quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
Minha fé é minha luz - por Douglas Fersan
Morei no interior de São Paulo e naquela época era muito comum se ouvir falar em benzedeiras. Cada uma tinha sua técnica. Algumas usavam um simples galho de arruda, outras sussurravam suas preces (dava uma curiosidade para saber o que eles resmungavam tão baixinho), outras receitavam banhos... Quando criança fui levado a elas várias vezes, pois minha mãe acreditava tanto (ou mais) em seu poder quando na medicina convencional.
Contava a minha mãe que cheguei a ser curado de uma doença grave graças a um banho que uma dessas benzedeiras receitou.
mas eu cresci... e naturalmente mudei. A rebeldia da juventude me fez negar várias coisas nas quais acreditava quando criança. Tornei-me rebelde, fui contra os valores que meus pais ensinaram, queria mudar o mundo. Era um típico adolescente rebelde.
E um dos principais traços da minha rebeldia era justamente ir contra qualquer forma de crença. Eu dizia (na verdade repetia frases de teóricos revolucionários e subversivos) que as religiões eram usadas para manipular o povo, que não traziam bem nenhum, que benzimentos eram nada mais que crendices de pessoas sem cultura... Afinal um dos meus maiores ídolos naquela época havia afirmado que "a religião era o ópio do povo".
Mas novamente o tempo passou. Dessa vez acho que não cresci, pois meu parcos 1,70m eu atingi ainda aos 16 anos, mas acho que amadureci. E o amadurecimento espiritual quase sempre vem às custas de algum sofrimento ou necessidade.
E foi num momento de sofrimento que me falaram de uma senhora negra, uma médium de Umbanda, que atendi às pessoas num quartinho de sua humilde casa. Lembrei todo o meu passado - desde a infância, quando era levado pela minha mãe às benzedeiras, até o meu momento de quase ateísmo total. Procurar ajuda de uma médium seria quase uma afronta à intelectualidade que eu muito supostamente construíra.
Mas a necessidade era maior e lá fui eu.
Fui atendido pela boa velhinha (devia ter uns 90 anos). Seus olhos eram opacos, a catarata havia tomado conta deles. Pelos movimentos percebi que era quase cega.
Mesmo assim falou de todos os meus problemas. E falou das soluções também, de tudo que aconteceria. Saí de lá ainda em dúvida, impressionado por ela ter falado todos os problemas do presente, mas cético quanto ao futuro.
Mas em pouco tempo tudo se concretizou. Tudo que ela havia falado se resolveu e meus problemas desapareceram da exata maneira como ela havia falado.
Me senti no dever de voltar para agradecer, mas não resisti. Perguntei como uma pessoa praticamente cega conseguia enxergar tão longe e de forma tão clara.
Com um sorriso ela me respondeu: Minha fé é a minha luz, ela é que me faz enxergar e ela me basta.
A partir daí meu ceticismo sumiu. Concluí que o cego era eu.
Douglas Fersan
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quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
Os ventos de Iansã - por Douglas Fersan
Raios e mais raios caíam do céu.
Alguns se assustavam - afinal um raio pode causar estragos inomináveis. As nuvens de chumbo davam ao céu um tom diferente daquele costumeiro azul de verão. Percebi que as pessoas apertavam o passo rumo ao seu destino, temiam que um temporal caísse. Muitos maldiziam a variação do tempo: "como pode fazer um sol escaldante de manhã e à tarde caírem tantos raios e trovoadas, prenunciando a chuva?"
Começaram as primeiras gotas de chuva. Aliás, chamar aquilo de gotas era um eufemismo, já que eram enormes. As pessoas se amontaram nas marquises dos prédios, evitando se molhar. A maioria demonstrava contrariedade com a mudança repentina do tempo.
Foi quando uma senhora, já de certa idade, ao perceber um relâmpago, resmungou baixinho: "Eparrey Iansã". Olhei para seu rosto e nossos olhares se cruzaram. Esbocei um leve sorriso, talvez imperceptível e percebi que ela fez o mesmo. Foi o mesmo para que entendêssemos que havia uma concordância ali.
