segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O Desiderato da Umbanda - por Jordam Godinho


O DESIDERATO DA UMBANDA.

Mais que uma palavra bonita, desiderato significa “desejo”, e o desejo da Umbanda, está no seu reconhecimento não só como religião, mas na sua contribuição para sociedade, como instituição aglutinadora, de agregação de todas as classes sociais, da sua história e sua essência.
A história da Umbanda esta umbilicalmente ligada ao Brasil e a seu povo de uma mistura de raças e credos extraordinariamente capaz de professar sua fé sem perder a noção de que todos os caminhos levam a Deus.
Os cultos bantos e africanos que dão o marco da religião, são mal compreendidos, até o início do século XX, onde ela se mostra como religião e sofre todas as perseguições possíveis e violações da liberdade de expressão religiosa sendo marginalizada.
A Umbanda não é espiritismo, ela é uma religião própria de fundamentos próprios, ela não reinventa e nem perde tradições de outros cultos, sua trajetória se confunde com a dos povos escravizados desde a nossa colonização. Passou por períodos em que foi declarada proibida e rechaçada, sendo definida como crendice, seita de ignorantes, idolatria pagã, culto demoníaco, alucinação e histeria.
Hoje a religião vive uma mudança que muitos preferem chamar de evolução, trazendo a tona interpretações das mais diversas ordens, que neste texto não vou ponderar, também traz neste século XXI a migração de uma nova classe social que descobre a Umbanda de maneira diferente, parte desta migração se dá por conta desta “evolução”, que particularmente chamo de maquiagem mas que esta de certa forma aglutinando mais pessoas para o seu interior.

CONTIBUIÇÃO PARA SOCIEDADE

Podemos afirmar sem medo que a Umbanda, tem um papel social importante, percebemos que os terreiros (uso este termo por gosto pessoal) estão localizados na sua grande maioria dentro dos bairros mais carentes, e em muitos terreiros seus zeladores são sempre reconhecidos ou pela simpatia das pessoas ou pelo ódio das religiões cristãs, e seus trabalhos com essas comunidades causam um efeito de cidadania.
O exemplo mais comum e não é somente este mais o mais conhecido, são as festas abertas nos dias em que se comemoram Cosme e Damião e Dia das Crianças, a comunidade no entorno do terreiro se alvoroça toda esperando por aquele momento de receber o benzimento de um Caboclo e o seu saquinho de doces, bem como receber um brinquedo.
Mas existem trabalhos mais profundos, hoje feitos juntos a moradores de rua, desabrigados, e muitos outros, sempre contando com ajuda dos membros daquela instituição.

AGLUTINADORA, E QUEBRA DE BARREIRAS SOCIAIS.

Sua organização democrática rompe com padrões e hierarquias sociais. A figura da mulher como líder religiosa rompe um paradigma judaico-cristão e faz aumentar o preconceito e o não reconhecimento como religião.O sincretismo religioso, a aceitação de pobres, homossexuais, negros, brancos, ricos, cultos e incultos, somado ao fato de ser uma expressão religiosa que surgiu nos espaços urbanos populares, faz da Umbanda uma estrutura que ameaça a estrutura hierárquica hegemônica e o domínio econômico vigente no país.
Este é o sentido de aglutinar e quebrar com as barreiras sociais, pois dentro do terreiro, o, rico, heterossexual ou homossexual, está na mesma condição, o de servir a um propósito único, este processo tem chamado a atenção das outras religiões, assim os ataques começaram a ser mais freqüentes, e os apelos maldosos dizendo que a religião tem um pacto com o diabo, faz dos mais desinformados junto com a mídia o melhor aliado dessas religiões. A mídia na verdade tem sido usada muito pouco a nossos favor, mas aos poucos estamos buscando o nosso espaço dentro dela, precisamos saber lidar melhor mas isso faz parte do crescimento nosso.

Por fim a vontade de fazer uma religião respeitada pela Constituição do seu país e pela Carta Universal dos Direitos Humanos, sem perseguições, e com liberdade total de expressão forma o desiderato da Umbanda para todos que nela estão trabalhando dia após dia no objetivo de ser uma fonte de conhecimento.


JGodinho
Contabilista, Gestor em Terceiro Setor, e Umbandista.

Referências: Tridisciplina URFGS.

http://www.ufrgs.br/tramse/tridi/2006/12/umbanda-esta-desconhecida.html

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