segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Palavras do Pai João Benedito - por Douglas Fersan


No cativeiro tive a oportunidade de sofrer para valorizar a felicidade. Antes eu achava que eu tinha o direito de ser feliz, se o outro não era, o problema não era meu. Sob o açoite eu aprendi o valor de cada minuto de felicidade e aprendi a ficar feliz quando sabia que um irmão havia escapado do cativeiro e não estava mais sofrendo.

Aprendi a dar valor a cada coisa que eu achava pequena.

Quando vinha a noite eu estava com o corpo dolorido de tanto trabalho, mas aproveito o tempo que tinha para venerar meus orixás. Às vezes fazia isso em silêncio para não incomodar meus companheiros de cativeiro, e ia rezando até o sono me dominar. Aprendi o valor da fé e aprendi que não preciso fazer rituais barulhentos para que meu orixá sinta as minhas preces.

Fui resignado, e por assim ser, fui criticado até por meus irmãos de cativeiro. Muitas pedras recebi, tanto alguns irmãos negros, que não aceitavam minha resignação, mas principalmente dos opressores que queriam a força do meu trabalho, mesmo quando minhas costas já estava arqueadas, os braços fracos e as pernas doloridas.

Com as pedras construí uma muralha. Usei minha fé para cimentar uma pedra à outra e assim resisti até o dia em que Olorum me permitiu viver nessa terra. E foi com grande alegria que aceitei a tarefa de voltar como energia espiritual, para ensinar o que aprendi com os anos na escravidão. Não me sinto mais sábio, mas aprendi a valorizar cada momento, seja de alegria ou tristeza, e a entender que cada um deles nos ensina uma lição. Hoje o que eu faço é ajudar os filhos da terra a entender essas lições.

Pai João Benedito

Douglas Fersan
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