Reclamamos tanto do calor escaldante, do tempo seco, do mal estar que a alta temperatura causa... e eis que quando o tempo se manifesta através dos raios, da chuva e dos ventos, nos colocamos a reclamar.
Percebemos a presença dos sagrados orixás nos mais sutis detalhes do dia a dia. O próprio temperamento de Iansã na situação narrada acima é uma prova disso. Assim é a orixá das nuvens de chumbo, dos raios e da tempestade. Diante de uma situação que nos incomoda, que nos causa desconforto ou inquietação, ela se manifesta e, de uma forma que nem sempre entendemos, coloca ordem em nossas vidas.
Assim como o calor escaldante nos incomodava, com seus raios e relâmpagos ela nos anunciou a chuva que viria refrescar o dia, aumentar a umidade do ar e nos trazer algum conforto. Nem sempre entendemos a forma como Deus e os orixás agem em nossa vida, mas eles sempre estão presentes.
Assim como a chuva inicialmente causou um desconforto, mais tarde percebemos que nos proporcionou um alívio. Assim é Iansã: intempestiva. Nem sempre compreendemos a sua natureza, as suas ações, mas como todos os orixás, trabalham sempre em nosso favor.
Eparrey Iansã.
Salve todos os orixás e mão Divina, que nem sempre compreendemos, mas que sempre faz o que necessitamos.
Douglas Fersan
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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
Metamorfosear-se é preciso - por Douglas Fersan
Metamorfosear-se é preciso.
Vestimos branco, adentramos um templo de Umbanda, saudamos a tronqueira, o congá, cumprimentamos os irmãos-de-fé. Procuramos fazer o melhor que podemos e entregar o que de melhor possuímos em termos morais e espirituais. Enfim, fazemos nossa parte, praticamos a caridade, como manda a nossa religião. Dedicamos um tempo a auxiliar os aflitos que nos procuram.
E quanto a nós, será que dedicamos um tempo a nos ajudar?
Não se trata aqui de ajudar no sentido de resolver os problemas do dia-a-dia, sejam financeiros, amorosos, de trabalho... Será que ajudamos a nossa própria caminhada?
Será que lembramos de refletir os próprios atos e de promover a nossa evolução.
Todos os dias vivemos uma situação outra, algumas benignas, outras adversas, das quais podemos tirar uma lição. A vida é dinâmica e está constantemente a nos mostrar situações com as quais podemos refletir a própria existência. Uma existência sem aprendizado é uma existência vã. É preciso transformar-se um pouco a cada dia, é preciso ser melhor a cada dia.
Somos lagartas feias e rastejantes que recebem a imensa oportunidade de entrar no casulo da vida e ali promovermos a própria metamorfose. Mas ela só ocorrerá se tivermos uma pré-disposição para que ela aconteça. De nada vale frequentar templos religiosos se não temos a disposição de mudar. Mesmo que pratiquemos a caridade, não atingiremos o objetivo da vida se não estivermos dispostos a mudar para melhor.
Que continuemos frequentando cada um o seu templo religioso, mas antes disso, que estejamos dispostos a seguir a estrada da evolução, que nos levará adiante, pois se a vida é dinâmica nós não podemos ser estáticos.
Douglas Fersan
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segunda-feira, 6 de janeiro de 2014
Ervas na Umbanda: Alecrim: fonte de equilíbrio e harmonia - por Douglas Fersan
Usado desde tempos imemoriáveis, o alecrim é uma poderosa fonte de equilíbrio e harmonia. Tanto que seu uso é quase obrigatório nos rituais de defumação na Umbanda, agindo diretamente contra larvas astrais e energias indesejadas. Ainda e forma de defumação, recomenda-se queimar seu caule em ambientes onde permaneçam pessoas doentes, trazendo assim benefícios para o seu tratamento.
É uma erva dos orixás Oxalá, Oxóssi, Ogum e Iemanjá. Os banhos com alecrim são indicados para recuperar e equilibrar as energias, tendo grande poder rejuvenescedor, por isso são recomendados para casos de depressão e problemas ligados ao emocional. Também é um poderoso estimulante, sendo indicado para pessoas que precisam recuperar ou adquirir coragem para enfrentar desafios.
