segunda-feira, 23 de julho de 2012

Vamos sair da ignorância em nome dos Orixás - por Alexandre Cumino

VAMOS SAIR DA IGNORÂNCIA EM NOME DOS ORIXÁS
Alexandre Cumino

De tempos em tempos, aparece algum caso de crime relacionado com Magia Negativa, associado ao mal, chamado vulgarmente de Magia Negra.
De tempos em tempos, vemos associarem alguns destes crimes à Umbanda, ao Candomblé ou aos Cultos Afros em geral.
São crimes bárbaros, macabros mesmo, com mortes de crianças e estupros, motivados pelo que há de pior e mais baixo no ser humano.

Enquanto nós ficamos aqui dizendo que isto não tem nada a ver com Umbanda, Candomblé e Cultos Afros;
os criminosos, presos, se identificam com estas nossas amadas religiões e ainda dizem fazer pactos com satã, demônio, 
quando não colocam os nomes sagrados de nossos guias e orixás no meio de seus crimes hediondos e passionais.

SABEMOS que nossa religião é linda, que não faz pactos, que não existe demônios em nossos cultos.

Há anos, venho batendo na mesma tecla: Umbanda é Religião e só pode fazer única e exclusivamente o bem!

Enquanto isso, pessoas que nem tem idéia do que seja religião continuam abusando de nossos fundamentos e valores de forma negativa e invertida.
O conceito sobre religião está totalmente banalizado e distorcido, qualquer um cria uma nova religião e faz o que quer com ela, esta é a verdade.

Sempre lembro a primeira definição de Umbanda dada por seu fundador, o primeiro umbandista, Zélio de Moraes e sua entidade Caboclo das Sete Encruzilhadas:
Umbanda é a manifestação do espírito para a prática da caridade!

Enquanto isso, no próprio seio da Umbanda, convivemos com praticantes que não tem a menor idéia de quem foi, ou o fez, o primeiro umbandista.
Pessoas que "dirigem" terreiros, que se denominam sacerdotes (pai de santo, mãe de santo, padrinho, madrinha…) e proíbem seus médiuns de estudar.

O medo e a ignorância são portas abertas para as trevas interiores e exteriores.
É aqui que o EGO, a vaidade e os vícios mais baixos do ser humano se instalam.

E todos os dias vemos anúncios de pessoas oferecendo "serviços" de magias negativas em nome de nossos sagrados valores,
de nossa religião, de nossos guias e orixás. Deitam e rolam com os nomes de exu e pombagira, usam e abusam.

As pessoas continuam procurando um atalho, um caminho mais fácil, para externar seu negativismo acumulado,
não querem dor, não querem crescer, não querem assumir seus atos, não querem ser conscientes, querem apenas satisfazer os sentidos viciados
no mundo das ilusões, das paixões que arrastam para atitudes emocionais animalizadas e instintivas.

Ainda se vê na figura do médium um poder de manipular vidas!
Um poder de manipular o destino, um poder que pode ser comprado, negociado.

NÃO EXISTE OUTRA SAIDA PARA A RELIGIÃO,
É PRECISO MUDAR O SENSO COMUM,
É PRECISO ALCANÇAR O INCONSCIENTE COLETIVO!!!

E A UNICA FORMA É COM EXEMPLO E NÃO APENAS COM PALAVRAS.

Um consulente pode apenas frequentar um terreiro, sem ter a mínima idéia do que seja a Umbanda.
Um consulente, um simples frequentador, pode se denominar católico, ateu, à toa e o que quiser…
Este consulente pode, sim, ele pode ser totalmente ignorante…

UM MÉDIUM NÃO PODE SER IGNORANTE!!!
UM MÉDIUM E PRATICANTE DE UMBANDA É FORMADOR DE OPINIÃO, SEMPRE!!!
O MÉDIUM É O TEMPLO DA RELIGIÃO!!! NÃO PODE SER O TEMPLO DA IGNORÂNCIA!!!

