Parece que 2008 não é um ano qualquer. No Brasil teremos eleições municipais, tivemos também as Olimpíadas na China e, para alguns, existe também mais um fato a se comemorar. Em 15 de novembro deste ano, muitos templo umbandistas estarão celebrando o primeiro centenário da Umbanda, já que , supostamente, essa religião teria surgido com a manifestação do Caboclo das Sete Encruzilhadas, através do médium Zélio Fernandino de Moraes, em 1908.
Particularmente acho válida a existência de uma data especial para se celebrar o orgulho de ser umbandista – embora acredite que esse orgulho e a responsabilidade de ser umbandista devam ser diários – mas sabemos que essa data e, principalmente, o que ela representa (o nascimento da Umbanda) não constitui uma unanimidade. Embora um grande número de umbandistas celebre e aceite essa data como o marco inicial, outro número, bastante expressivo também, a rejeita veementemente, sob o argumento de que os rituais umbandistas são anteriores a 1908, como mostram alguns estudos, em especial a já conhecida “Das macumbas cariocas à Umbanda”, de José Henrique Motta de Oliveira.
Uma coisa é certa: grande parte das práticas que hoje constituem a liturgia umbandista já existiam realmente há muito tempo, como a prática da defumação (que remonta aos nossos antepassados indígenas e até mesmo de rituais católicos – sim, pois também na Igreja Católica existe a defumação), culto aos Orixás (herança dos nosso passado intimamente ligado à mãe África), dos banhos de ervas, uso de velas, etc. Então, é correto dizer que a Umbanda surgiu em 1908 ou seria mais ponderado afirmar que seus rituais sempre existiram, mas que a referida data constituiu uma espécie de oficialização da religião?
Mesmo que não se aceite a manifestação do Caboclo das Sete Encruzilhadas como o marco inicial da Umbanda, não seria válido utilizar o dia 15 de novembro para exaltar a religião e o amor a ela?
Notem que não existe aqui nenhuma afirmação no sentido de dizer que uma ou outra vertente está correta. O que está sendo proposto é o debate em torno da importância de existir uma data comemorativa para a Umbanda, mesmo que aquilo que ela representa não constitua uma unanimidade. Todo dia é dia de ser umbandista, todo dia é da Umbanda, mas comemorar e gritar seu orgulho e amor pela religião pode representar também um grito de liberdade e contra a intolerância, ainda que essa intolerância se encontre no seio da própria Umbanda, entre os membros mais sectários das suas diversas vertentes.
Saravá a Umbanda.
2 comentários:
Apenas corrigindo o título; 100 anoS de Umbanda (será?). Erro de digitação, desculpem.
Muito bom o blog e muito bons os textos, Douglas.
A umbanda ainda não é uma unanimidade e é preciso repeitar todas as vertentes. Concordo que se não se aceita Zélio e o C7E como início da umbanda que pelo menos tenhamos uma data para comemorar o orgulho umbandista.
Axé.
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