Particularmente acredito que todos os orixás regem nossa existência em todos os anos, até mesmo porque o calendário, tal como conhecemos, é uma instituição humana, e não espiritual. Acredito que nos momentos em que precisarmos de saúde, Omolu estará olhando por nós, regendo nossas vidas. O mesmo se dará com Xangô quando estivermos envolvidos em questões de justiça, e assim por diante. Na minha concepção todos os orixás estarão ativos o ano inteiro, atendendo às nossas necessidades. No entanto, existe, entre o povo do santo, a tradição de se verificar através dos odus qual orixá irá reger o próximo ano. E segundo essa tradição, 2014 será regido por Iansã e Xangô. Sendo assim, será um ano em que muitas coisas acontecerão: o movimento de Iansã colocará ordem em várias questões, grandes mudanças podem estar a caminho. Concomitante a esse movimento, teremos a energia de Xangô, o que nos leva a crer que a justiça será feita em vários âmbitos, que a rigidez do orixá dos trovões será implacável sobre aqueles que agem sob o ímpeto das paixões, não se importando se suas ações são justas, ao mesmo tempo em que corrigirá situações em que as injustiças prevalecem.
Mas independente do orixá regente, desejamos que 2014 venha com a energia de todos eles sobre nós, nos orientando em nossas ações, nos fazendo caminhar pela trilha mais reta possível, crescendo e nos aprimorando enquanto seres sociais e espirituais.
Salve todos os orixás.
Douglas Fersan
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quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
domingo, 24 de novembro de 2013
Amarração - por Douglas Fersan
No imaginário popular, quando se fala em Umbanda, muitos imediatamente pensam em práticas como amarração. Sem conhecer a Umbanda e a filosofia de respeito e amor que a norteia, imaginam que é comum entre os umbandistas usar os conhecimentos que adquirem e as energias que manipulam para obter e vender serviços como esse.
A verdade é que a Umbanda trabalha dentro dos princípios da Lei de Deus e, sendo que o próprio Criador respeita o livre arbítrio e suas criaturas, seríamos nós tão arrogantes a ponto de trabalhar para interferir nesse livre arbítrio?
E mais, sendo conhecedores da inevitável lei do retorno, seríamos tão pouco inteligentes a ponto de estabelecer essa dívida e ligações que mais tarde nos seriam cobradas?
Não se trata aqui de negar a existência da prática. Ela existe sim, e muita gente se aproveita disso para obter favores pessoas, extorquir verdadeiras fortunas daqueles que as procuram desesperadas. Essas pessoas usam o nome dos santos orixás para vender seu "produto", usam o nome da sagrada Umbanda, quando na verdade estão trabalhando com energias negativas, densas para atingir o campo energético daqueles que se encontram mais fracos e assim manipular sua vontade e sua vida. Mas que fique bem claro: isso não é Umbanda e esses aproveitadores não são umbandistas.
Nós, umbandistas, não somos perfeitos, cometemos erros comuns, como qualquer ser humano comete no dia a dia, mas não usamos o nome da nossa sagrada religião para praticar o mal, obter vantagens pessoais e extorquir os leigos. Quem age assim não pode e não deve usar o rótulo de umbandista. Como diz o velho jargão, Umbanda é coisa séria para gente séria.
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Douglas Fersan
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sexta-feira, 9 de agosto de 2013
Pequena prece para a semana - por Douglas Fersan
Na segunda-feira me senti derrotado. Exu me defendeu.
Na terça perdi meus rumos, não sabia para onde ir. Ogum abriu meus camihos.
Na quarta me senti injustiçado. Xangô me amparou e Iansã soprou a poeira dos meus olhos.
Na quinta estava confuso e com medo. Oxóssi me deu sabedoria e coragem.
Hoje, sexta, estou vitorioso e tudo superei. Estou nos braços de Oxalá.
Douglas Fersan
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quarta-feira, 31 de julho de 2013
Medicina reconhece obsessão espiritual - por Dr Sérgio Felipe
A obsessão espiritual como doença da_alma, já é reconhecida pela Medicina. Em artigos anteriores, escrevi que a obsessão espiritual, na qualidade de doença da alma, ainda não era catalogada nos compêndios da Medicina, por esta se estruturar numa visão cartesiana, puramente organicista do Ser e, com isso, não levava em consideração a existência da alma, do espírito.
No entanto, quero retificar, atualizar os leitores de meus artigos com essa informação, pois desde 1998, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu o bem-estar espiritual como uma das definições de saúde, ao lado do aspecto físico, mental e social. Antes, a OMS definia saúde como o estado de completo bem-estar biológico, psicológico e social do indivíduo e desconsiderava o bem estar espiritual, isto é, o sofrimento da alma; tinha, portanto, uma visão reducionista, organicista da natureza humana, não a vendo em sua totalidade: mente, corpo e espírito.
Mas, após a data mencionada acima, ela passou a definir saúde como o estado de completo bem-estar do ser humano integral: Fisiológico, psicológico e espiritual.
Desta forma, a obsessão espiritual oficialmente passou a ser conhecida na Medicina como possessão e estado de transe, que é um item do CID - Código Internacional de Doenças - que permite o diagnóstico da interferência espiritual Obsessora.
O CID 10, item F.44.3 - define estado de transe e possessão como a perda transitória da identidade com manutenção de consciência do meio ambiente, fazendo a distinção entre os normais, ou seja, os que acontecem por incorporação ou atuação dos espíritos, dos que são patológicos, provocados por doença.
Os casos, por exemplo, em que a pessoa entra em transe durante os cultos religiosos e sessões mediúnicas não são considerados doença.
Neste aspecto, a alucinação é um sintoma que pode surgir tanto nos transtornos mentais psiquiátricos - nesse caso, seria uma doença, um transtorno dissociativo psicótico ou o que popularmente se chama de loucura bem como na interferência de um ser desencarnado, a Obsessão espiritual.
Portanto, a Psiquiatria já faz a distinção entre o estado de transe normal e o dos psicóticos que seriam anormais ou doentios.
O manual de estatística de desordens mentais da Associação Americana de Psiquiatria - DSM IV - alerta que o médico deve tomar cuidado para não diagnosticar de forma equivocada como alucinação ou psicose, casos de pessoas de determinadas comunidades religiosas que dizem ver ou ouvir espíritos de pessoas mortas, porque isso pode não significar uma alucinação ou loucura.
Na Faculdade de Medicina DA USP, o Dr. Sérgio Felipe de Oliveira, médico, que coordena a cadeira (HOJE OBRIGATÓRIA) de Medicina e Espiritualidade.
Na Psicologia, Carl Gustav Jung, discípulo de Freud, estudou o caso de uma médium que recebia espíritos por incorporação nas sessões espíritas.
Na prática, embora o Código Internacional de Doenças (CID) seja conhecido no mundo todo, lamentavelmente o que se percebe ainda é muitos médicos rotularem todas as pessoas que dizem ouvir vozes ou ver espíritos como psicóticas e tratam-nas com medicamentos pesados pelo resto de suas vidas.
Em minha prática clínica (também praticada por Ian Stevenson), a grande maioria dos pacientes, rotulados pelos psiquiatras de "psicóticos" por ouvirem vozes (clariaudiência) ou verem espíritos (clarividência), na verdade, são médiuns com desequilíbrio mediúnico e não com um desequilíbrio mental, psiquiátrico. (Muitos desses pacientes poderiam se curar a partir do momento que tivermos uma Medicina que leva em consideração o Ser Integral).
Portanto, a obsessão espiritual como uma enfermidade da alma, merece ser estudada de forma séria e aprofundada para que possamos melhorar a qualidade de vida do enfermo.
Dr. Sérgio Felipe é médico psiquiatra que coordena a cadeira de Medicina e Espiritualidade na USP.