Umbanda não é e não pode ser para pessoas ignorantes.
E aqui fica bem claro o sentido e significado da palavra ignorante: aquele que ignora algo.
Não se pode praticar Umbanda de forma ignorante, sem saber o que está sendo praticado.

Quando não estamos bem, e todos passamos por momentos e períodos de negatividade, é o conhecimento, a razão, que nos mantém
dentro de limites e parâmetros seguros. O médium ignorante torna-se uma porta aberta para as trevas.

E vamos continuar vendo casos e mais casos em que a ignorância rouba, assalta, o nome da umbanda e de nossas entidades.

COMO VAMOS MUDAR ISSO???
Ignorância se vence com conhecimento e estudo…

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Banquete de Kiumba - um conto de Douglas Fersan


Sete velas pretas, sete velas vermelhas... – conferiu mais uma vez e lembrou feliz, ao ver que uma tinha se partido ao meio, que comprou uma vela a mais de cada cor, justamente para evitar que um contratempo atrapalhasse o trabalho.
           
            Um carro passou e ela se virou, dando as costas à estrada.  Não queria que ninguém a visse ali, na encruzilhada fazendo uma macumbinha.  Estava bastante convicta do que queria, mas não custava nada evitar ser vista, afinal o que diriam os conhecidos se fosse flagrada com aquela parafernália toda, despachando um “trabalho” na encruzilhada?

            Conferiu a lista mais uma vez: as velas, as bebidas, os charutos, os cigarros...  havia outras coisas também – geralmente mal vistas pelas pessoas, como uma galinha morta, uma língua de boi, um coração...  estava tudo ali.  Não havia esquecido também os pedidos escritos num pedaço de papel.  Já que ia à encruzilhada, resolveu pedir tudo que ansiava.  Pediu que aquela vizinha intrometida se mudasse para bem longe, que a falsa amiga mordesse e língua e se desse mal no trabalho, que aquela sirigaita que lançava olhares insinuantes ao seu namorado quebrasse as duas pernas e, obviamente, que ele, o namorado, ficasse sempre ao seu lado, submisso e escravo do seu amor, cego para outras mulheres e prisioneiro de seus caprichos.  Certamente os exus as pombogiras a ajudariam e ele seria sua propriedade exclusiva.

            _Sim, os exus e pombogiras me ajudarão – pensou novamente, convicta de que os estava pagando muito bem com tudo que aquilo que despejava sobre o chão da encruzilhada.

            Por um momento observou novamente todo aquele material e pensou no quanto gastou com aquilo.  Além do que aquela amiga “macumbeira” havia indicado, comprou outras coisas por conta própria, pois assim acreditava que reforçaria o trabalho. Rosas e cravos vermelhos certamente seriam bem aceitos pelos espíritos, além de um perfume (barato, é verdade) e um alguidar com farofa amarela, tudo colocado sobre uma toalha vermelha.  Se eles a ajudariam com a receitinha dada pela amiga, imagine então com tudo aquilo que acrescentou...  Vendo tudo aquilo, achou que sua oferenda estava acima dos padrões financeiros usados nas macumbas que se vê por aí e adicionou alguns pedidos à sua lista.  Pediu um aumento salarial, a desventura de outro desafeto, além de reforçar o pedido – quase uma exigência – para que o namorado ficasse a seus pés.

            Escondeu-se mais uma vez de outro carro que passava e colocou tudo aquilo sobre o chão.  Colocou de qualquer jeito, nem se deu ao trabalho de abrir as garrafas de bebidas – não comprou das mais baratas, fez questão de lembrar.  Foi aí que recordou que sua amiga “macumbeira” havia dito que os espíritos não conseguem abrir garrafas e nem acender cigarros ou charutos.  Tratou de realizar essa tarefa meio a contragosto e resolveu ajeitar os materiais sobre a toalha. 

            _Até que ficou bonito – disse baixinho.

