sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Intolerância religiosa e suas estratégias (repasse) - por Douglas Fersan



A intolerância religiosa se manifesta nas mais diversas instâncias e nem nos surpreende mais. O que surpreende é a falta de bom senso, os artifícios usados para que ela seja praticada.

O Parque do Pedroso, localizado em Santo André (próximo à divisa com São Bernardo do Campo), era uma antiga pedreira, constantemente agredida pela atividade econômica ali praticada.

Durante a década de 1970, a Federação Umbandista do Grande ABC (FUGABC), na pessoa do Pai Ronaldo Linares, encampou, com o devido alvará governamental, a imensa área (645.000m2) - que passou a ser conhecida como Santuário Nacional de Umbanda - e, além de criar um espaço para a prática religiosa umbandista, mantém uma política de preservação ambiental, pois todos os trabalhos ali realizados estão em sintonia com a filosofia da religião, que vê na natureza uma das maiores manifestações divinas, justamente à qual presta culto.

Nenhum trabalho realizado desrespeita ou agride a natureza. Ao contrário disso, a harmonia com a flora e a fauna da região são perceptíveis e fazem parte das regras estabelecidas para aqueles que fazem uso do local. Assim, uma imensa área que seria destinada à degradação, hoje é preservada e respeitada. Mas para alguns isso constitui um “problema” (sim, entre aspas): o problema é que essa área é preservada por umbandistas.

Já faz um bom tempo que o Santuário sofre ataques por parte justamente daqueles que deveriam respeitar os direitos do cidadão (como a liberdade de culto religioso) e do meio ambiente. Sob a absurda alegação de que a estrada de acesso ao local (uma estrada de terra, simples, cercada de mata atlântica) provoca prejuízos ao meio ambiente, representantes do Poder Público tentam fechar o acesso ao Santuário. São os intolerantes de plantão, usando pretextos sem qualquer nexo para tentar impedir a prática de uma religião, a qual com certeza não conhecem ou compreendem). E não vou dizer aqui que são evangélicos, como muitos devem pensar em princípio, pois os verdadeiros evangélicos honram a Bíblia que carregam e sabem respeitar as diferenças. Essas pessoas devem ser taxadas apenas como desconhecedoras e intolerantes, independente da fé que professam.

Na última semana de agosto, a Promotoria Pública de Meio Ambiente do município de Santo André, num ataque descabido, solicitou ao Poder Judiciário que a estrada de acesso ao Santuário fosse fechada. A ação não se concretizou, mas ainda corremos o sério risco de perder esse acesso, nos obrigando a fazer outro caminho, mais longo, no qual os automóveis irão poluir dez vezes mais e a degradação, antes ínfima, será mais notória. É uma simples questão de lógica: a troca de uma estrada curta por outra dez vezes mais longa em nada favorece a preservação do meio ambiente, portanto fica muito clara as intenções por trás de tal atitude.

De qualquer forma o Santuário não será fechado. Se o caminho for dez vezes mais longo, faremos um caminho dez vezes mais longo. Se for cem vezes mais longo, o faremos também, e os orixás hão de tornar a distância mais curta para nós. Porém, não vamos deixar que essa medida arbitrária se concretize. Vamos nos manifestar, enviar emails aos vereadores e demais instâncias do poder público manifestando nosso repúdio, a falta de lógica dessa situação e o desrespeito a uma das maiores manifestações do Estado democrático: a liberdade de culto.

Lembrando mais uma vez que o Santuário não fechará. Mas também não nos entregaremos a essa medida sem luta, sem manifestar nosso repúdio ao ato e o nosso orgulho ao trabalho que vem se realizando honesta e honradamente há quatro décadas. Isso também é levar adiante a Bandeira de Oxalá.

Repasse essa mensagem.

Douglas Fersan
09/09/2011

Um comentário:

Daniel Vinhas disse...

Douglas
Conheço o Santuário de Umbanda, e o trabalho de preservação e conciencia ecológica praticado lá.
É lamental a intolerância se esconder atrás de um discurso pseudo-ecológico para atacar que defende a Natureza como o Reino de seus Orixás.