terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Umbanda não tem plateia - por Douglas Fersan



A espiritualidade prima pela simplicidade, começando pela forma como se apresenta. Seres de luz, emanando energia positiva e vibrando o bem, não precisam de plateia. Não precisar dar espetáculos, não precisam de títulos, não fazem questão de nada disso.

A Umbanda é território desses espíritos, que já atingiram um grau de elevação invejável, mas não se apresentam com nomes de doutores ou poetas famosos. Não precisam disso. No lugar de se apresentar como famosos notáveis, contentam-se em se nomear com o nome da falange na qual trabalham (por isso existem vários caboclos Sete Flechas, vários pretos velhos Pai João Benedito e assim por diante). O grau de pureza lhes permite um desapego total de títulos, então dispensam os nomes famosos que poderiam se apresentar para dizer "sou o pai João".  Isso lhes basta. Fazer a caridade lhes basta.  Há quem diga que o mesmo espírito que se apresenta como um doutor em religiões que não o aceitariam sem um título, humildemente se apresentam como caboclo ou preto velho na Umbanda.

É importante que todo umbandista compreenda isso, pois seu corpo é um templo de Umbanda e é dentro de sua lei que devemos trabalhar.

Desconfie daquele médium que adora pirotecnia. Que se auto-mutila, que dá shows e cujas entidades já se apresentam exigindo títulos. Fuja de médiuns e terreiros que tratam a assistência como plateia, a Umbanda não tem plateia, a Umbanda tem pessoas que a procuram para solucionar os problemas do corpo e da alma, ou simplesmente para ouvir uma palavra de sabedoria, não de soberba. Umbanda combina com humildade, não com espetáculos circenses.  Chão de Umbanda é solo sagrado, não é picadeiro, médium é instrumento dos orixás e entidades, não ator e as entidades não têm tempo ou disposição para disputar cargos ou se auto-proclamar acima das outras. As entidades de Umbanda respeitam umas às outras. Notou que está diferente disso? Fuja desse médium e desse lugar e procure um terreiro de Umbanda... de verdade.

Douglas Fersan
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Prece ao Anjo da Guarda - por Douglas Fersan


Prece para pedir proteção ao anjo da guarda:

Meu anjo guaridão, tu que fostes designado por Deus Pai para ser meu protetor, tu que recebeste o fardo de me amparar e livrar-me do perigo, receba agora minha gratidão.

Meu anjo querido, espírito de luz, cujas expiações já cessaram e hoje trabalha por pura caridade, não deixei que eu desvie do caminho da retidão, da honestidade e da honra. Guia meus passos e se não puder me livrar dos espinhos, com os quais tenho que aprender, me dê forças para suportá-los com dignidade.

Meu anjo amigo, cuida da minha saúde física, mental e espiritual. Desvia-me dos perigos rotineiros, dos pensamentos tentadores e perturbadores e livra-me dos ataques sombrios das trevas.  Seja a luz em meu caminho, anjo iluminado.

Meu anjo de luz, não peço apenas proteção, peço também forças para carregar a cruz que me for destinada, peço sabedoria para fazer as escolhas certas e conto com tua mão divina a me guiar os passos. Ajudai-me a também irradiar luz, a ser melhor a cada dia, a servir de exemplo para aqueles que andam perdidos. Mais que meu anjo, seja também meu guia.

Meu anjo guerreiro, receba essa prece humilde, mas feita com a mais profunda chama da fé, como forma de manifestar minha gratidão. Rogo a ti, anjo amado, forças para me proteger, e rogo a Deus Pai forças para ti, na difícil tarefa que escolhestes de amparar esse filho ainda tão imaturo diante das tentações e dos perigos da vida.

Que assim seja.

Douglas Fersan
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domingo, 28 de dezembro de 2014

Ser médium...

Ser médium é… ter um dia daqueles e ainda ter força para vestir branco e trabalhar…
É escutar um conselho dirigido a uma pessoa, mas entender que ele também é pra você…
É saber pisar devagar para não se machucar…
Ser médium é se aventurar em matas, praças e cemitérios para realizar tarefas pouco usuais…
É entender que é apenas um instrumento da fé de quem o procura;
É dormir na esteira no inverno para louvar o Orixá…..
É ser confundido com um médico só por estar todo de branco…
Ser médium é ver coisas que até Deus duvida…
É carregar guias e mais guias no pescoço…
É entender que elas não te fazem melhor ou pior…
É superar as pegadinhas do universo e chegar ao centro no horário combinado;
Ser médium é explicar, de uma vez por todas, que macumba é um instrumento musical…
É dar conselhos inimagináveis a um amigo sem perceber…
É entrar e sair imediatamente de um lugar suspeito, mesmo sem ter explicação…
É acordar de madrugada para fazer anotações sobre sonhos…
Ser médium é ter de esquecer os problemas pessoais na marra para poder auxiliar quem tem complicações ainda maiores, por mais improvável que isso possa parecer.
É entender que todo dia é um recomeço…
Ser médium é saber silenciar e escutar uma voz que, de longe, insiste em dizer:
“VAI DAR TUDO CERTO. EU ESTOU COM VOCÊ”.