            Em seguida bateu palmas próximo às velas, conforme a amiga havia ensinado, e chamou pelo nome dos exus e das pombogiras.  Não poupou ninguém: Exu Pimenta, Tranca-Ruas, Exu Veludo, Exu da Meia-Noite, Marabô, Morcego, Maria Mulambo, Maria Padilha, Dama da Noite, Sete Saias...  nomes famosos que permeiam o universo da Umbanda e da Quimbanda.

            Terminado o confuso ritual, deu três passinhos para trás, se virou de costas e tomou seu rumo, certa de que seria atendida em seus pedidos o mais breve possível.  Assim que saiu, um grupo de kiumbas, espíritos zombeteiros e trevosos da pior espécie, se aproximaram daquela bagunça que emporcalhava a via pública e passaram a se divertir com aquele banquete que lhes foi deixado.  Assim que terminasse sua festa, iriam atrás daquela tola menina, a fim de confundir seus pensamentos, dando-lhe falsas impressões de sucesso e esperanças, e em seguida paranoias e sensação de fracasso, que iriam confundir-lhe as ideias, causando medo, insônia, insegurança e toda uma gama de fatores que a fariam ouvir novamente conselhos de pessoas mal informadas, mal esclarecidas e até mal intencionadas como essa amiga “macumbeira”, e iria novamente a uma encruzilhada servir esses kiumbas obsessores vez após vez, até se tornar escrava de sua própria loucura.

            Um pouco distante, os verdadeiros exus e pombogiras, incansáveis trabalhadores do Astral, observavam tristes àquela cena.  Os (verdadeiros) exus da Meia-Noite, Pimenta, Marabô, Morcego, Tranca-Ruas, acompanhados das Senhoras Sete Saias, Maria Mulambo, Maria Padilha e Dama da Noite não interferiram de imediato, pois algumas criaturas não ouvem bons conselhos, não aprendem pelo caminho mais fácil, precisam trilhar o caminho da dor para que o conhecimento sobre a moral espiritual seja compreendida.  Sabiam que aquela pobre coitada teria que sofrer para deixar de ser egoísta.  Teria que sentir os efeitos do mundo espiritual para aprender a respeitá-lo.  Eles sabiam que, após toda aquela bagunça que ela chamava de “trabalho” e de “despacho”, seria perseguida pelos kiumbas e que isso sim a faria procurar um lugar sério, onde eles seriam afastados dela e enfim ela se tornaria também uma trabalhadora da espiritualidade na terra, auxiliando outras pessoas para que não cometessem o mesmo erro.  Ou então, se insistisse na sua teimosia e egoísmo em querer manipular as coisas e as pessoas com a ajuda de espíritos, acabaria se decepcionando por não atingir seus objetivos escusos e se afastaria definitivamente daquilo que ela erroneamente acreditava ser Umbanda.  Não passando pela peneira da Umbanda talvez se convertesse a uma religião da moda e passasse a se autointitular “ex-mãe-de-encosto”...

Douglas Fersan
Julho de 2012.

domingo, 8 de julho de 2012

Bullying nos terreiros - por Jorge Scritori


  Bullying é um termo utilizado para descrever atos de violência física e/ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (do inglês “bully”, “tiranete” ou “valentão”) ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir outro indivíduo (ou grupo de indivíduos) incapaz(es) de se defender.

  Recentemente o termo entrou em evidência com o apoio da mídia e declarações das vítimas, que vêm assumido um importante papel para o controle dessa situação.

  Pois bem!  Como Umbandista procuro de dentro para fora da religião e percebo, junto a relatos de frequentadores e trabalhadores de casas umbandistas que a prática do bullying é bem clara e tratada de forma distorcida.

  Boa parte da prática do bullying é endossada ou justificada pelo “guia”.  O guia, fez, o guia falou, o guia mandou...   Tudo isso em abraço com a tal inconsciência.

  São casos de exposição, de ameaças, de repressão e de medo, fornecidos de forma gratuita.

