terça-feira, 4 de junho de 2013
Crianças e Umbanda, como agir? - por Douglas Fersan
Salve nosso pai Ogum.
Como tento fazer sempre, procuro uma imagem do orixá do dia para colocar, junto com uma mensagem, em nossa página do facebook. Pesquisando no Google encontrei essa imagem infantilizada de Ogum (desconheço o autor), que achei muito bonita e interessante, justamente pelo seu aspecto de criança.
No entanto, a imagem me remeteu a pensamentos mais profundos e antigos. Já há muito tempo venho pensando na relação entre a Umbanda e as crianças, filhos de umbandistas. Como pedagogo e pai, essa questão me traz uma certa preocupação.
Como devem se portar as crianças filhas de umbandistas perante as outras crianças, especialmente na escola, espaço que deveria ser de construção e compartilhamento de conhecimentos, mas sabemos que também é um espaço onde os preconceitos se manifestam e um fenômeno antigo, porém nomeado há pouco tempo (o bullying) ocorre com tanta frequência.
Como será tratada uma criança ao responder que sua religião (ou a de sua família) é a Umbanda? Qual será a reação dos professores e das outras crianças?
Numa reunião de pais da escola do meu filho fomos comunicados que as crianças visitariam o Museu Afro-Brasileiro no Ibirapuera, mas a professora rapidamente tratou de tranquilizar a todos "fiquem calmos, pois não visitaremos a parte do museu que trata de Umbanda e Candomblé". Uma pena, pois estão furtando dessas crianças a oportunidade de conhecer algo rico e novo para a maioria deles. Foi-lhes subtraída uma oportunidade, sorte que meu filho já conhece essa parte do museu.
Até entendo o compromisso da laicidade das escolas, mas tenho certeza que a maioria delas visitaria sem qualquer pudor o Museu de Arte Sacra (passeio que também recomendo).
Acredito que nós, umbandistas, temos que preparar nossos filhos para a vida (como pais de qualquer outro segmento religioso), mas temos que prepará-los também para enfrentar a intolerância e, mais ainda, para fazer isso de cabeça erguida.
Temos que, aos poucos, de acordo com a sua capacidade de compreender as coisas (reporto-me aqui a Vygotsky e à zona de desenvolvimento proximal - conceitos da pedagogia e da psicologia) ensinar-lhe quem são os orixás e as entidades, porque se manifestam, explicar o que o é a Umbanda, sua raiz histórica, mostrar que o maniqueísmo e a demonização com nossas entidades são fruto de puro folclore e senso comum... enfim, temos que dar aos nossos filhos a capacidade de se defender do preconceito, dando-lhes argumento. Não podemos tapar o sol com a peneira e protelar a situação, deixando comodamente que eles entendam isso apenas quando estiverem mais velhos. O preconceito começa desde muito cedo: voltando a falar do meu filho, outro dia ele chegou em casa dizendo que um coleguinha da escola ficou dizendo que isso ou aquilo era coisa do diabo. Percebi que pequei em não lhe fornecer subsídios para argumentar.
Não se trata de querer decidir qual religião a criança deverá seguir para o resto da vida. Ao atingir a maturidade ela seguirá seus próprios rumos, talvez permaneça na Umbanda, talvez não. Mas enquanto é pequena, geralmente acompanha os pais e precisa saber onde está e o que fazem ali dentro, para que não seja vítima do desconhecimento que seus pais lhe impuseram.
Não tenho uma receita pronta, nunca consegui imaginar algo no sentido de catequese umbandista (até porque o termo "catequese" reporta a ideias autoritárias, de impor crenças através do medo), mas me preocupa muito não prepararmos nossas crianças. Talvez seja momento de pensarmos em cartilhas simplificadas, coisas realmente lúdicas, sem a função de converter, mas de informar e proteger nossos filhos, pois não adianta tapar o sol com a peneira: o número de religiões que pregam a intolerância cresce a cada dia e não quero que meu filho seja vítima disso. Você que é pai ou mãe pense nisso também. Vamos compartilhar ideias.
Douglas Fersan
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Um comentário:
Oi, Douglas!
Ontem mesmo estava falando sobre essa minha preocupação com relação aos meus filhos. Acho importante a "evangelização" das nossas crianças, mas até mesmo pela falta de padronização existente na Umbanda, pela infinidade de "linhas de trabalho", é quase impossível uma cartilha. Converso um pouco, tento explicar, mas aos 8 e aos 4 anos, o entendimento é mais limitado.
Abração!
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