Usada debaixo do travesseiro proporciona sono tranquilo e afasta pesadelos. No campo espiritual afasta energias, magia negra e ajuda a desenvolver a mediunidade.
Douglas Fersan
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Reencarnação: ordem lógica da vida - por Douglas Fersan
Evoluir moral e espiritualmente: qual seria o grande objetivo da vida se não esse?
Seríamos meros fantoches de Deus, colocados num palco de provações, se não tivéssemos algum objetivo, portanto acreditar que a vida na Terra existe para que possamos colher algum fruto moral dela, é compreender a lógica divina. Caso contrário, de nada valeria viver nesse mundo, que certamente nos trás muitas alegrias, mas tem seus momentos de provação e é principalmente deles que tiramos as mais preciosas lições.
Assim sendo, o mundo, tal como conhecemos, é uma grande escola. Mas como pedagogo pergunto: de que vale uma escola que dá uma oportunidade aos seus alunos? É justa uma escola que exclui os reprovados? E que não exclui, mas os pune cruelmente?
Acredito que todos concordamos que aos seres em aprendizado é necessário dar oportunidades de recomeçar, de reaprender, de avaliar as próprias atitudes a partir do erro para construir o acerto. Dessa forma, a escola da vida estaria fora da sintonia moral que acreditamos se uma existência fosse a única oportunidade de evoluir.
A reencarnação responde a essas questões de forma satisfatória. Talvez até pudesse ser chamada também de reeducação. Aprender a partir dos erros, ter a oportunidade de saná-los, elevar-se moral e espiritualmente a partir de atitudes positivas parece ser algo mais coerente com a lógica divina do que aquilo que é proposto pela dicotomia céu/inferno. Vale lembrar que a reencarnação não é uma invenção do positivismo de Kardec. É uma crença milenar, encontrada desde as mais antigas culturas indianas e até em fragmentos da Bíblia (muitos deles perdidos ou adulterados, segundo a conveniência de forças políticas dominantes).
Não somos melhores porque acreditamos na reencarnação. Mas, acredito, somos mais lógicos, mas racionais e menos dogmáticos. Assim deve ser a fé, abstrata (senão deixaria de ser fé), mas calcada em argumentos racionais, longe de dogmatismos e sectarismos.
Douglas Fersan
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sábado, 4 de janeiro de 2014
Liberte-se: mensagem para começar bem o ano - por Douglas Fersan
Não reclame das amarras que lhe prendem, pois a maior parte delas foi criada por você.
Deixando de nutrir sentimentos negativos, praticando a caridade e o perdão, as algemas enferrujam e rapidamente viram pó. Você se liberta das amarras quando se liberta da falta de amor.
Pare para pensar se os desafetos que conquistou ao longo da sua vida merecem que você destrua sua saúde ruminando sentimentos amargos. Pense também se esses desafetos gastam seu tempo com você e com aquilo que você emana para eles. Mais ainda, pense se os seus desafetos são realmente os seres maléficos que você faz questão de ilustrar aos quatro cantos do mundo, afinal você também não é perfeito e o erro pode estar em você. Faça uma auto-avaliação: se acha que todo o mundo está errado e só você certo é sinal de que você não está tão certo assim. Se por onde passou, você conquistou mais inimizades do que amizades é sinal que você tem que repensar suas atitudes, e não os outros. Se o contrário aconteceu e você foi injustiçado, entregue tudo à justiça divina, que às vezes tarde, mas jamais falha. Mas não faça dessa demora o adubo para fortalecer a sua língua ferina, pois um dia você pode mordê-la.
Lembre-se: ninguém é santo, nem mesmo você. Participar de uma religião implica em melhorar seu caráter e sua moral através de atitudes éticas, e não é lançando pedras em todas as direções que você vai evoluir. Ao contrário, vai se tornar cada vez mais prisioneiro das próprias imperfeições - às vezes as mesmas imperfeições que insiste em apontar nos outros.
Se você não foi ao espelho ainda, aproveite a oportunidade. Ainda há tempo... e torça para não se assustar com que irá ver refletido (caso a venda do seu ego já tenha caído dos seus olhos).
Evolua, cresça... liberte-se.
Douglas Fersan
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