O benzimento:
A palavra benzer significa tornar "bento" (ou santo) e a prática do benzimento remonta às mais profundas raízes do povo brasileiro. Próprio da miscigenação, o benzimento se mistura à própria história étnica do Brasil. Os índios já praticavam esse ritual, embora não recebesse esse nome e tivesse outros princípios, mas ligados ao xamanismo do que à prática que hoje se vê. Ainda assim, usavam mantras e ervas a fim de espantar os males do corpo e da alma.
Mais tarde, com a colonização e o advento da escravidão, foi a vez dos negros cativos contribuírem com sua sabedoria acerca da espiritualidade, entoando seus cantos e praticando os rituais que acabariam por se incorporar às tradições religiosas brasileiras.
Também o europeu contribuiu para a disseminação dessa prática. Era comum aos cristãos que aqui se instalaram entoar as ladainhas e as rezas a fim obter curas e solução dos problemas.
Com o tempo, de forma natural, essas práticas se mesclaram e surgiram as benzedeiras, figuras clássicas da crença popular. Cada qual segundo o próprio aprendizado, incorporou os elementos indígenas, negros e europeus e criou o seu próprio modo de benzer. Geralmente com um galho de arruda ou outra erva (que nos remete às práticas indígenas), fazendo uma cruz frente o corpo do doente (gesto que remonta ao catolicismo), mãos brancas e negras ou mulatas levaram o alívio a muita gente que sofria.
Nas regiões interioranas no Brasil, onde os benefícios da ciência chegavam tardiamente, as benzedeiras eram requisitadas antes dos médicos e, num passado não muito distante, ainda existiam (e ainda existem) pessoas que viajavam centenas de quilômetros para se consultar com uma benzedeira renomada.
Por mais que a ciência avance e, com ela o ceticismo, ainda hoje observamos nos terreiros de Umbanda uma legião de pessoas que procuram uma entidade a fim de tomar um passe, uma outra faceta do benzimento. Por mais que o homem avance no mundo da ciência, suas raízes ainda falam alto, principalmente nos momentos de dificuldade. E assim vamos mantendo vivas as nossas raízes, crenças e tradições.
As mãos santas que antes benziam e curavam o quebranto, o bucho virado, a criança assustada, estão cada vez mais raras nos dias de hoje, mas marcaram a sua presença nas páginas da história brasileira.
Douglas Fersan
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