sexta-feira, 3 de julho de 2009
A Umbanda não é popular - Douglas Fersan
A palavra “popular” pode ter duas interpretações. A primeira delas refere-se a algo ligado a pessoas humildes, do povo e até – sem querer, em hipótese alguma, demonstrar algum tipo de preconceito social – a pessoas de pouca instrução formal. Outra interpretação que pode ser dada à palavra “popular” é aquela que se refere aos fenômenos de massa. Nesse caso, a Umbanda não é popular.
Longe de ser elitista, pois bem sabemos que não é o caso, a Umbanda não é popular no sentido de abranger e mobilizar grandes massas. Populares são as religiões neopentecostais, como a Universal do Reino de Deus ou a Renascer em Cristo, por exemplo. Essas sim, são populares, atingem grandes públicos, mobilizam multidões e lotam estádios a um simples chamado de seus líderes (e que isso não seja entendido como uma crítica, ao contrário, é um fator positivo dessas religiões, deixando juízo de valores de lado).
A Umbanda mobiliza suas multidões em datas específicas, como as festividades a Iemanjá, como as ocorridas nos municípios de Praia Grande e Mongaguá, mas que na verdade trata-se da reunião de diversos micro-universos umbandistas, utilizando apenas a mesma data e local para seus cultos, na maior parte das vezes, diversificados. Nas demais datas, o que se vê são alguns terreiros lotados de pessoas em busca de curas ou soluções para seus problemas materiais – pessoas essas que em sua maior parte não retornarão após solucionadas suas questões – ou pequenos templos improvisados, onde irmãos-de-fé movidos a boa vontade arrastam alguns móveis a fim de abrir espaço para atender alguns poucos necessitados que os procuram – e que dificilmente também retornarão após a solução de seus problemas.
A Umbanda é popular no sentido de ter nascido e sobrevivido dentro das camadas mais humildes da população, mas está longe de ser um fenômeno de popularidade. Seria mais correto então, afirmar que a Umbanda, além de um caminho, uma religião e uma filosofia de vida, é também um movimento de resistência, pois mantém viva a tradição, a história e a luta de um povo miscigenado, que não se entregou e não abriu mão de suas raízes.
A Umbanda é perfeita. Tão perfeita que abriga em seu seio as mais variadas vertentes espiritualistas e os mais diversos segmentos sociais, pois na dor todos se igualam, e na busca da solução de seus problemas, orgulhos desmoronam como castelos de areia e doutores, mestres e PHD’s dobram-se à sabedoria e à simplicidade de um preto velho sentado em um banquinho.
A Umbanda não precisa ser popular. Ela precisa ser aprendida, vivenciada e assimilada por aqueles que a praticam. E precisa ser respeitada por aqueles que não a praticam e a desconhecem. Para isso, a Umbanda não precisa ser popular, ela precisa ser desmistificada e exemplificada pelos seus filhos, que tantas vezes agem como pródigos ou adolescentes rebeldes, esquecendo os ensinamentos daquela que os ampara.
A Umbanda é séria e por vezes severa, mas é mãe, e como tal, acolhe seus filhos, mesmo os mais rebeldes.
A Umbanda não é popular, mas é do povo.
É a Umbanda, e isso basta.
Douglas Fersan
Julho de 2009
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10 comentários:
Que bonito! Gostei muito desse texto, parabéns.
Douglas, achei seu post bem explicativo. Espero que possamos continuar conversando sobre isso. visite meu blog e vamos conversar sobre essa religião maravilhosa e perfeita. http://historiasdeumbanda.blogspot.com
Flávia e Carolina, obrigado pelas palavras extremamente generosas e gentis.
Muito bacana, como tudo que é publicado nesse blog.
É curioso como a acepção das palavras mudam com o tempo. Fazendo um paralelo com o texto, cito o caso da MPB (Música Popular Brasileira), no sentido de estilo musical surgida nos idos dos anos 60. Quando do seu surgimento, conceitualmente, era tida como o contrário do erudito, ou seja, fazia parte, majoritariamente, da cultura das pessoas das classes média e baixa.
Um exemplo próximo disso é a cantora Clara Nunes. Bastante popular nos anos 70, dado o tipo de música que cantava, conseguiu grande projeção no cenário musical brasileiro. Acredito que nos dias de hoje, dificilmente a sua música teria o alcance que teve no passado. E muito provavelmente, a sua obra deve ser bem mais adimirada e conhecida por pessoas de classes sociais mais altas ou, até mesmo, por pessoas mais intelectualizadas.
Particularmente, sou contra a polarização ou generalização de qualquer coisa. Pra mim, tudo é relativo! E com a Umbanda não é diferente. As exceções à regra estão aí para não me deixar mentir.