  Todo médium que aceita essa condição não pode ser encarado como vítima, e sim como consorte da situação.

  Alguns alegam um medo extremo da situação e não têm coragem de dar queixa ou abandonar a casa.   Outros em um devaneio de fé (?) acham tudo normal e totalmente espiritual, o que acaba fortalecendo o processo dentro da casa.

   Entidade ou guia orienta, não aponta o dedo.
  Entidade ou guia sabe o que significa o voto de silêncio mediúnico, sendo assim, não expõe a vida do outro, como se fosse um palco para alguns rirem e outros se amedrontarem.

  Entidade ou guia não denigre, não ofende, não xinga e nem passa por cima do próximo, faz o bem sem olhar a quem.

  O processo mediúnico, religioso e espiritual dentro da Umbanda cria condições para todos tratarem os seus excessos e as suas limitações.

  Há aqueles que abusam desse mecanismo, fazendo da sua sombra interior o coadjuvante perfeito para essa prática hedionda.  Não aceite!  Diga não ao bullying!  Denuncie.

Jorge Scritori

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Entrevista com Pai Ronaldo Linares - por Alexandre Cumino

ALEXANDRE CUMINO: Pai Ronaldo como, quando e por quê o senhor começou a ministrar um curso de sacerdócio aos umbandistas? RONALDO LINARES: Na verdade o curso não nasceu como um curso para sacerdócio. Nós tínhamos uma vivência aqui, onde hoje é o Santuário porque buscávamos um lugar para fazer as oferendas. Este local nos uniu a outras pessoas, pela mata, pedreira e cachoeira. Naquela época eu tinha mais dúvidas que certezas. Eu me sabia médium, incorporava uma entidade, mas não tinha respostas. Toda vez em que ia a um terreiro diziam para bater cabeça, mas ninguém dizia porquê, ninguém informava. Tendo a coragem de assumir que eu não sabia, comecei a fazer perguntas. A princípio, quando nós nos encontrávamos aqui eu propus às pessoas que nos encontrássemos uma vez a cada quinze dias, não para fazer trabalho de Umbanda, não para chamar Guias, mas para discutirmos sobre a Umbanda. Por que temos na Umbanda um altar católico, um ritual afroameríndio, e uma prática espírita? Eu queria entender esse coquetel, eu que vinha do Candomblé tinha uma orientação totalmente diferente do que acontecia dentro da Umbanda. A princípio nos reunimos para discutir alguma coisa, logo, esse grupo que não passava de seis pessoas, passou para quinze e foi crescendo. Nós nos reuníamos ora na minha casa, ora no terreiro de alguém para tomar um café com biscoitos, para discutirmos o que é a Umbanda. Tinha muita teoria e informação desinformando, muito livro que não esclarecia nada. Aí nasceu o “Primeiro Núcleo de Estudos da Doutrina Umbandista”, foi o nome que deram a este grupo. Sem querer, nem sei bem porquê, acabei por assumir a liderança. Este mesmo grupo evoluiu, pois havia muito mais pessoas interessadas em aprender, então isso passou a se chamar “Curso sobre Incorporação, Mediunidade e Desenvolvimento”, que eram as maiores dificuldades. Eu não tinha respostas para, por exemplo, “de onde veio a Umbanda? quem fundou a Umbanda?” A minha grande pergunta, para todos que eu entrevistava, era a seguinte: “Há quanto tempo você está na Umbanda? Qual a Tenda mais antiga que você conhece?” Na esperança remota de poder identificar de alguma forma o veio mais antigo. Se eu encontrasse o primeiro, eu teria respostas, e era o que eu não encontrava. Assim, chegamos a figura de Zélio de Moraes. Foi uma busca incessante e não foi por acaso que chegamos a ele. ALEXANDRE CUMINO: Então foi nessa época que o senhor conheceu o Pai Zélio de Moraes? Estamos falando de que ano? RONALDO LINARES: Estamos falando da década de 70; mas antes de conhecer o Zélio, o curso já havia evoluído para o “Curso de Formação Sacerdotal”, porque a grande maioria dos chefes de terreiro, abriam um terreiro sem saber quase nada de Umbanda. O que acontecia era o seguinte: O indivíduo começava a freqüentar o terreiro e ao cabo de algum tempo ele começava a ver o problema das sombras. Eu explico: O indivíduo que freqüentava um terreiro era na verdade alguém que havia deixado o terreiro porque havia se destacado de