terça-feira, 9 de abril de 2013

Socialização e Religião - por Douglas Fersan


Uma das maiores formas de violência é a castração mental.

Em nome de valores particulares acabamos impondo nossa crença, nossas tradições e até nossos julgamentos às crianças.  Esse fato seria considerado normal, afinal é na família que tem início o processo de socialização, através do qual são transmitidos valores.  A família (bem como a religião) são aparelhos de reprodução ideológica, então seria natural transmitir esses valores à criança.  Seria...  se não fosse um porém: é preciso sempre mostrar que existe um outro caminho, um outro pensamento, um outro prismo, uma outra visão.

Segundo Émile Durkheim, a religião é um fato social, ou seja, é algo exterior ao indivíduo, ele não nasce com religião, mas a adquire ao longo de sua vida, justamente no processo de socialização. No entanto, o que vemos acontecer é uma espécie de ditadura teocrática: os pais não se contentam em impor aos filho a sua religião, mas também toda a gama de preconceitos que ela carrega.  Assim encontramos crianças vivendo o conflito entre o que querem e o que teoricamente "não pode".  Encontramos crianças reproduzindo argumentos autoritários e temerários, baseados em dogmas preconceituosos e terrivelmente enraizados em seus pensamentos.  Encontramos crianças castradas mentalmente, incapazes (ou treinadas para se sentirem incapazes) de olhar o mundo (sim, porque não se trata apenas de observar outras religiões, já que lhes é imposta uma visão de mundo) por outro prisma.

Não se trata aqui de defender a ideia de que as crianças devem ser criadas sem religião, longe disso.  Trata-se de deixar sempre claro que aquela não é a única visão das coisas, que existem outras possibilidade e, já que em todas as religiões se fala em um Criador, deixar claro também que Ele primou pelo livre arbítrio e que, futuramente, essa criança vai poder escolher o seu próprio caminho religioso.  

Obviamente os pais querem que os filho optem pela sua religião.  Talvez obtenham êxito se mostrarem que a sua religião não é uma ditadura, e sim um caminho para o crescimento espiritual, para a caridade e para a construção de uma cultura de paz.

Douglas Fersan

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