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terça-feira, 23 de julho de 2013
Saluba Nanã Buruquê - por Douglas Fersan (republicação)
Comemora-se, tradicionalmente em 26 de julho, o dia de Nanã Burukê, a mais velha das orixás. A velha iabá, de originária do Daomé (atual Benin) e sincretizada com Sant’Ana, teria recebido do “Orun” (mudo espiritual), a tarefa de reger a lama. Num primeiro momento, isso pode parecer até mesmo uma informação supérflua, sem utilidade alguma, no entanto, um estudo mais minucioso sobre as características dessa iabá nos revela muita coisa.
A lama representa a união das águas com a terra, portanto, a junção de dois importantes reinos da natureza, responsáveis inclusive pela criação e preservação da vida tal qual conhecemos. O equilíbrio proveniente da união dessas duas forças naturais nos remete diretamente ao arquétipo de Nanã Buruquê, marcado pela seriedade, sabedoria, experiência, serenidade e ponderação dos mais velhos. Mas, é dos mais velhos também que carrega consigo a teimosia e a obstinação, chegando a ser intransigente em suas opiniões. Prova disso é que foi a única entre todos os orixás a não reconhecer a supremacia de Ogum sobre o reino dos metais.
Contam as itans (lendas africanas sobre os orixás) que quando Oxalá recebeu de Olurum a tarefa de criar os homens, tentou fazê-los a partir do ar (mas eles desmancharam-se no vento), do fogo (porém eles rapidamente pereceram, devido ao caráter efêmero desse elemento), da água (tentativa que falhou, pois eles evaporavam), da terra (mas eles ficavam duros, imóveis), até que Nanã veio em seu auxílio e apresentou-lhe a lama, material a partir do qual todos os homens foram moldados com sucesso. Assim, a velha orixá está ligada ao princípio da criação, da própria vida. Mas assim como deu a matéria para dar início à vida, Nanã a quer de volta após a ela esgotar-se. Dessa forma, associa-se Nanã também ao fim, à própria morte.
Portanto, Nanã Buruquê é a orixá da vida e da morte. Deu a vida com a sua lama abençoada, e acalenta os mortos na sua terra fofa, tal qual o útero materno, até que sejam decantados para voltar à vida (reencarnação). No entanto, a morte não representa o fim de tudo. Para os que acreditam na sobrevivência do espírito após o fim do corpo material, a morte representa o início de uma nova etapa, de um novo aprendizado, é um recomeço – fato esse que Nanã nos possibilita através do seu encantamento.
Pelo seu caráter sério e austero, Nanã Buruquê é um dos orixás mais respeitados nos cultos de Umbanda e Candomblé. A ela deve-se dá o tratamento respeitoso que os idosos merecem, reverenciando sua autoridade e sabedoria. A saudação “Saluba Nanã” (originalmente "Sálù bá Nàná"), entoada pelos filhos-de-fé quando essa venerável iabá adentra os terreiros significa “nos refugiamos em Nanã”, nos mostrando a outra face dessa senhora: a avó carinhosa, sempre disposta a abrigar os filhos e netos em seu colo macio e aconchegante.
Em 26 de julho comemoramos o dia de Nanã Buruquê. Que a bondosa iabá derrame suas bênçãos sobre cada um de nós, nos dando a sua serenidade, sabedoria e tolerância, para que possamos olhar nossos irmãos com olhos mais benevolentes e tolerantes, construindo assim uma cultura de paz.
Saluba Nanã.
Douglas Fersan
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terça-feira, 16 de julho de 2013
O maior templo de Umbanda - por Douglas Fersan
Seu corpo é um templo divino.
É onde habita seu espírito que tem, através dele, a oportunidade de evoluir.
Da mesma forma que um templo religioso deve estar limpo, bem cuidado e livre de impurezas para que as manifestações espirituais nele ocorram da forma esperada e satisfatória, seu corpo deve estar devidamente higienizado para que sua caminhada espiritual (e também material) se dê de maneira positiva.
Conspurcar sua matéria com substâncias tóxicas (lícitas ou ilícitas), além de prejudicar a saúde física, abre brechas para que obsessores se aproximem e aprofundem cada vez mais seu organismo no vício e, obviamente, vícios tornam-se imensos obstáculos para a evolução moral e espiritual.
O tabagismo, o alcoolismo e o uso de substâncias ilícitas se tornam crostas de sujeira espiritual, criando um círculo vicioso entre o usuário encarnado e o obsessor espiritual, que se farta de toda essa imundície a fim de manter seu vício. Assim, o encarnado emperra sua própria evolução e, por outro lado, ajuda a manter o obsessor perto de si , mantendo também o vício dele. Enquanto isso, o obsessor, em sintonia com o encarnado, mantém com ele uma ligação psíquica, reforçando sua submissão em relação ao vício.
Todo vício é uma escravidão: comida, sexo, jogo, álcool, tabaco, maconha, cocaína, crack... Porém alguns são mais agressivos ao corpo e à sociedade, por isso necessitam de cuidados maiores.
Provavelmente alguém dirá que na Umbanda se faz uso de tabaco e bebidas alcoólicas e que, portanto, não faz sentido uma página umbandista discorrer sobre o assunto. Nesse aspecto vale lembrar que o uso dessas substâncias nos rituais de Umbanda são puramente ritualísticos, tendo como objetivo a defumação e a dispersão de energias indesejadas. Justamente por isso não devem ocorrer exageros no uso do cigarro, charuto e bebidas durante as giras de Umbanda, já que os espíritos que ali se manifestam não são viciados e o corpo físico do médium deve ser respeitado e preservado. Qualquer exagero cometido nos rituais caracteriza falta de doutrina, mistificação por parte do médium ou manifestação de espíritos que não são nossos mentores, e sim zombeteiros que se valem da situação para satisfazer seus vícios.
Seu corpo é o maior templo espiritual que existe.
Seu corpo é o maior templo de Umbanda que existe. E assim como você gosta de chegar ao seu terreiro e encontrá-lo limpo para os trabalhos, seus orixás também esperam isso de você em relação ao seu corpo, pois é nele que irão se manifestar, trabalhar, prestar a caridade e auxiliá-lo na sua evolução. Em corpo maculado pelo vício, tomado por obsessores, dificilmente haverá manifestações de orixás e entidades de luz.
Cuide do seu corpo: é nele que você habita e seus orixás se manifestam.
Douglas Fersan
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terça-feira, 9 de julho de 2013
Ervas na Umbanda: Arruda - Por Douglas Fersan
Uma das ervas mais comuns na Umbanda. Seu uso é feito através da defumação e de banhos e as partes utilizadas são as folhas. Sua principal função é fazer a limpeza astral e afastar as energias negativas. É uma erva de Oxóssi, mas também muito utilizada pelos pretos velhos. Há quem diga que a arruda funciona como um "termômetro espiritual", ou seja, quando as energias do ambiente estão equilibradas, suas folhas e galhos se mantêm vivas e empinadas. Quando o ambiente está carregado de energias negativas, ela tende a absorvê-las, por isso fica murcha e pode secar. Trata-se de uma das chamadas "ervas quentes", ou seja, aquelas que têm a propriedade de realizar limpezas energéticas mais pesadas.
Douglas Fersan
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terça-feira, 2 de julho de 2013
Ervas na Umbanda - Espada de São Jorge - por Douglas Fersan
A espada de São Jorge (ou espada de Ogum) possui a propriedade de neutralizar energias negativas nos ambientes, justamente por isso está sempre presente nos terreiros de Umbanda e nas casas dos umbandistas. De origem africana, é altamente resistente ao sol, ao calor e à fata de água. É muito usada pelas entidades para dar passes nos consulentes e também, embora em menor proporção, em banhos. O simples fato de ter um vaso com espada de São Jorge já ajuda a afastar e neutralizar energias indesejadas. Nome científico: Sansevieria Zeylanica Willd.
