Uma das maiores formas de violência é a castração mental.
Em nome de valores particulares acabamos impondo nossa crença, nossas tradições e até nossos julgamentos às crianças. Esse fato seria considerado normal, afinal é na família que tem início o processo de socialização, através do qual são transmitidos valores. A família (bem como a religião) são aparelhos de reprodução ideológica, então seria natural transmitir esses valores à criança. Seria... se não fosse um porém: é preciso sempre mostrar que existe um outro caminho, um outro pensamento, um outro prismo, uma outra visão.
Segundo Émile Durkheim, a religião é um fato social, ou seja, é algo exterior ao indivíduo, ele não nasce com religião, mas a adquire ao longo de sua vida, justamente no processo de socialização. No entanto, o que vemos acontecer é uma espécie de ditadura teocrática: os pais não se contentam em impor aos filho a sua religião, mas também toda a gama de preconceitos que ela carrega. Assim encontramos crianças vivendo o conflito entre o que querem e o que teoricamente "não pode". Encontramos crianças reproduzindo argumentos autoritários e temerários, baseados em dogmas preconceituosos e terrivelmente enraizados em seus pensamentos. Encontramos crianças castradas mentalmente, incapazes (ou treinadas para se sentirem incapazes) de olhar o mundo (sim, porque não se trata apenas de observar outras religiões, já que lhes é imposta uma visão de mundo) por outro prisma.
Não se trata aqui de defender a ideia de que as crianças devem ser criadas sem religião, longe disso. Trata-se de deixar sempre claro que aquela não é a única visão das coisas, que existem outras possibilidade e, já que em todas as religiões se fala em um Criador, deixar claro também que Ele primou pelo livre arbítrio e que, futuramente, essa criança vai poder escolher o seu próprio caminho religioso.
Obviamente os pais querem que os filho optem pela sua religião. Talvez obtenham êxito se mostrarem que a sua religião não é uma ditadura, e sim um caminho para o crescimento espiritual, para a caridade e para a construção de uma cultura de paz.
Douglas Fersan
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