Conceituar a Umbanda como popular ou clássica, preta ou branca, complexa ou simples...enfim, tentar estabeler qualquer tipo de parâmetro ou terminologia, só serve mesmo para fins didáticos, porque, para quem conhece e pratica a Umbanda, qualquer definação será sempre superficial e destoará, em algum ponto, com o conhecimento teórico e prático que cada um de nós tem, visto que a Umbanda não é uma 'franquia', por assim dizer.
Bom, acho que fugi um pouco da proposta do texto escrito pelo Douglas. De toda forma, deixo registrado minhas congratulações pela iniciativa e manutenção do Blog e dizer que é sempre bom trocarmos ideias sobre a nossa religião. É uma forma até de exercitar os nossos conhecimentos e opiniões, abrindo espaço em nossas mentes para outras perspectivas.
Mais uma vez, parabéns aos idealizadores!
Abraço
Obrigado pelo incentivo, Gustavo.
Achei muito pertinentes os seus comentários e creio que podem render um excelente debate.
Apenas uma questão sobre o paralelo que você fez com a MPB. Há alguns anos li uma entrevista na qual o cantor sertanejo Zezé di Camargo dizia que ele e seu irmão Luciano eram mais populares que Caetano Veloso ou Chico Buarque. Analisando pelo conceito que a palavra "popular" adquiriu com o passar dos anos, vejo que ele tinha razão, muito embora eu prefira o Chico ou o Caetano. Citei a tal entrevista porque ao ler seu comentário ela me veio à mente e acho que serve para ilustrar a questão.
Um forte abraço.
Estou lendo o livro 'Legiões' do Robson Pinheiro e tem uma passagem interessante no segundo capítulo
que, acredito, tem a ver com o texto. Apesar de não gostar muito da narrativa do livro, ele nos traz algumas questões bastante interessantes.
Ao ser inquirido sobre o despreparo dos espíritos sofredores, para os ensinamentos e filosofia espírita ou umbandista, o preto-velho João Cobú explica que "por essa razão é que vemos no mundo a atuação cada vez mais intensa das chamadas igrejas pentecostais e neo-pentecostais,
bem como do movimento católico carismático, os quais abordam a questão espiritual de maneira bem distinta daquela que o espiritismo apresenta. Esses nossos irmãos, com sua fé radical e grande poder de persusão, têm prestado imenso benefício, pois retiram esses espíritos, já reencarnados, de dependências químicas (...).
Conduzem-nos à vivência de algum princípio moral, que desperte neles conceitos elementares, a fim de elevá-los em relação à vida puramente material (...)"
Algum tempo atrás, assisti uma entrevista na tv de um estudioso de várias religiões, na qual ele demonstrava o decréscimo dos adeptos das religiões de origem africana contrapondo ao crescimento dos fiéis das igrejas neo-pentecostais. Um dos fatores atribuídos para esse desequilíbrio reside no fato de que é mais 'fácil' ser evangélico porque existe apenas uma única entidade a ser adorada, que é Deus.
Já as religiões de raiz africana apresentam uma orbe de entidades para serem cultuadas, sem contar
todo ritual praticado no Candomblé, Umbanda entre outras.
Também já li uma entrevista do Divaldo Franco, que, ao ser questionado sobre essa onda de violência no mundo, ele responde que se deve a grande quantidade de espíritos atrasados que têm reencarnado no planeta.
Talvez isso explique um pouco sobre a pouca popularidade da Umbanda.
Acredito PIAMENTE....
Que os Juremeiros, Candomblecistas e UMBANDISTAS....
São Diferenciados....
Principalmente por um DETALHE que li em seu BLOG...
FILOSOFIA DE VIDA...
Ta aí uma Coisa que CREIO que Tú Poderia Explicar...Principalmente aos que estão Entrando AGORA na RELIGIÃO....
Eu Sei que TENHO A BELEZA e a INTELIGENCIA...rsrs
Tú Mesmo Rabugento Douglas tem a Simpatia das Pessoas...hehhee
Mas papo Sério... O Povo te Escuta Velinho...
Tente Mostrar a Eles...
Que SER UMBANDISTA vai Além de Vestir o Branco por Algumas Horas...
E é muito Mais do que Correr Chão afim de Incorporar Logo...
.
Umbanda...Filosofia de Vida...Algo Presente em Nosso Cotidiano...
Acredito que Daria uma boa matéria para seu BLOG...
Tive Sucesso e Grandes Ensinamentos e Conselhos sempre que travei sobre tal argumento em nosso Mundo Religioso...
Como Sempre...Fica meu Parabéns meu Velho....
Concordo com o Juremeiro.
O Douglas bem que podia escrever um artigo sobre a filosofia de vida do umbandista. É alguma coisa que temos que pensar..... e levar mais a sério.
Deixo meus parabéns aos participantes.
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