Douglas Fersan
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terça-feira, 18 de junho de 2013
Falsos Profetas - por Douglas Fersan
Não se trata aqui de falar nada contra qualquer religião. Certamente a maioria delas possui uma doutrina de fé, amor, caridade e respeito. O foco são os sacerdotes que se apropriam dessas doutrinas, a corrompem e, a fim de atender seus próprios interesses (geralmente financeiros), transformam aquilo que poderia ser um fator de crescimento moral para a humanidade em política de terror e intolerância.
Já se passou mais de uma década desde que o pastor de uma conhecida igreja chutou, em rede nacional, a imagem de Nossa Senhora Aparecida, um dos maiores ícones católicos do Brasil. Esse ato não mostrou apenas o seu desprezo pela santa, mas também o quanto esses "profetas do terror" podem ir longe. Foi um desrespeito ao povo brasileiro como um todo, inclusive àqueles não cultuam a referida santa, pois foi uma demonstração de que podem, a qualquer momento, se voltar contra as demais religiões (fato que já vem acontecendo, basta observar os constantes ataques a terreiros de Umbanda e Candomblé).
No que tange à legislação, o Brasil é um país avançado (essa informação pode causar espanto, mas é verdadeira). Nossa Constituição é uma das mais democráticas do mundo e, para que assim se caracterize, é preciso que tenha leis que amparem todos os segmentos étnicos, religiosos, sociais e de gênero. E assim é nosso Constituição. As leis existem, no entanto nem sempre elas são praticadas. Essa impunidade acaba servindo de incentivo para que a intolerância seja pratica à luz do dia.
Recentemente o pastor Marco Feliciano foi indicado para ocupar o cargo mais importante da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Tal indicação causou repúdio, já que o deputado-pastor foi protagonista de diversas manifestações de intolerância religiosa, racial e homofóbica. Apesar das manifestações de repúdio nacional, ele continua ocupando a cadeira.
Esses profetas do terror continuam por aí e não pertencem somente a um segmento religioso. Todo aquele que adquire posições fundamentalistas em suas pregações requer cuidados (seja um sacerdote católico, protestante, de cultos afro-descendentes), todos devem ser vistos com muito cuidado, pois geralmente são carismáticos (Hitler também o era perante o povo alemão), falam exatamente aquilo que a população mais sofrida precisa ouvir (novamente podem ser comparados com Hitler, que soube enfiar o dedo na ferida do povo alemão) e não possuem limites para conquistar aquilo que almejam (será necessário fazer mais uma comparação?).
Para consolidar sua força, esses "profetas" não poupam esforços em denegrir as religiões alheias. Seu discurso intolerante é a base da sua política e seus seguidores, cegos, surdos e hipnotizados, se transformam em um verdadeiro exército da intolerância.
É preciso orientar as pessoas, independente da religião. Não falo de uma religião específica e sim às religiões em geral, falo de alertar para o perigo oculto e muitas vezes subestimado que esses mercadores da fé trazem à vida social pacífica.
Douglas Fersan
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terça-feira, 4 de junho de 2013
Crianças e Umbanda, como agir? - por Douglas Fersan
Salve nosso pai Ogum.
Como tento fazer sempre, procuro uma imagem do orixá do dia para colocar, junto com uma mensagem, em nossa página do facebook. Pesquisando no Google encontrei essa imagem infantilizada de Ogum (desconheço o autor), que achei muito bonita e interessante, justamente pelo seu aspecto de criança.
No entanto, a imagem me remeteu a pensamentos mais profundos e antigos. Já há muito tempo venho pensando na relação entre a Umbanda e as crianças, filhos de umbandistas. Como pedagogo e pai, essa questão me traz uma certa preocupação.
Como devem se portar as crianças filhas de umbandistas perante as outras crianças, especialmente na escola, espaço que deveria ser de construção e compartilhamento de conhecimentos, mas sabemos que também é um espaço onde os preconceitos se manifestam e um fenômeno antigo, porém nomeado há pouco tempo (o bullying) ocorre com tanta frequência.
Como será tratada uma criança ao responder que sua religião (ou a de sua família) é a Umbanda? Qual será a reação dos professores e das outras crianças?
Numa reunião de pais da escola do meu filho fomos comunicados que as crianças visitariam o Museu Afro-Brasileiro no Ibirapuera, mas a professora rapidamente tratou de tranquilizar a todos "fiquem calmos, pois não visitaremos a parte do museu que trata de Umbanda e Candomblé". Uma pena, pois estão furtando dessas crianças a oportunidade de conhecer algo rico e novo para a maioria deles. Foi-lhes subtraída uma oportunidade, sorte que meu filho já conhece essa parte do museu.
Até entendo o compromisso da laicidade das escolas, mas tenho certeza que a maioria delas visitaria sem qualquer pudor o Museu de Arte Sacra (passeio que também recomendo).
Acredito que nós, umbandistas, temos que preparar nossos filhos para a vida (como pais de qualquer outro segmento religioso), mas temos que prepará-los também para enfrentar a intolerância e, mais ainda, para fazer isso de cabeça erguida.
Temos que, aos poucos, de acordo com a sua capacidade de compreender as coisas (reporto-me aqui a Vygotsky e à zona de desenvolvimento proximal - conceitos da pedagogia e da psicologia) ensinar-lhe quem são os orixás e as entidades, porque se manifestam, explicar o que o é a Umbanda, sua raiz histórica, mostrar que o maniqueísmo e a demonização com nossas entidades são fruto de puro folclore e senso comum... enfim, temos que dar aos nossos filhos a capacidade de se defender do preconceito, dando-lhes argumento. Não podemos tapar o sol com a peneira e protelar a situação, deixando comodamente que eles entendam isso apenas quando estiverem mais velhos. O preconceito começa desde muito cedo: voltando a falar do meu filho, outro dia ele chegou em casa dizendo que um coleguinha da escola ficou dizendo que isso ou aquilo era coisa do diabo. Percebi que pequei em não lhe fornecer subsídios para argumentar.
Não se trata de querer decidir qual religião a criança deverá seguir para o resto da vida. Ao atingir a maturidade ela seguirá seus próprios rumos, talvez permaneça na Umbanda, talvez não. Mas enquanto é pequena, geralmente acompanha os pais e precisa saber onde está e o que fazem ali dentro, para que não seja vítima do desconhecimento que seus pais lhe impuseram.
Não tenho uma receita pronta, nunca consegui imaginar algo no sentido de catequese umbandista (até porque o termo "catequese" reporta a ideias autoritárias, de impor crenças através do medo), mas me preocupa muito não prepararmos nossas crianças. Talvez seja momento de pensarmos em cartilhas simplificadas, coisas realmente lúdicas, sem a função de converter, mas de informar e proteger nossos filhos, pois não adianta tapar o sol com a peneira: o número de religiões que pregam a intolerância cresce a cada dia e não quero que meu filho seja vítima disso. Você que é pai ou mãe pense nisso também. Vamos compartilhar ideias.
Douglas Fersan
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sexta-feira, 17 de maio de 2013
Fanatismo: um mal que atinge todas as religiões - por Douglas Fersan
Há quem pense que o fanatismo religioso é uma característica apenas das igrejas pentecostais ou de muçulmanos fundamentalistas. Mero engano, mero senso comum - além de preconceito, é claro.
O fanatismo está presente em todas as religiões, pois é um sentimento humano e não uma prerrogativa litúrgica. As religiões não ensinam os fiéis a serem fanáticos, nem exigem isso deles, mas a fraqueza de suas opiniões, bem como a suscetibilidade para absorver ideias alheias, os faz vítimas fáceis da manipulação mental e, principalmente, da auto-sugestão.
Como já disse antes, fanatismo existe em todas as religiões. E na Umbanda não é diferente. Há quem diga que a Umbanda é uma religião que prima pela racionalidade e que, portanto, isso não deveria acontecer. Mais uma vez o engano. Religiões não primam pela racionalidade, primam pela fé e essa pode facilmente ser corrompida.
Quantos irmão da Umbanda, que se julgam conhecedores de todos os mistérios não são, na realidade, fanáticos que a tudo atribuem ação dos espíritos?