Fonte:Velas Tupinambá

Oração do amigo - por Douglas Fersan


Oração do Amigo (compartilhe):

Amigo que estás sempre ao meu lado,
santificado seja o vosso abraço,
venha a nós o vosso sorriso,
seja reconhecida a tua amizade
assim nos momentos tristes quanto felizes.
As alegrias de de cada dia nos dai hoje
perdoai minha falha se não souber retribuir
assim como perdoo quando não me entendes
e não nos deixeis cair em desentendimento
mas livrai-nos da solidão,
assim seja.

Douglas Fersan
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sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

E Dandara dos Palmares, você conhece? - por Jarid Arraes

Por Jarid Arraes

Novembro é oficialmente o Mês da Consciência Negra no Brasil. Apesar de ser importante e necessária, especialmente por se tratar de um país que teve séculos de escravidão de pessoas negras, essa data ainda é bastante incômoda para uma parcela da população. Mesmo assim, o mês de novembro mobiliza o movimento negro e desperta um interesse temporário nas escolas, instituições e noticiários, que costumam abordar o tema do racismo superficialmente no período próximo ao dia 20.

Aqueles que falam dessa data muitas vezes se recordam de Zumbi dos Palmares, que é o grande ícone da luta contra o racismo por sua resistência contra a escravidão. Mesmo na escola, muitos ouvimos falar de Zumbi e aprendemos que ele foi líder do Quilombo de Palmares, onde negras e negros que fugiam da escravidão podiam encontrar refúgio e organização política. No entanto, pouquíssimos sabem de quem se tratava Dandara dos Palmares, uma figura tão importante quanto Zumbi.

Dandara foi esposa de Zumbi e, como ele, também lutou com armas pela libertação total das negras e negros no Brasil; liderava mulheres e homens, também tinha objetivos que iam às raízes do problema e, sobretudo, não se encaixava nos padrões de gênero que ainda hoje são impostos às mulheres. E é precisamente pela marca do machismo que Dandara não é reconhecida ou sequer estudada nas escolas. Lamentavelmente, nem mesmo os movimentos negro e feminista mencionam Dandara com a frequência que deveriam. De um lado, o machismo, que embora conte com o trabalho árduo das mulheres negras, não lhes oferece posição de destaque e voz de decisão. Do outro, o racismo, que só tem memória para mulheres brancas.

Nós, mulheres negras, crescemos sem nos encontrarmos nos livros de história, poesia, literatura ou sociologia. O machismo racista da sociedade parece nos dizer que não temos o direito de encontrar representatividade e inspiração para rompermos as amarras da discriminação institucional. Muitas sabemos de Dandara e outras mulheres negras importantes somente devido a nossas próprias pesquisas solitárias, ávidas por descobrir. E, infelizmente, somos nós as mesmas pessoas que lutam para que essas mulheres não sejam apagadas da história.

Alguns pesquisadores, como o professor Kleber Henrique, que escreveu este belíssimo texto sobre Dandara, evidenciam o papel dessa grande líder e falam de sua sede por liberdade. Mas salientam que até hoje não se tem conhecimento de como era o seu rosto ou de onde veio. Se Dandara fosse uma mulher negra contemporânea, provavelmente seria mal vista por todos que se negam a enxergar o racismo. Dandara não queria acordos pela metade e nem se vendia em troca de libertação parcial. Morreu como a heroína que foi em vida e, graças à sua luta, hoje temos força para continuar a batalha contra o racismo brasileiro.

