terça-feira, 15 de março de 2011

Você pratica uma "boa Umbanda"? - por Douglas Fersan



No dia em que são realizadas as giras na sua casa de Umbanda, você procura, horas antes, amenizar seus pensamentos, afastando os negativos e todas as mágoas e rancores, ou dá valor a esses sentimentos, como faz no dia-a-dia?

Horas antes, você procura alimentar-se de maneira mais frugal e sadia ou entrega-se aos prazeres do exagero da comida e da bebida, afinal ainda faltam algumas horas para a gira começar?

Antes de sair de casa você cuida de seu corpo e de seu espírito, higienizando a ambos, ou vai de qualquer forma? Tem uma roupa branca que usa exclusivamente para essa ocasião ou faz uso dela durante a semana também?

Ao cruzar a porta do terreiro deixa para trás os problemas que o afligiram durante a semana, afinal esse é seu momento de doação, ou carrega esses problemas e sentimentos inerentes a eles para dividir, ainda que involuntariamente, com os seus irmãos-de-fé, que fatalmente terão que dividir esse fardo com você (afinal numa gira de Umbanda as energias são compartilhadas)?

Você adentra o terreiro preocupado em solucionar os seus problemas pessoais ou pensando em praticar a caridade àqueles que esperam pacientemente na assistência?

Você entende que, numa gira de Umbanda, mesmo que não lhe sobre tempo para pedir ajuda às entidades para solucionar as suas questões particulares, você está colaborando com a sua própria evolução pelo simples fato de estar presente e servindo ao Divino e aos necessitados?

No congá você enxerga meras imagens de gesso ou pontos que emanam energias que você deve absorver a fim de realizar um bom trabalho?

Enquanto são tocados os pontos, você fecha seus olhos concentrando-se nos orixás e entidades que estão sendo chamados ou fica preocupado com o tempo que está correndo e os afazeres ou prazeres materiais que teve que deixar para participar da gira?

Você presta atenção nas roupas dos seus irmãos-de-fé, se elas são curtas ou extravagantes demais, ou cuida para que a sua alma esteja alva como deveria para aquele momento?

Em contrapartida, faz proveito da incorporação das entidades para extravasar seu ego, usando roupas esdrúxulas e exageradas, bem como para ingerir álcool e fumo em demasia, que no lugar de agradar as entidades, as expõem ao ridículo (bem como a si mesmo)?

Você faz do silêncio uma prece ou aproveita os momentos em que ele deveria reinar para conversar com os irmãos-de-fé sobre assuntos corriqueiros ou até mesmo fofocas e maledicências? Permite que a sua língua seja maior que a sua fé ou a sua dedicação à Umbanda?

Costuma dizer que as entidades ou orixás são seus – “meu Ogun”, “meu caboclo” – e acredita que você é quem realiza o auxílio aos necessitados ou tem consciência de que é um mero instrumento da espiritualidade a serviço do bem?

Olha os consulentes com certo desdém quando eles relatam um problema que para você é banal, mas que para eles pode ser o mais grave do mundo?

Diz a todos que não lembra de absolutamente nada enquanto cede seu corpo às entidades, quando na verdade possui a chamada “mediunidade consciente”?

Usa o bom nome da Umbanda e das entidades para amedrontar seus desafetos, denegrindo a imagem de nossa religião, já tão injustiçada perante a sociedade?

Alguma vez já simulou estar incorporando uma determinada entidade para dizer a alguém coisas que não teria coragem de dizer sem usar esse subterfúgio?

Já usou a sua mediunidade para obter favores pessoais, materiais e financeiros?
O que você sente quando a gira termina e você vai para casa?

A satisfação por ter cumprido o seu dever auxiliando a sua própria evolução e ao próximo, ou sente-se revoltado porque algum médium brilhou mais que você ou demorou demais atendendo aos consulentes, atrasando o encerramento dos trabalhos?

Responda a essas perguntas com sinceridade e saberá se você pratica uma “boa Umbanda”. Lembre-se que nenhum de nós é perfeito, mas trilhamos o caminho da Umbanda a fim de minimizar as nossas imperfeições, e não para acentuá-las.

Douglas Fersan – Março de 2011.

6 comentários:

Cândida Camini disse...

Olá, Douglas!
Muito apropriado o texto, parabéns, peço permissão para repassar em nosso Blog (http://casapaijoaquimdecambinda.blogspot.com/). Vai fazer um ano em abril que inauguramos a nossa casa (Casa Pai Joaquim de Cambinda-Porto Alegre), hoje com 40 médiuns e atendendo cerca de 60 pessoas por sessão. A maioria médiuns novos, que estamos iniciando nesta seara e você deve imaginar o quão difícil está sendo. Indiquei seu blog na página do nosso, como referência, porque confio no seu conhecimento. Grande abraço. Cândida

Douglas Fersan disse...

Oi Cândida, fique à vontade para repassar o texto, a intenção é justamente essa. Peço apenas que cite a fonte.
Parabéns pela sua casa, que está completando um ano. Que os orixás abençoem com muita luz para que possam ajudar cada vez mais pessoas.

Vou linkar seu blog ao meu. É interessante fazer essas parcerias.


Saravá.

Flávia disse...

Passei por aqui... Flávia, vulgo Bugfly. Vou repassar o texto também, com os devidos créditos! Parabéns Douglas.

Unknown disse...

Gostei muito do texto.
Nos faz refletir muito, pois as vezes podemos estar agindo de forma errada, até mesmo sem intenção.
Vanessa

Douglas Fersan disse...

Pois é, Vanessa.
Quando escrevi esse texto me vi em várias dessas situações. Acho que ele é mais uma auto-crítica do qualquer coisa.
PS: você é alguma das Vanessas que eu conheço? rs

Abraços.

Unknown disse...

Sou sim Douglas, a que te passou e-mail com os numeros de telefone.

Tenha uma ótima semana.
Um abraço