A muitos basta pegar um resfriado para achar que foi vítima de demanda.
Basta um copo cair e quebrar para achar que Exu Mirim está fazendo traquinagem.
Outros sonham com um gato preto e correm telefonar para o seu pai-de-santo para que ele interprete o sonho, como se o bichano fosse realmente sinal de mau agouro, e não vítima potencial da crendice popular. Tenho pena dos pais-de-santo nessas horas...
E ainda se diz dono de uma fé imensa. Ao contrário disso, se tivesse tanta certeza assim em sua fé, não se acharia vítima fácil de demandas, espíritos, energias pesadas. Teria consciência de que na vida estamos todos sujeitos a momentos bons e ruins, bem como existe a lei do merecimento e os espíritos, na maioria das vezes, tem muito mais o que fazer do que se divertir às nossas custas.
É preciso ter fé, e é preciso que ela seja forte e inabalável, mas tanto quanto isso é preciso que ela não seja alienante, canso contrário ela fara de você um ser irracional, intransigente, chato, desagradável e vítima de si mesmo.
Tenha fé, mas seja racional.
Douglas Fersan
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quinta-feira, 2 de maio de 2013
O aprendizado é eterno - por Douglas Fersan
Importante lição para todos os filhos-de-fé: paciência e resignação.
Muitas vezes os filhos mais novos encontram-se diante de alguns dilemas: questionam se estão no caminho correto, por ter consciência de seus atos durante a incorporação acham não estão se desenvolvendo corretamente, às vezes percebem que outros filhos, mais novos, apresentam um desenvolvimento mais rápido...
A resposta para todas essas questões é sempre a mesma: paciência e resignação.
Cada um tem seu tempo. Somos indivíduos unos (perdoem a redundância), portanto cada qual apresenta um desenvolvimento diferente em tempo diferente. Guardar lembranças, ter mediunidade consciente, a entidade demorar a falar ou riscar ponto, tudo é uma questão de aprendizado, de doutrinar a si mesmo, de estabelecer sintonias. Nada disso significa que novo médium está no caminho errado, ao contrário disso. Errado seria colocar o carro na frente dos bois - ou melhor: colocar-se à frente das entidades e aí sim, fazer tudo errado.
Dentro de uma casa de Umbanda todos, desde o pai-de-santo até o consulente, estão em constante aprendizado, subindo um degrau por vez na longa caminhada da evolução.
Salve todos os novos médiuns, os novos filhos de fé, que persistem nas provações que o aprendizado impõe. Serão bons médiuns no futuro, na gratificante tarefa de prestar a caridade.
Douglas Fersan
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segunda-feira, 29 de abril de 2013
Um causo de Vovó Catarina - por Douglas Fersan
Era um homem culto, para quem não havia Deus senão a ciência. Sua arrogância era proporcional.
Igrejas? - ora, são templos de idiotas, costuma dizer.
Santos? - nada mais são que personagens da mitologia.
Benzedeiras, médiuns, orixás e guias espirituais, pior ainda. Eram nada mais que mistificações ou crendices próprias dos ignorantes. A estes não se contentava em menosprezar, mas fazia questão de achincalhar, dizendo que se tratava de religião de negros pobres e incultos.
A empregada da sua casa, uma negra de meia idade, ouvia esses absurdos e mantinha-se calada. Entendia que o patrão queria provocá-la, pois sabia que ela era frequentadora de um templo de Umbanda. Resignada, a serviçal ouvia aqueles impropérios e baixava a cabeça. Sabia que não adiantaria argumentar. Preferia deixar que Olorum e Xangô se encarregassem do assunto. Quem era ela para julgar?
Mas eis que um dia o filho mais novo do patrão, um menino de apenas seis anos, caiu doente, vítima de uma febre ardente.
Os melhores médicos da cidade foram acionados e foram unânimes em dizer que desconheciam a origem do problema, mas que dificilmente uma criança resistiria àqueles sintomas cada vez mais avassaladores.
Desesperado, o pai preferiu levar o filho para casa. Se tivesse que morrer, que fosse entre os seus, e não no leito frio de um hospital.
Todos, pais, avós, tios e irmãos estavam ao redor d
a cama rezando pela saúde do pequeno, ao que o pai reclamava, dizendo que se Deus realmente existisse, não permitiria que uma criança sofresse. Foi nesse momento que a empregada entrou para servir um café aos presentes. Ao olhar para o menino desacordado, não conseguiu se segurar: uma sensação de peso envergou suas costas, as pernas dobraram-se, ela deixou cair o bule de café no chão, enquanto todos a olhavam atônitos.
Com a voz diferenciada, carregada com um sotaque oriundo de tempos remotos, pediu licença e foi até o menino. Quase sussurrando, cantou baixinho:
No pé do morro, na mata virgem
dizem que mora um velho lá
Ele é curador, ele é rezador
Ele é Xapanã, ele vai te curar
Mesmo o pai, sempre tão endurecido, calou-se diante daquela canto. Ainda sussurrando a velha fez uma série de orações quase inaudíveis e, por fim, passou a mão pelo rosto do menino, que imediatamente abriu os olhos.
Olhando para o patrão, disse humildemente:
_Vovó Catarina pede desculpa por ter vindo à casa do sinhô sem pedir licença, mas nêga véia não consegue ver um curumim doente da alma e ficar sem fazer nada.
O homem tentou balbuciar alguma coisa, mas não conseguiu, então a velha continuou:
_Nêga véia conhece seu lugar e sabe que os hómi da ciência faz sua parte, mas quando a doença é da alma é nóis que cura.
_Por que meu filho ficou doente? - perguntou a mãe com a voz embargada.
_Quando falta fé numa casa - respondeu a negra - a alma de todos enfraquece e os pequenos são os que mais sofrem. É dever do pai e da mãe ensinar que existe um Pai Maior e que a prece é o remédio da alma. Nesse casuá jogaram o remédio no ralo e ainda riam dele. Com licença que nêga véia já falou demais e vai embora.
Nesse instante, o pomposo homem jogou-se aos pés da negra, pedindo perdão e prometendo mudar dali para a frente. A velha apenas fez uma cruz em sua testa, dizendo que não era preciso pedir perdão a ela.
A cada dia que passou o menino melhorou, até ficar completamente curado. O respeito e a prece tornaram-se um hábito naquela casa e patrão, antes tão pedante, agora vestia-se de branco uma vez por semana e ia ao templo de Umbanda da empregada ajudar a cambonear os pretos velhos, aos quais nunca esquecia de saudar dizendo: Adorei as Almas.
Douglas Fersan
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sábado, 27 de abril de 2013
O que seus olhos preferem ver? - Por Douglas Fersan
Conta a história que dois homens encontravam-se internados num mesmo quarto de hospital. Um deles estava próximo à janela e o outro distante dela. Além de estar longe da janela o segundo homem estava muito debilitado e não podia andar, portanto não tinha o privilégio de observar o mundo exterior como o outro, e vivia reclamando disso.
O companheiro que estava perto da janela, resignadamente dizia para ele ter calma, que um dia voltaria a andar e poderia ver a paisagem.
_Que paisagem, que nada - dizia o ranzinza - aposto que aí não tem nada de interessante para se ver.
_Engana-se - dizia o outro - estão construindo um belo jardim aqui ao lado.
_É mesmo? - perguntou o ranzinza já meio sensibilizado.
_Sim, estão plantando azaleias, margaridas. O campo está ficando gramado.
E assim dia após dia o enfermo próximo à janela ia descrevendo a evolução do jardim. Contava que além das flores plantaram belas árvores, palmeiras, construíram um parquinho para as crianças. E o outro paciente, antes mau humorado, agora sorria com a expectativa do jardim sendo construído. O homem que nunca sorria agora tinha esperanças.