alguma forma e causado sombra em quem o conduzia. Então começavam as medidas restritivas, do tipo “daqui pra frente ninguém mais escolhe o Guia”, “quem determina quem vai se consultar com quem é o Guia da Casa”, e isso começava a gerar descontentamento. O médium que mal havia se desenvolvido, de repente, se via numa encruzilhada. Começava a ter o seu trabalho desprestigiado. Então o que acontecia? Um belo dia ele deixava o terreiro, saía pisando duro, se ele tivesse uma imagem no Congá, tirava a imagem de lá, jogava em cima de um armário, em cima de qualquer lugar. Passada a raiva, ele pensava: “Meu Deus do céu, o meu Caboclo não tem nada a ver com isso, aquele pessoal do terreiro não queria que eu trabalhasse, ficaram com inveja dos meus Guias...” Estava um dia lá, arrumava uma toalhinha, punha uma vela de sete dias e achava que o problema estava resolvido. Não! Aí é que o problema começava: Porque as pessoas que ele estava atendendo no terreiro de origem, iam se sentir frustradas, porque justo aquela entidade que estava resolvendo a vida torta dele, os problemas que ninguém mais resolvia não estava mais no terreiro. Mas havia sempre alguém que sabia onde ele morava, então só para resolver aquele problema, as pessoas iam à procura dele em sua casa. “Não, eu não tenho terreiro”... “Mas o seu Guia estava nos orientando”... Então tirava-se a mesinha da sala, ou o carro da garagem para fazer um trabalho só para atender aquele caso; não era pra fazer um terreiro de Umbanda. Mas já que a entidade veio, tinha sempre mais alguém precisando... Quando a gente menos esperava, esse grupo estava se reunindo, uma ou duas vezes por semana, e de repente nascia um terreiro de Umbanda. ALEXANDRE CUMINO: E a gente pode dizer que sem ter tido nenhum preparo e nenhuma base... RONALDO LINARES: O sujeito mal preparado, que mal completou seu trabalho de desenvolvimento pleno no terreiro, de repente se via com a responsabilidade de tocar um terreiro que ele mesmo muitas vezes nem desejava ter aberto. Os terreiros nasciam assim, sem conhecimento, sem base... só na fé. Isto nos levou, mesmo antes de ter encontrado o Zélio, a criar o “Curso de Formação Sacerdotal” com os conhecimentos que nós tínhamos naquele momento. De repente nos éramos mais de 40 e tinhámos perguntas básicas. Nós freqüentávamos o terreiro da Dona Natália e perguntávamos: Dona Natália, como a senhora faz uma gira de desenvolvimento? Aí chegava para o “seu” Osvaldo que tinha outro terreiro e perguntávamos como ele fazia a gira desenvolvimento. Esse pessoal só dava orientação sobre mediunidade, incorporação e desenvolvimento. Só mais tarde que viria o “Curso de Formação”, mas isso tudo, anterior ao Zélio. A necessidade de esclarecer e o encontro daquela revista, foi muito interessante. Primeiro porque eu não acreditava que o Zélio existisse. Em segundo lugar, eu não acreditava que ele tivesse feito o primeiro terreiro de Umbanda. Nosso encontro foi determinante porque ele sabia o que eu queria e dava respostas antes mesmo de eu perguntar. ALEXANDRE CUMINO: Sem entrar no mérito do encontro, já descrito em outras oportunidades, a pergunta é: Qual o impacto deste encontro com Zélio de Moraes para o curso de sacerdócio, e a sua concepção sobre a Umbanda? Mudou alguma coisa? RONALDO LINARES: O impacto realmente foi muito grande. Até então a gente seguia uma orientação que eu trazia das raízes candomblecistas. A partir do momento que eu conheci o “seu” Zélio de Moraes eu fui obrigado a fazer uma manobra à luz de novos conhecimentos. Eu estou sempre disposto a retomar as minhas posições. O encontro com o Zélio de Moraes e a precisão das respostas dele, a antecipação, sabendo ao que eu vinha, não deixavam margem para dúvida. E principalmente o seguinte: O apoio irrestrito que ele deu ao curso. O Zélio achava que o curso era de muita importância, achava que o fato de eu ter sido escolhido de alguma forma para divulgar o trabalho dele, tinha muito com o meu trabalho anterior. De alguma forma ele sabia do trabalho que eu vinha realizando. Apesar de não me conhecer, como eu posso explicar? De alguma forma ele me