domingo, 1 de março de 2015

Quero a sabedoria de ser criança - Douglas Fersan



Quero a alegria das crianças, mas não quero qualquer alegria.
Quero a alegria das crianças que chegam batendo palminhas, pedindo guaraná, doces e balas.  A alegria ingênua e inocente de quem tudo observa atentamente e com franqueza diz a verdade nua e crua mas de maneira delicada, sem ofender, sem magoar, sem maldizer.

Não deve ser nada fácil ser criança.
Espíritos embrutecidos que somos, estamos a anos-luz de conseguir a proeza de sermos verdadeiros sem sermos cruéis, de sermos objetivos e sagazes sem sermos inconvenientes.

Não deve ser fácil ser criança...  atingir um estágio evolutivo tão grande que permita a espontaneidade levada ao extremo, sem medo ou vergonha do ridículo, da exposição, de se melecar com doces, brincar com o carrinho ou com a boneca.

Não deve ser fácil ser criança, afinal perdemos a pureza e nos distanciamos da nossa criança primeva a cada dia.  A cada problema, a cada dissabor nos endurecemos, nos embrutecemos, portanto é preciso muito discernimento e muita sabedoria para voltar à condição pura de uma criança, cuja pureza e simplicidade, por um paradoxo, é tão difícil de ser explicada.

Não quero que o meu adulto morra, quero apenas que ele aprenda a ser criança.  Que não tenha medo de ser feliz, de arriscar, de dizer o que pensa e sente, que não seja reprimido pelas convenções que outros adultos criaram.  Quero preservar a experiência que o adulto adquiriu, sem no entanto perder a criança que há dentro de mim.

Quero ter a humildade de aprender com as crianças, pois sábias e generosas como são, jamais negarão partilhar o aprendizado. Quero ter a paciência para ouvir e aprender, pois as crianças têm tanto a nos ensinar...

Salve todas as crianças.
Douglas Fersan
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