Porém, numa manhã cinzenta, o homem da janela amanheceu coberto por um lençol, já sem vida. Não demorou muito para que viessem buscar seu corpo. Ficou a cama vazia e a janela aberta, soprando uma brisa suave, como um lamento perdido.
No primeiro dia o homem ranzinza ficou em silêncio. No segundo chorou, no terceiro sentiu falta do jardim que não via, mas que devia estar ainda mais bonito, já que, segundo seu falecido amigo, trabalhavam nele com tanto afinco.
Não resistindo à curiosidade, desceu da cama com muita dificuldade. Quase caiu. Arrastou-se como um réptil, lenta e sofridamente para chegar até a janela. Lá chegando ergueu o corpo com os braços esquálidos e olhou para fora. Viu apenas um terreno baldio, tomado pelo mato e um muro velho, cheio de musgo e pichações.
Não conteve o choro. A bondade do seu amigo era tanta que ele construiu um jardim imaginário para os seus olhos distantes, que não podiam chegar à janela.
Resignadamente arrastou-se de volta para a cama e preferiu ver as coisas com os olhos do coração e não mais com os olhos amargos da vida.
Douglas Fersan
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domingo, 14 de abril de 2013
Os orixás não abandonaram a África, apenas se espalharam pelo mundo - por Douglas Fersan
Tornou-se comum ouvir daqueles que se esforçam para denegrir a imagem dos cultos afro-brasileiros o argumento de que a África passa por penúrias porque seu povo venera os orixás. Esses religiosos fanáticos, fundamentalistas e intolerantes não medem esforços (e nem mentiras) para dar aos seu fiéis a impressão de que a África vive uma sub-cultura e que suas crenças estão associadas a poderes malignos e que, por consequência disso, o Deus igualmente intolerante que eles apregoam, castiga o continente com a fome, a guerra, a miséria.
Sobre as más intenções dessas pessoas nem é preciso falar, ela é explícita e qualquer pessoa com o mínimo de inteligência consegue perceber. Cabe aqui falar sobre a falta de conhecimento político e histórico. Israel cultua o mesmo Deus desses intolerantes e sofre com a Guerra. A América Latina é um continente cristão em sua maioria e mesmo assim a fome grassa grande parte da sua população. Não podemos confundir os erros humanos com a ação divina. A história é resultado da ação (e das escolhas) dos homens, e não fruto da vingança divina.
Há outros, igualmente intolerantes, que dizem que boa parte dos africanos abandonou a crença nos orixás, e falam isso como se isso fosse sinal de evolução. Mais uma vez pecam por não conhecer - ou ignorar propositalmente a história. Esquecem de contar que missionários das mais diversas denominações invadiram o continente e fizeram uma verdadeira lavagem cerebral em seu povo, inserindo a ideia cristã-eurocêntrica de civilização, de salvação da alma e de céu e inferno. Amedrontados, diversos povos africanos abandonaram suas crenças originais e aderiram a essas religiões. Vale lembrar que ainda hoje isso acontece e não apenas na África.
Não contam também que os europeus dizimaram povos africanos, levando populações inteiras para servirem seus interesses na América como escravos. Mas aí cometeram um erro grave na sua tarefa de acabar com as tradições africanas. Ao invés da crença nos orixás desaparecer, ela se espalhou por outros continentes e vive até hoje. As religiões de origem afro não estão entre as maiores do mundo, mas estão vivas e com raízes aprofundadas nos povos das regiões onde são praticadas. As mazelas da África continuam, mas as do resto do mundo também. Os orixás não abandonaram a África, apenas se espalharam pelo mundo.
Douglas Fersan
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quarta-feira, 10 de abril de 2013
Uma breve história de Exu - por Douglas Fersan
Caminhava pela rua tranquilamente. Ao se aproximar de uma encruzilhada percebeu dois homens vindo sorrateiramente em sua direção. Certamente era um assalto ou coisa parecida, ninguém se aproxima assim, de forma furtiva, sem ter más intenções.
_Laroyê seu Tranca-Ruas - pensou, com muita fé, chamando pelo seu guardião.
Os meliantes se aproximaram, um deles com um punhal em riste, pronto para atacar, mas no momento em que daria o bote começou a tremer, assim como seu companheiro de crimes.
_O que é isso? - perguntou um dos marginais, apavorado
O outro sequer respondeu, saiu em disparada, seguido pelo comparsa que deixou cair o punhal no chão e nem sequer se deu ao trabalho de pegá-lo de volta.
Respirando aliviado, o rapaz que seria vítima do assalto perguntou a si mesmo o que teria acontecido. Foi quando ouviu uma voz atrás de si:
_Chamaste por mim e jamais deixei de atender um amigo.
O rapaz agradeceu em pensamento e seguiu seu caminho. Ainda pôde ouvir uma gargalhada vinda da encruzilhada, mas não se preocupou em olhar para trás, sua fé lhe bastava.
Laroyê senhor Tranca-Ruas.
Douglas Fersan
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terça-feira, 9 de abril de 2013
Socialização e Religião - por Douglas Fersan
Uma das maiores formas de violência é a castração mental.
Em nome de valores particulares acabamos impondo nossa crença, nossas tradições e até nossos julgamentos às crianças. Esse fato seria considerado normal, afinal é na família que tem início o processo de socialização, através do qual são transmitidos valores. A família (bem como a religião) são aparelhos de reprodução ideológica, então seria natural transmitir esses valores à criança. Seria... se não fosse um porém: é preciso sempre mostrar que existe um outro caminho, um outro pensamento, um outro prismo, uma outra visão.
Segundo Émile Durkheim, a religião é um fato social, ou seja, é algo exterior ao indivíduo, ele não nasce com religião, mas a adquire ao longo de sua vida, justamente no processo de socialização. No entanto, o que vemos acontecer é uma espécie de ditadura teocrática: os pais não se contentam em impor aos filho a sua religião, mas também toda a gama de preconceitos que ela carrega. Assim encontramos crianças vivendo o conflito entre o que querem e o que teoricamente "não pode". Encontramos crianças reproduzindo argumentos autoritários e temerários, baseados em dogmas preconceituosos e terrivelmente enraizados em seus pensamentos. Encontramos crianças castradas mentalmente, incapazes (ou treinadas para se sentirem incapazes) de olhar o mundo (sim, porque não se trata apenas de observar outras religiões, já que lhes é imposta uma visão de mundo) por outro prisma.
Não se trata aqui de defender a ideia de que as crianças devem ser criadas sem religião, longe disso. Trata-se de deixar sempre claro que aquela não é a única visão das coisas, que existem outras possibilidade e, já que em todas as religiões se fala em um Criador, deixar claro também que Ele primou pelo livre arbítrio e que, futuramente, essa criança vai poder escolher o seu próprio caminho religioso.
Obviamente os pais querem que os filho optem pela sua religião. Talvez obtenham êxito se mostrarem que a sua religião não é uma ditadura, e sim um caminho para o crescimento espiritual, para a caridade e para a construção de uma cultura de paz.
Douglas Fersan
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quarta-feira, 20 de março de 2013
E do sopro divino criou-se o mundo - por Douglas Fersan
Nos primórdios dos tempos, quando tudo parecia apenas o vácuo, o Universo era dividido em dois mundos: o Orun, o espaço sagrado onde viviam os orixás, e o Aiyê, uma região imensa, onde só existia água. Olorum resolveu então criar a humanidade e entregou essa tarefa a Oxalá, seu filho preferido. Deu-lhe uma cabaça com terra, uma galinha, um pombo e um camaleão.
Oxalá jogou então a terra sobre a água. Deixou que a galinha, com seus pés com cinco dedos, ciscasse espalhasse a terra sobre a água, misturando as duas. O pombo, farfalhando suas asas, espalhou essa mistura, expandindo os domínios do Aiyê, tornando-o imenso. O camaleão a tudo observou e narrou os fatos a Olorum. Oxalá saiu então caminhando pelo mundo, apoiado em seu cajado, percorreu toda a extensão daquilo que criara. Conforme caminhava dava forma aos lugares. Alguns preferiu cobrir com o verde das matas, outros preferiu o tom suave das areias, em outros o branco das geleiras.