Portanto, me recuso a aceitar que Dandara seja figura esquecida ou que continue sendo lembrada sob a sombra masculina de Zumbi. A mulher negra quer e conquista seu espaço, pois tem força, inteligência e capacidade para romper com paradigmas machistas e racistas. O mês da Consciência Negra precisa ser cada vez mais o mês de Dandara dos Palmares, da autonomia absoluta da mulher negra e da completa liberdade feminina, que protagoniza as trincheiras da resistência contra a discriminação por cor e gênero. Dandara vive.

domingo, 21 de dezembro de 2014

A Umbanda é paz e amor - por Luís Felipe Ferreira Stevanim


Apesar de pregar a paz e o amor (como na letra de seu hino, que diz que “A Umbanda é paz e amor/ É um mundo cheio de luz”), a religião sempre foi perseguida e marginalizada na sociedade brasileira. Pais e filhos de santos foram presos, terreiros invadidos, imagens depredadas. Tratam-se de ondas de perseguições que acompanham a prática religiosa desde suas origens.

A umbanda não é e nem pode ser religião do preconceito, da intolerância e do ódio. É religião da diversidade, do respeito e do amor. Essa é a hora do “povo de santo” dar resposta aos versos daquela cantiga de Preto-velho que dizem: “Eu quero ver, vovô, eu quero ver/ Eu quero ver se filho de pemba tem querer.” E esse querer só pode ser o respeito e a tolerância.

Luiz Felipe Ferreira Stevanim, Jornalista e umbandista.

sábado, 20 de dezembro de 2014

Faça o bem, primeiro estando bem - por Douglas Fersan


A base da Umbanda é a prática da caridade e não é possível fazê-la sem estar em sintonia com o Bem Maior. Ao médium de Umbanda cabe a tarefa de observar constantemente seus atos e pensamentos a fim de criar vínculos positivos, que possibilitem a realização da sua tarefa. Sem a reforma íntima e o compromisso de tentar ser melhor a cada dia, tornam-se vãs as horas passadas dentro de um templo espiritualista, pois não se pode fazer o bem sem que ele habite em seu interior.

Douglas Fersan
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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

A vaidade e o médium - Autor desconhecido


História de autor desconhecido:
Dizem que um homem começou a trabalhar na Umbanda. Rapidamente desenvolveu sua mediunidade e passou a receber um preto velho que ajudava muitas pessoas. Empolgado com a religião e com "seus" guias, sempre que via alguém em aflição, dizia:
_Vá ao meu terreiro, lá NÓS vamos te ajudar.
Passado um tempo, a vaidade foi tomando conta desse médium, que ao encontrar alguém necessitado, passou a dizer:
_Vá ao meu terreiro, MEU preto velho irá te ajudar.
Pouco tempo depois, já dizia:
_Vá ao meu terreiro, EU vou te ajudar.
Aí já era ele quem teria que ajudar mesmo, pois diante de sua vaidade exacerbada, os mentores, inclusive o preto velho, humildes como são, já tinham se afastado dele há muito tempo.

sábado, 13 de dezembro de 2014

Obrigado 2014, que venha 2015 - por Douglas Fersan


Mais um ano chegando ao fim e mais desafios vencidos. Enfrentamos desafios - como acontece com toda casa de orixá, alguns torceram contra nossa fé e pelo nossa fracasso. Mas como já foi dito, a casa é de orixá. Crescemos em qualidade e quantidade. Hoje somos mais e mais fortes e Oxalá nos premiou concedendo-nos um novo lugar, imensamente maior e melhor para trabalhar e atender aos que nos procuram e também para dar mais conforto aos trabalhadores da casa. Começaremos 2015 com força total, pois assim como aconteceu em 2014, não nos faltará a proteção de Exu, a misericórdia de Xangô, a bravura de Ogum, o amor de Oxum, a doçura de Iemanjá, a astúcia de Oxóssi, o bom senso de Nanã, a força de Omolu e a fé em Oxalá. Por mais que tentem nos parar, nossos orixás sussurram em nossos ouvidos que a batalha é árdua, mas a vitória é certa. O Lar De Preto Velho está pronto para mais um ciclo de realizações, a fim de que cada filho da casa cresça moral e espiritualmente e tenha forças para auxiliar aqueles que nos procuram.
Salve os pretos velhos e todas as entidades e orixás que não nos abandonaram em 2014.

