terça-feira, 22 de janeiro de 2013



   Uma gira de Umbanda é algo muito mais complexo (tanto do ponto de vista comportamental quando do espiritual) do que se imagina.  Quando observamos uma gira, com as entidades manifestadas, pensamos apenas nas imagens que nossos olhos transmitem e nosso cérebro decodifica.  Numa gira de caboclos, por exemplo, temos a tendência de enxergar um médium incorporado pela sua entidade, fumando seu charuto e sendo assistido pelo cambone enquanto ouve e aconselha o consulente.   Essa é a visão pura, simplista e não lapidada que nos chega, pois na verdade toda uma gama de espíritos trabalha na organização de uma gira para que tudo saia como esperado.

   Não são apenas aqueles caboclos (ou pretos-velhos ou marinheiros ou exus) que estão incorporados em seus cavalos que estão trabalhando.  Diversos trabalhadores do astral se envolvem nos trabalhos, desempenhando diversas tarefas, começando pela segurança do terreiro e daqueles que nele atuam.  Os compadres exus estão sempre presentes, fazendo as vezes de guardiões dos trabalhos, mesmo quando não se manifestam (ou menos quando se manifestam apenas as entidades da chamada “direita”), pois é deles a preciosa tarefa de evitar ataques de kiumbas e trevosos durante a gira.

   Mesmo enquanto um simples passe é dado no consulente, existem outros trabalhadores (além do incorporado) ali. Pensemos então em uma tarefa menos sutil, como um transporte... a necessidade de espíritos auxiliares é ainda maior. Assim como um médium não faz o seu trabalho sozinho, o mesmo ocorre no mundo espiritual, onde provavelmente o espírito de equipe é levado a sério na tarefa de praticar a caridade e auxiliar os aflitos.  Isso exige de nós, encarnados, um respeito muito grande, pois se há toda uma equipe espiritual trabalhando, o mínimo que se espera do umbandista nesse momento é respeito, seriedade, concentração e firmeza.

   Portanto, ao adentrar um terreiro e observar uma gira de Umbanda (ou participar de uma), lembre-se que você não é o único ali.  E lembre também que o seu comportamento deve ser condizente com o local e a situação em que se encontra, pois uma gira é corrente, cujos elos precisar se manter fortes, e seus lapsos não podem tornar frágeis um trabalho tão sério, praticado tanto por seres encarnados como desencarnados.

Douglas Fersan

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