Porém o mundo ainda não era habitado. Percebendo que um lugar tão belo e criado com tanto amor não era desfrutado por ninguém, Olorum pediu a Oxalá que esculpisse dois bonecos de barro - um com formas femininas e outro com formas masculinas, e assim foi feito. Quando Oxalá apresentou suas esculturas a Olorum, esse os soprou fortemente. Com o sopro, os bonecos adquiriram vida, passaram a caminhar e a habitar o Aiyê. Assim surgiu a Terra e a humanidade. Qualquer semelhança com outros mitos é mera coincidência (será?).
Douglas Fersan
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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013
Fechar na quaresma? - Pai Ronaldo Linares
A tradição de se fechar os Templos de Umbanda quando não havia liberdade de crença não tem razão de ser no mundo atual. Muito ao contrário do que se pensa, é nessa época que NÃO DEVEMOS PARAR, é nessa época em que espiritualidade maligna trabalha à vontade, que o Templo deve estar prepara para, com o auxílio das Entidades de Luz, denunciar qualquer trabalho negativo que tenha sido feito para atrapalhar seus filhos de fé ou frequentadores. Atualmente, interromper os trabalhos do Templo na quaresma é descabido, é ingenuidade, é desconhecer que os inimigos trabalham nas trevas e que, se não temos o preto velho, o caboclo ou qualquer entidade que possa nos avisar do mal feito, estamos desprotegidos, descobertos, ou seja, nas mãos dos inimigos.
É preciso urgentemente esclarecer que a quaresma não é afro, é hebraico-europeia, e que já não é preciso se esconder de ninguém, pois nossa Constituição assegura o direito à liberdade de crença e os padres não podem mais nos queimar nas fogueiras da inquisição. Por isso vamos abrir nossos Templos de Umbanda na quaresma e cuidar com amor dos nossos filhos de fé.
Pai Ronaldo Linares - Presidente da FUGABC
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sábado, 9 de fevereiro de 2013
Cuidados a serem tomados num terreiro - por Rodrigo Queirós
Primeiramente quando chegar à porta do terreiro, peça licença
aos guardiões da casa.
Dentro do terreiro, sinta o ambiente, feche os olhos e respire fundo (a respiração é a base da vida, os ciclos e ritmos - o Fole Vital). Inspire os perfumes, as essências do Templo. Elas lhe despertarão sentimentos e prazeres jamais sentidos. Experimente...
Quando as entidades estiverem incorporadas, visualize bem e sinta a vibração do atabaque e das entidades.
No passe é necessário que você sinta a vibração da entidade, ou quem não sente vibração sentirá qualquer outro tipo de sensação que mostrará se a entidade está ali ou se é uma mistificação.
Qualquer tipo de entidade da linha branca não tem linguajar grosseiro nem fica falando da vida de outros ou até mesmo falando que fulano fez isso aqui ou macumba acolá.
As entidades têm sempre que deixar uma mensagem de conforto. Se isso não acontecer fale com a entidade chefe, pois pode estar havendo mistificação!
Tomar muito cuidado com médiuns mistificadores, não existe na lei de Umbanda Sagrada cobrar para fazer trabalho, muito menos a própria entidade falar que tem que ser cobrado. Isso é um imenso desrespeito com nosso Senhor Zâmbi (Deus) e com as entidades. Existem muitos engraçadinhos que querem ganhar a vida através de mistificação, portanto cuidado, irmãos!
Dentro do terreiro, sinta o ambiente, feche os olhos e respire fundo (a respiração é a base da vida, os ciclos e ritmos - o Fole Vital). Inspire os perfumes, as essências do Templo. Elas lhe despertarão sentimentos e prazeres jamais sentidos. Experimente...
Quando as entidades estiverem incorporadas, visualize bem e sinta a vibração do atabaque e das entidades.
No passe é necessário que você sinta a vibração da entidade, ou quem não sente vibração sentirá qualquer outro tipo de sensação que mostrará se a entidade está ali ou se é uma mistificação.
Qualquer tipo de entidade da linha branca não tem linguajar grosseiro nem fica falando da vida de outros ou até mesmo falando que fulano fez isso aqui ou macumba acolá.
As entidades têm sempre que deixar uma mensagem de conforto. Se isso não acontecer fale com a entidade chefe, pois pode estar havendo mistificação!
Tomar muito cuidado com médiuns mistificadores, não existe na lei de Umbanda Sagrada cobrar para fazer trabalho, muito menos a própria entidade falar que tem que ser cobrado. Isso é um imenso desrespeito com nosso Senhor Zâmbi (Deus) e com as entidades. Existem muitos engraçadinhos que querem ganhar a vida através de mistificação, portanto cuidado, irmãos!
Publicado originalmente na primeira edição do JUS, em 1999.
domingo, 3 de fevereiro de 2013
Espírito tem forma? - por Douglas Fersan
Espírito tem forma? - por Douglas Fersan
Um tabu que permeia o meio umbandista é aquele sobre as imagens das entidades. Como realmente seria o Caboclo Tupinambá? Qual a aparência do Exu Marabô? Com quem se parece o Preto Velho Pai João Benedito?
Nossos olhos, extremamente humanos e carnais pedem uma representação - isso não acontece somente na Umbanda, a Igreja Católica faz uso das imagens há séculos a fim de estabelecer um elo entre o fiel, sua fé e o santo representado. O princípio dessa lógica na Umbanda não é muito diferente, porém temos, em nossa religião, uma particularidade a essa respeito.
Em primeiro lugar, sabemos que as entidades de Umbanda trabalham em falanges, isso significa, na prática, que não existe apenas um Caboclo Tupinambá, um Exu Marabô ou um Preto Velho Chamado Pai João Benedito. Existem sim várias - centenas ou milhares - entidades que trabalham em cada uma dessas falanges e, como a Umbanda é uma religião que prima pela humildade, pelo trabalho sem estrelismos, cada um dos trabalhadores dessas falanges assume o nome de seu líder. Isso explica porque baixam dois, três ou mais Zés Pelintras num mesmo terreiro, no mesmo momento: porque são diversos trabalhadores da mesma falange usando o mesmo nome.
Mas e quanto à sua forma física? Ou melhor, quanto à sua forma espiritual? Será que todos aqueles que se apresentam como Zé Pelintra são negros e vestem terno branco e chapéu panamá? Se houver essa regra quanto à aparência, algo não faz sentido nessa história de os espíritos trabalharem em falanges.
Uma coisa que chama a atenção é o fato de os caboclos, que representam e estereótipo do nativo brasileiro, ser muitas vezes representados como os caciques estadunidenses, com aqueles cocares típicos que se arrastam ao chão. Mais alguma coisa não faz sentido.
É provável que as pombogiras sejam realmente bonitas, isso faz parte do seu estereótipo, mas por que será que alguns insistem em representá-las, tanto nas pinturas como nas imagens de gesso, com roupas vulgares (diferente de sensuais) e às vezes até seminuas? Será que alguns umbandistas querem reforçar o senso comum de que elas eram prostitutas. Erro crasso, e se alguém discordar, que venham as pedras, não caio no senso comum.
Os compadres exus provavelmente são os que mais sofrem com as deturpações sobre a sua imagem. Basta ir a uma loja de artigos de Umbanda para encontrarmos imagens de exus com chifres, pernas de bode e rabo com uma seta na ponta. Existe até uma explicação histórica para isso: a fim de manter os intolerantes afastados, usava-se essas imagens para assustá-los e evitar que profanassem os trabalhos entregues em encruzilhadas e outros pontos de força. Porém essa interpretação das coisas parece ter apenas se reforçado com o tempo. Tendo exu um caráter extrovertido, talvez até tenha se divertido (e se utilizado) dessa situação em algum momento, mas não podemos tomar isso como via de regra.