conhecia, ele sabia meu nome, ele sabia tudo, não precisava me fazer perguntas... Eu nunca o havia visto, nada nos ligava anteriormente, mas o Zélio foi totalmente favorável ao curso, e achava que as perguntas e as repostas se faziam necessárias. Uma coisa que até hoje cria impacto, diz respeito às Sete Linhas da Umbanda. Enquanto eu olho agora para você, eu vejo o Zélio de Moraes desenhando no ar a figura de um triângulo e me dizendo que as Sete Linhas de Umbanda estavam exatamente nas três faces de um prisma. Em outras palavras, na decomposição da luz. Estas seriam as Linhas da Umbanda. Fui obrigado a rever os meus conceitos... Para que não houvesse a menor dúvida sobre o que nós estávamos fazendo, eu levei os alunos dos primeiros “Barcos” lá na Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, onde fomos recepcionados por Zélia e Zilméia e pelo próprio Zélio de Moraes... Essas pessoas tiveram contato com ele... Essas pessoas tiveram a oportunidade de ouvir do próprio Zélio sobre o nascimento da Umbanda. Tivemos que re-arrumar o curso diante desses novos conhecimentos, nos distanciando cada vez mais do candomblé e ficando cada vez mais próximos da doutrina kardecista. ALEXANDRE CUMINO: E o Zélio tinha algum tipo de orientação, ou senhor se lembra de algo que seria importante passar aos sacerdotes, que seja na parte doutrinária, de alguma feitura, de algum preparo que o sacerdote devia ter, alguma firmeza, algum assentamento? RONALDO LINARES: Na verdade o Zélio de Moraes e as pessoas que ele desenvolveu tiveram uma preparação bem doméstica. Elas freqüentavam o terreiro e ele podia dar atenção individual a cada um deles. Havia esse conceito na Tenda Nossa Senhora da Piedade. Ali os médiuns eram preparados. Aliás, ele preferia os médiuns que não sabiam de nada, para ensiná-los desde o princípio. Ele chegou a testemunhar algumas variações no culto umbandista. Ele, pessoalmente, nunca se conformou com o atabaque dentro do terreiro. Ele dizia que o barulho mexia com a cabeça dele. E hoje fica muito difícil de eu dizer isso. Para a comunidade umbandista o atabaque acabou ocupando um espaço que fica difícil você separar. No meu terreiro, seguindo o exemplo, eu não toco atabaque. Aqui, (no Santuário), eu não incomodo ninguém, deixo o pessoal tocar. ALEXANDRE CUMINO: Pai Ronaldo, como o senhor colocaria as diferenças ou semelhanças entre uma pessoa que é preparada dentro de um terreiro para ser um dirigente ou um sacerdote, e a pessoa que procura um curso de sacerdócio para se preparar? RONALDO LINARES: Olha dentro do terreiro você terá apenas a orientação que vem do chefe, do líder desse grupo. Esse chefe pode ter sido, ou não, preparado. Como os cursos são recentes, principalmente os de sacerdócio, nem todos esses antigos tem o conhecimento. Grande parte deles nem sabe quem foi que fundou a Umbanda... nem sabe de Zélio de Moraes, a não ser por ouvir falar... e isso agora, depois de tantos anos batendo na mesma tecla. É muito importante que pelo menos algumas regras básicas todos os cursos seguissem. Até agora não ainda conseguimos atingir esse ideal. Eu acho fundamental que hajam escolas de preparação, porque o conhecimento adquirido num curso será naturalmente transferido. Se você fez um curso de sacerdócio, você é um sacerdote formado, fatalmente as linhas básicas do que você aprendeu, você vai passar para o seu filho de fé. Ele pode até fazer algumas inovações, pode mudar alguma coisa do rito, mas o básico não vai ser alterado. Isso é uma coisa que está sendo montada agora. Veja bem, o cristianismo para chegar no que é hoje demorou dois mil anos. Nós temos cem anos, e pelo menos por cinquenta deles a Umbanda ficou praticamente restrita a grupos pequenos, depois disso é que a gente começou a ver uma divulgação maior. O dogma é uma verdade que deve ser aceita, sem contestação. Hoje a Umbanda é uma religião sem dogmas, onde tudo pode e deve ser contestado. Mas não a contestação pura e simples, e sim algo mais profundo, afinal, tudo tem um porquê de ser na Umbanda. E por isso, é muito importante que o sacerdote tenha uma preparação adequada.