Douglas Fersan
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segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Oração a Oxum - por Douglas Fersan


Hoje, 08 de dezembro, é dia de Oxum. Deixamos aqui uma singela prece à orixá das águas doces, da prosperidade e do amor:

Oxum, dourada é tua luz, assim como é o outro que te pertence. Derrama a tua pureza cristalina, orixá das águas doces. Não permita que neblina alguma obscureça o meu desejo mais profundo, que é conseguir o amor mais verdadeiro, seguro, eterno e duradouro por toda a humanidade. Estás presente nas cachoeiras que são sagradas, portanto faz com que apague todo sentimento ruim que porventura brotar de mim.  Não me deixei verter lágrimas por aqueles que desmerecem o amor, que não correspondem à verdadeira amizade e sentimento fraterno. Livrai-me, mãe, daqueles que se utilizam do teu nome e dos sagrados orixás para caluniar, difamar, intimidar e fazer mal uso do axé que carregam. Olhai por mim para que eu não seja mais um destes e caso um dia eu fraqueje, abre meus olhos com o brilho do teu ouro para que eu retorne ao caminho da retidão, ensinado por ti e pelos demais sagrados orixás.
Ora-yê-yê, Oxum.

Douglas Fersan
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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A luz está entre nós - por Douglas Fersan


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Raramente vamos além dos que os olhos podem ver.
Nossa visão e pensamentos são minimalistas, não conseguem enxergar o que vai além da visão material. Quando entramos numa casa espiritual, mais especificamente de Umbanda, vemos a tronqueira - o ponto de força dos guardiões - o congá, as imagens dos santos e orixás que decoram o ambiente.

Mas um trabalho espiritual vai muito além disso, vai muito além do que nossos olhos carnais podem ver.

Horas antes da abertura dos trabalhos, as egrégoras que cuidarão do bom desempenho da sessão espiritualista já começam a trabalhar. O ambiente passa por uma faxina astral, na qual miasmas, negatividades de toda natureza, larvas astrais e espíritos indesejados são retirados do local.

Porém nós, seres encarnados, somos impuros e carregamos a nossa gama de negatividade que acumulamos entre um trabalho e outro. Mesmo que tomemos os devidos cuidados, com banhos de ervas e limpezas astrais, carregamos energias indesejadas também. Com a chegada dos trabalhadores da casa e principalmente da assistência, que procura ajuda, novas energias adentram a casa espiritual. Para que uma nova faxina astral aconteça, é que fazemos as preces de abertura, pedimos a proteção dos guardiões e fazemos a defumação. Assim o ambiente estará preparados para receber nossos orixás e mentores com a força necessária para ajuda espíritos encarnados e desencarnados que buscam auxílio.

São poucos os médiuns que possuem o com da clarividência, mas esses poucos relatam a presença de seres rodeados de luz (outros mal possuem forma humana, sendo quase que pura energia luminosa), trabalhando, orientando e amparando os que ali se encontram.  E justamente por estar na presença desses seres tão iluminados é que temos o dever de observar algumas regras de comportamento: manter o respeito no local, evitar palavras e pensamentos negativos e maledicentes, preservar o silêncio, evitar fofocas e conversas paralelas de qualquer tipo e, principalmente, entrar com o coração puro e humilde, cientes de que somos meros aparelhos intermediários para esses seres de luz. Não somos nós os responsáveis pelas curas e soluções dos problemas das pessoas, somos meros colaboradores, infinitamente inferiores à magnitude moral desses seres de luz que nos amparam e conduzem nosso trabalho. Portanto, umbandista, dispa-se de seu orgulho e vaidade, lembre-se que você é um grãozinho de areia ainda em lapidação na tarefa de auxiliar no progresso a fim de ser o reflexo onde deve se refletir a imagem da fé e da caridade pura.

Douglas Fersan
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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Exu Mirim - Você o compreende? - Por Douglas Fersan


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Exu Mirim - você o compreende?

Provavelmente uma das linhas mais controvertidas da Umbanda, os exus mirins marcam não passam despercebidos quando passam pelos trabalhos nos terreiros. Agitados, brincalhões, teimosos, chamam a atenção dos consulentes por esse comportamento extrovertido, porém nem sempre são compreendidos.

Representando a esquerda do lado esquerdo da Umbanda, quase sempre são associados a crianças de rua, menores infratores e arquétipos semelhantes, como se representassem um lado ruim da espiritualidade.  Há quem os veja como espíritos de encantados, ou seja, que nunca viveram na terra.  A realidade é que muito pouco se sabe sobre essa linha, o que explica o fato de muitos terreiros de Umbanda não trabalharem com eles.

Na verdade, esses trabalhadores estão para os exus como os erês (ou como alguns preferem chamar, os cosminhos) estão para os pretos velhos. porém mostrando um lado infantil ainda em lapidação, porém com potencial para trabalhar como toda a esquerda que se manifesta na Umbanda.