Certa vez, conversando com o Exu Pimenta, ele me disse ser um senhor muito respeitável e como tal, gostava de estar sempre elegante e com boa aparência, mas que as pessoas insistiam em representá-lo de uma forma assustadora. Disse que o seu trabalho independia dessa imagem que haviam criado para ele, mas que havia um equívoco nela.
Muitas vezes esquecemos que espírito não tem forma, é energia. É provável que muitas vezes assuma a forma que lhe convém. Mas que fique bem claro: que convém a ele, e não a nós, que temos a infantil tendência de mistificar e folclorizar as entidades que tanto nos servem. Um pouco de estudo e critério nesse assunto com certeza nos seria útil, pois nos faria mais respeitados se fôssemos menos folclóricos.
Umbanda é religião, não é folclore.
Douglas Fersan.
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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
Desencarne coletivo - por Douglas Fersan
Fica muito difícil compreender situações em que ocorrem o desencarne coletivo. Como justificar uma tragédia onde tantas vidas são ceifadas e tantas famílias sofrem se cremos em um Deus piedoso e pleno de amor?
Como espiritualistas não podemos esquecer é que todos temos débitos pretéritos e seu resgate não constitui necessariamente um castigo, mas sim uma oportunidade, um ensinamento para o nosso bem maior. Mas até que ponto podemos (ou devemos) justificar tudo como resgate? Obviamente é muito difícil em situações de comoção nacional, diante de uma tragédia, digerir essa forma de ver as coisas de maneira abnegada. É compreensível a dor e até revolta dos que ficam, pois não reivindicamos a perfeição moral e espiritual, mas devemos ao menos nos espelhar nela, sem esquecer as fragilidades humanas. Em outras palavras, para quem olha de fora a tragédia, é fácil falar em abnegação, mas até o mais espiritualizado dos homens chora a dor de perder um ente querido em uma situação como a ocorrida em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. E ele tem direito a se revoltar, a ser humano e até imperfeito, caso contrário não estaria nessa Terra.
Alguns dirão que não cai uma folha de uma árvore sem que Deus queira. Eu respondo que acho tal frase extremamente dogmática e que foge à fé racional que tanto se apregoa. Já espero que venha o apedrejamento, mas prefiro ele à fé cega e à faca amolada.
Desencarnes coletivos acontecem periodicamente. Não há muito tempo houve um tsunami, depois o terremoto no Haiti, além de outros fatos de menor repercussão, mas igualmente carregados de sofrimento, tanto pela forma como essas mortes ocorreram, mas também pela dor do que ficaram a chorar a perda dos que tanto amavam. Apesar de respeitar profundamente as diferentes crenças, inclusive aqueles que buscam justificar essas situações em acontecimentos de vidas passadas, não acredito que seja o momento de cogitar as razões para isso. Li em algum lugar que, coincidentemente, a tragédia em Santa Maria – RS aconteceu justamente no dia em que se fazia um movimento em memória às vítimas do holocausto. Particularmente achei de mau gosto a insinuação. Não acho que se trata do momento de julgar se as vítimas foram culpadas no passado. Todos somos culpados, mas também somos todos inocentes, depende do prisma que se observa, e maniqueísmos servem apenas para limitar a nossa visão das coisas.
Acredito num Deus pleno de amor e afeto pelos seus filhos e com razões que nossa compreensão (ou falta dela) seja tão minúscula que não nos permita entender determinadas situações - paremos um pouco de culpar Deus e ao passado pelo sofrimento de hoje. Mas também acredito que a mão do homem, sua irresponsabilidade calcada no livre arbítrio também dê rumo às coisas. E a fatalidade, seria algo completamente irreal? Será que tudo se justifica no karma? Então como surgiu o primeiro pecador, se ele não tinha karma a resgatar? Não seria muito comodismo de nossa parte justificar todos os males do mundo com a teoria do resgate de erros pregressos?
Não pretendo refutar essa teoria, mas também não quero usá-la para justificar tudo. Especialmente não quero usá-la em momento inadequado para levantar hipóteses que venham a desrespeitar a memória dos que se foram e a dor dos que ficaram e sofrem. Não nos cabe julgar. Se o conceito de que todos carregamos culpas é correto, no momento nos cabe apenas prestar solidariedade sincera, pois talvez essa seja uma maneira de progredirmos enquanto seres espirituais. Vamos pedir aos espíritos consoladores que façam a sua parte de amparar os que se foram e também às famílias que hoje choram. Deixemos as hipóteses para quem tem tempo e imaginação para elas e os julgamentos para quem tem competência para isso. Resignemo-nos e façamos a nossa parte, que aliás fazemos muito porcamente.
Douglas Fersan - 28/01/2013
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
Uma gira de Umbanda é algo muito
mais complexo (tanto do ponto de vista comportamental quando do espiritual) do
que se imagina. Quando observamos uma
gira, com as entidades manifestadas, pensamos apenas nas imagens que nossos
olhos transmitem e nosso cérebro decodifica.
Numa gira de caboclos, por exemplo, temos a tendência de enxergar um
médium incorporado pela sua entidade, fumando seu charuto e sendo assistido
pelo cambone enquanto ouve e aconselha o consulente. Essa é a visão pura, simplista e não lapidada
que nos chega, pois na verdade toda uma gama de espíritos trabalha na
organização de uma gira para que tudo saia como esperado.
Não são apenas aqueles caboclos
(ou pretos-velhos ou marinheiros ou exus) que estão incorporados em seus
cavalos que estão trabalhando. Diversos
trabalhadores do astral se envolvem nos trabalhos, desempenhando diversas
tarefas, começando pela segurança do terreiro e daqueles que nele atuam. Os compadres exus estão sempre presentes,
fazendo as vezes de guardiões dos trabalhos, mesmo quando não se manifestam (ou
menos quando se manifestam apenas as entidades da chamada “direita”), pois é
deles a preciosa tarefa de evitar ataques de kiumbas e trevosos durante a gira.
Mesmo enquanto um simples passe é
dado no consulente, existem outros trabalhadores (além do incorporado) ali. Pensemos
então em uma tarefa menos sutil, como um transporte... a necessidade de
espíritos auxiliares é ainda maior. Assim como um médium não faz o seu trabalho
sozinho, o mesmo ocorre no mundo espiritual, onde provavelmente o espírito de
equipe é levado a sério na tarefa de praticar a caridade e auxiliar os aflitos. Isso exige de nós, encarnados, um respeito
muito grande, pois se há toda uma equipe espiritual trabalhando, o mínimo que
se espera do umbandista nesse momento é respeito, seriedade, concentração e
firmeza.
Portanto, ao adentrar um terreiro
e observar uma gira de Umbanda (ou participar de uma), lembre-se que você não é
o único ali. E lembre também que o seu
comportamento deve ser condizente com o local e a situação em que se encontra,
pois uma gira é corrente, cujos elos precisar se manter fortes, e seus lapsos
não podem tornar frágeis um trabalho tão sério, praticado tanto por seres
encarnados como desencarnados.
Douglas Fersan
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
O Benzimento - por Douglas Fersan
O benzimento:
A palavra benzer significa tornar "bento" (ou santo) e a prática do benzimento remonta às mais profundas raízes do povo brasileiro. Próprio da miscigenação, o benzimento se mistura à própria história étnica do Brasil. Os índios já praticavam esse ritual, embora não recebesse esse nome e tivesse outros princípios, mas ligados ao xamanismo do que à prática que hoje se vê. Ainda assim, usavam mantras e ervas a fim de espantar os males do corpo e da alma.
Mais tarde, com a colonização e o advento da escravidão, foi a vez dos negros cativos contribuírem com sua sabedoria acerca da espiritualidade, entoando seus cantos e praticando os rituais que acabariam por se incorporar às tradições religiosas brasileiras.
