domingo, 13 de novembro de 2016

Ser umbandista é cansativo - Douglas Fersan



Como é difícil ser umbandista.

Numa primeira visita a um terreiro as pessoas costumam se deslumbrar com o espetáculo que assistem - sim, porque para muitos soa como um espetáculo.  E nesse deslumbre resolvem aderir à religião.

Toda religião, quando levada a sério, requer entrega. E aí reside o problema, pois nem sempre se leva a sério o que merece tanta seriedade.  Ao primeiro arrepio o sujeito já acha que está incorporando suas entidades.  E mais: acha que a suposta entidade possui força e sabedoria acima das demais, que já trabalham com seus cavalos há tanto tempo no terreiro.

E quem leva a Umbanda a sério olha isso, muitas vezes se cala para evitar intrigas, mas se magoa.

O neófito procura o pai ou mãe da casa a todo instante, pelas coisas mais fúteis, para tirar as dúvidas mais triviais.  Mas com alguns poucos mesas na gira, já se acha no direito de criticar o dirigente e até suas entidades.

E quem leva a Umbanda a sério olha isso, muitas vezes se cala para evitar intrigas, mas se magoa.

Alguns mal sabem acender uma vela, mas recorrem ao "Pai Google de Oxalá" e fazem as mais estapafúrdias mazelas espirituais e acha que já tem conhecimento para criticar os mais experientes.

E quem leva a Umbanda a sério olha isso, muitas vezes se cala para evitar intrigas, mas se magoa.

Muitas vezes o médium em desenvolvimento não consegue resolver nem os próprios problemas, mas já usa o sagrado nome da Umbanda e dos orixás para resolver as intrigas pessoais e até intimidar pessoas de seu convívio.

E quem leva a umbanda a sério olha e isso e começa a acreditar que já não mais deve se calar.

Conselhos são dados.  Os mais velhos, experientes e o (a) dirigente da casa e suas entidades tentam sutilmente avisar que a pessoa está trilhando um caminho tortuoso, mas ela se faz de desentendida.

E quem leva a Umbanda a sério - em especial o (a), já não aguentando mais que usem o nome de sua sagrada crença para fins profanos, coloca a pessoa no seu devido lugar.

Aí essa pessoa deixa a casa, cuspindo no prato em que comeu, maldizendo e todos e reclamando que não foi acolhida e que faltou paciência com seu aprendizado.

E quem leva a Umbanda a sério respira fundo e parte para uma nova missão, mesmo sabendo o que o seu prêmio pode ser a maledicência e a ingratidão.  Às vezes cansa ser umbandista.

Douglas Fersan

Nenhum comentário: