo. Ficou em pé e disse para todos que estavam ao redor: _Perceberam como a fé na força maior é capaz de causar transformações? Assim é o ciclo da vida, uma eterna transformação. Se encararem a transição com fé, ela será menos dolorosa para quem partiu e para quem ficou. A dor não será tão grande e a evolução de ambos os lados se dará de forma mais rápida. A palavra, meus irmãos, é a fé. Nesse instante, todos se ajoelharam e entoaram, com toda a força da fé, um cântico: É Obaluaê, é Obaluaê, é Atotô... Nesse instante, quem olhou para o céu viu a procissão das almas partindo para o infinito, em direção a um mundo de paz e luz. De onde estavam, acenavam felizes para para os seus entes queridos que ficavam na Terra. Graças ao velho Omolu o povo entendeu que toda transição é menos sofrida quando é compreendida. E a compreensão transforma o velho em novo, Omolu em Obaluaê. Até hoje, na África e em vários cantos do mundo, quando se sente a presença de Omolu/Obaluaê, o povo usa a saudação "Atotô", que significa "silêncio", pois ele está em Terra.

Douglas Fersan
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