Também o europeu contribuiu para a disseminação dessa prática. Era comum aos cristãos que aqui se instalaram entoar as ladainhas e as rezas a fim obter curas e solução dos problemas.
Com o tempo, de forma natural, essas práticas se mesclaram e surgiram as benzedeiras, figuras clássicas da crença popular. Cada qual segundo o próprio aprendizado, incorporou os elementos indígenas, negros e europeus e criou o seu próprio modo de benzer. Geralmente com um galho de arruda ou outra erva (que nos remete às práticas indígenas), fazendo uma cruz frente o corpo do doente (gesto que remonta ao catolicismo), mãos brancas e negras ou mulatas levaram o alívio a muita gente que sofria.
Nas regiões interioranas no Brasil, onde os benefícios da ciência chegavam tardiamente, as benzedeiras eram requisitadas antes dos médicos e, num passado não muito distante, ainda existiam (e ainda existem) pessoas que viajavam centenas de quilômetros para se consultar com uma benzedeira renomada.
Por mais que a ciência avance e, com ela o ceticismo, ainda hoje observamos nos terreiros de Umbanda uma legião de pessoas que procuram uma entidade a fim de tomar um passe, uma outra faceta do benzimento. Por mais que o homem avance no mundo da ciência, suas raízes ainda falam alto, principalmente nos momentos de dificuldade. E assim vamos mantendo vivas as nossas raízes, crenças e tradições.
As mãos santas que antes benziam e curavam o quebranto, o bucho virado, a criança assustada, estão cada vez mais raras nos dias de hoje, mas marcaram a sua presença nas páginas da história brasileira.
Douglas Fersan
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segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
Salve Oxóssi, o rei de Ketu - por Douglas Fersan
O orixá oxóssi (Òsòóxi, originalmente) é o deus da caça, senhor e guardião das florestas e dos seres vegetais e animais que a habitam. É também um orixá ligado à fartura (elemento presente nas florestas) e à riqueza. Oxóssi é um dos orixás mais populares no Brasil, sendo muito cultuado também em Cuba (rituais de Santeria) e outros países da América que utilizaram a mão-de-obra escrava negra, em especial a Iorubá. Entretanto, seu culto na África praticamente desapareceu, em virtude da destruição da província de Ketu (da qual Oxóssi era um rei lendário) no século XVIII. Os habitantes de Ketu se tornaram escravos no Brasil e nas Antilhas (fato que explica o desaparecimento do culto na África e seu surgimento nesses lugares). Assim, como uma fênix, Ketu ressurgiu, não como Estado político, mas como nação espiritual, através do culto que seus descendentes praticavam e praticam a Oxóssi.
O título de caçador consistia uma grande honraria, já que a ele cabia escolher o local adequado para instalar a aldeia, garantindo que nada faltasse a seus habitantes (isso também explica o fato de Oxóssi estar liga à fartura). O caçador era o primeiro habitante do local e se tornava uma autoridade sobre os demais, sendo chamado de "Oni Aráaiyé", o senhor da humanidade, aquele que garantia a riqueza e a fartura para o seu povo.
Nos cultos de Umbanda é sincretizado com São Sebastião, o mártir cristão que foi executado com flechas por determinação de Diocleciano, o imperador romano, por volta de 286. A relação das flechas que executaram São Sebastião e as usadas pelo caçador contribuíram para o sincretismo entre o santo católico e o orixá, considerado também o patrono da linha dos caboclos na Umbanda.
Douglas Fersan
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domingo, 13 de janeiro de 2013
Vergonha nacional - por Pai Carlos D'Ogum
Não estou aqui defendendo nenhuma emissora, apenas defendendo meus direitos dados pela Constituição de nosso país, da qual sempre tentam camuflar perante nós, praticantes dos cultos afro-brasileiros, pensam que somos ignorantes como os fundamentalistas que usam de seus "livre-arbitrios" para coagir o livre arbítrio do próximo, esque que é protegido por LEI CONSTITUCIONAL. Por que a Record não se manifestou contra a Rede Globo quando eles transmitiram ao vivo, no final de 2012, o Show Gospel? Aliás, a Globo promoveu esse evento, assim como promove as propagandas "O Sagrado", que explana sobre todas as religiões. Não tenho afinidade com muitas coisas a respeito da Rede Globo, mas quando existe algo positivo devemos citar, e "O Sagrado" é positivo, porque explana sobre todas as religiões a fim de promover o respeito entre os religiosos.
Eu respeito todas as religiões, desde que pratiquem a caridade sem promover fanáticos e conflitos, tenho essa consciência porque sei que o ser humano é livre para procurar respostas onde há o conforto em seu discernimento.
E você vai ficar parado, deixando que a injustiça e a intolerância formarem o futuro da nação através de nossas crianças que sofrerão esse impacto amanhã?
Brasileiro consciente, informe-se sobre seus direitos e lute por eles.
Pai Carlos D'Ogum (Carlos Pavão)
quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
A Calunga Grande - por Douglas Fersan
O termo "calunga" é de
origem bantu e tradicionalmente faz referência à morada dos mortos, ou mais
comumente, ao cemitério. Assim, sempre
que nos referimos à calunga, estamos nos referindo ao campo santo, o cemitério,
o local os despojos carnais são depositados.
No entanto, essa palavra assumiu uma outra dimensão.
Ao serem capturados (ou ao ver
seus irmãos sendo feitos cativos) e colocados em navios negreiros, os africanos
passaram a ver o mar como um grande cemitério, já que a viagem rumo à
escravidão representava uma espécie de morte em vida. Era como se o mar levasse embora tudo que
lhes era precioso: os costumes, a crença, a dignidade, o convívio com os entes
queridos e, principalmente, a liberdade.
Dessa forma, o mar passou a ser encarado como uma grande calunga, ou
seja, como um grande cemitério.
Assim surgem dois novos verbetes
no vocabulário do negro – e que viriam integrar o dialeto das religiões com
matiz africana: a calunga grande (o mar) e a calunga pequena (o cemitério
propriamente dito).
Há um aparente paradoxo na
utilização desse termo para se referir ao mar, afinal não é ele um dos reinos
dos orixás? Não seria o mar a origem da
vida? Então como relacioná-lo à morte?
Não esqueçamos que a morte (iku
em yorubá) não representa o fim, e sim uma transformação. Não esqueçamos também que Omolu, o orixá da
cura, mas também da morte (no sentido de transformação, não de fim), e Iemanjá,
a rainha do mar, o princípio e a origem da vida, da maternidade, da
concepção.
O que parece ser um paradoxo é,
na verdade, a explicação para essa questão.
Ao mesmo tempo em que o mar representava a morte aos cativos,
representava também um renascimento no Brasil.
Não que esse renascimento fosse algo agradável, longe de defender a
escravidão, mas era um renascimento no sentido de levar a sua cultura, as suas
crenças, os seus orixás a terras tão distantes.
Era como se a o pai Omolu determinasse o fim em terras africanas e
Iemanjá um recomeço em novas terras, permitindo assim que os povos americanos
tivessem a oportunidade de conhecer as divindades pelo ponto de vista africano,
e não do europeu, tradicionalmente cristão/católico. Concluímos que aqueles negros cativos, bravos
heróis, deram a sua liberdade e a sua vida para nos agraciar com a crença e o
conhecimento sobre os divinos orixás, inkisses e voduns. Graças a eles e à sua heroica resistência
hoje temos a oportunidade de cultuar essas entidades, sem a viseira das
religiões tradicionais da Europa.
Assim sendo, o mar, chamado de
calunga grande, que representou em tempos idos um gigantesco cemitério, é para
nós um reino sagrado, que nos trouxe essa oportunidade. A quem cultua as divindades do panteão
africano não basta reverenciar seus reinos sagrados, é preciso conhecer os seus
fundamentos e história. Ao colocar os
pés na água do mar, não esqueça de saudar os divinos orixás, a vida e aos
nossos ancestrais cativos, a quem devemos tanto.
Douglas Fersan
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