Pastor e discípulo são condenados por intolerância religiosa - Jornal O Dia

Rio - Um pastor e um discípulo da Igreja Pentecostal Geração Jesus Cristo foram condenados pela juíza Ana Luiza Mayon Nogueira, da 20ª Vara Criminal da Capital, por difundir, por meio da Internet, idéias de discriminação religiosa, ofendendo seguidores de outras religiões. Tupirani da Hora Lores, o pastor, e Afonso Henrique Alves Lobato, o discípulo, pregavam através de blogs o fim da igreja Assembleia de Deus, além de praticarem intolerância religiosa contra judeus e afirmarem que as outras religiões são “seguidoras do diabo” e “adoradoras do demônio”. Eles também associavam a figura de pais de santo a homossexuais, menosprezando ambos. De acordo com a sentença, em seu interrogatório, Afonso Henrique confirmou que sua religião prega que, “como discípulo de Jesus Cristo, deve acusar todos os outros conceitos em geral que são contrários ao Evangelho de Jesus Cristo (...), que não existe pai de santo heterossexual, pois todos são homossexuais; que homossexualismo é possessão demoníaca; que uma pessoa que está possuída pelo demônio não merece confiança; e que discrimina todas as religiões”. Ainda de acordo com a sentença, em nenhum momento os dois tentaram justificar suas condutas. Tupirani foi condenado a duas penas restritivas de direito: prestação de serviço à comunidade e pagamento de dez salários mínimos em favor de uma entidade beneficente. Afonso Henrique foi condenado à prestação de serviço e limitação de fim de semana. Um dos mais atacados por Tupirani foi o deputado Átila Nunes, autor da denúncia ao Ministério Público que resultou na condenação do pastor. Ele usou repetidamente vezes a internet para atacar Átila Nunes, não poupando ofensas pelo fato do parlamentar defender umbandistas e candomblecistas. Átila Nunes lembra que o vídeo, já retirado da internet, mostrava um dos fanáticos que recebeu lavagem cerebral do "pastor" Tupirani, dirigente da chamada Ministério Geração Jesus Cristo, cujos seguidores que invadiram e depredaram o Terreiro Cruz de Oxalá no Catete no Rio de Janeiro. O deputado, conhecido pelas suas posições em defesa dos cultos afros, disse que melhor caminho para reagir às agressões físicas e verbais é a Justiça. "Reagir com a mesma violencia igualará os nossos irmãos de fé no mesmo nivel dos fanáticos religiosos"- afirmou.