O exu mirim carrega um fardo ainda maior que o exu "adulto", pois é menos compreendido que esse.  A associação feita entre ele e elementos negativos da sociedade somam-se ao processo de demonização que ocorre com exu desde tempos históricos.  O que se esquece no entanto, é que esses "pequenos" espíritos são grandes trabalhadores, sempre realizando que se dispõem a fazer, por isso é muito importante e de muita responsabilidade do médium e do consulente ao tratar com essas entidades, pois estando ainda em "lapidação" como muitos acreditam, podem ser usados para atender interesses escusos. Porém não se deve jamais esquecer a lei do retorno, segundo a qual para toda ação existe uma reação - reação essa que pode partir inclusive do próprio exu mirim ao perceber que foi usado de forma errada e que isso pode de alguma forma ter atrapalhado a sua caminhada espiritual.  São excelentes para desmanchar feitiços e magia negra, pois caminham com facilidade pelos campos astrais negativos, os quais conhecem bem e percorrem com desenvoltura.

Também é importante atentar ao fato de que quando se promete alguma coisa a um mirim é importante cumprir. Como uma criança teimosa, à qual temos o dever de cumprir uma promessa, senão a teremos nos cobrando constantemente, o mesmo acontece com eles.

Lembre-se portanto: exu mirim adora brincar. Mas não é de brincadeira.

Douglas Fersan
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terça-feira, 18 de novembro de 2014

A Umbanda não precisa de super-heróis - por Douglas Fersan

Humildade e caridade: provavelmente são os dois termos que mais se ouve na Umbanda. Constantemente somos lembrados que precisamos praticar a caridade e ser humildes. Ótimo, mas até que ponto realmente colocamos isso em prática?

Acredito que a caridade praticada sem a humildade torna-se vã para aquele que busca a evolução através dela.  De que adianta dar passagem às suas entidades, permitir que seu corpo seja um aparelho para que elas ajudem as pessoas e depois cantar aos quatro ventos os seus super-dons mediúnicos?

A Umbanda não precisa de super-heróis. Não precisa de entidades que baixem no terreiro já dizendo "Eu sou a entidade tal e sou chefe da falange" - chefe?  Suponhamos que seja realmente, mas será que a entidade tem necessidade disso ou será que isso é vaidade do médium?

Da mesma forma a Umbanda não precisa de entidades que ficam dando demonstração de força, que se viram para a assistência e dizem para uma determinada pessoa: "você não me conhece, mas vou falar tudo sobre você".  Mais uma demonstração de que o médium - e não a entidade precisa chamar a atenção. Acredito nos dons das entidades e as respeito muito, mas não consigo engolir a postura de certos médiuns.

Da mesma forma não precisamos de diplomas ou títulos. Quem realiza os feitos são as entidades, nós somos meros instrumentos mediadores. Quem muito quer exibir seus títulos é porque confia mais neles do que na espiritualidade. Lembremos das mães-de-santo do passado, analfabetas, mas que detinham grande conhecimento sobre a espiritualidade, suas mirongas e magias.  Hoje por um valor financeiro até irrisório compra-se um diploma de pai ou mãe-de-santo, e isso não te faz melhor que ninguém.  O que te faz um verdadeiro dirigente de uma casa espiritual é a sua postura ética, e isso não são as suas entidades que vão lhe dar, por melhores que sejam. Se você não te ética, não sabe tratar as pessoas com respeito e educação, se não sabe orientar as pessoas com a mesma humildade que um dia necessitou para aprender, se você não tem a firmeza de segurar as demandas contra você e os filhos da casa (lembrando que as demandas muitas vezes vêm através do pensamento, da língua ferina , em tempos de internet, através dos dedos desocupados e covardes também, que digitam quaisquer impropérios contra seus desafetos), você pode ter o título que for, mas de nada adiantará se não tiver humildade, pois sem ela, na Umbanda, você não é ninguém, é só mais um número.

Lembre-se que para aprender a andar um dia você engatinhou. Somente aquele que sabe ajoelhar para aprender um dia terá maturidade para liderar. Lembre-se também que a Umbanda precisa de médiuns verdadeiros. Quem precisa de super-heróis é a Marvel Comics.

Douglas Fersan
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terça-feira, 4 de novembro de 2014

Incorporação fora do terreiro - por Douglas Fersan


INCORPORAÇÃO FORA DO TERREIRO

Esse é um tema que tenho debatido muito com os filhos-de-fé da nossa casa (Lar de Preto Velho).  Nós, umbandistas de coração, temos uma necessidade quase fisiológica de auxiliar alguém quando o encontramos em dificuldades.  Quem de nós já não teve vontade de auxiliar alguém necessitado, ansioso por fazer o bem, a ponto de não aguentar esperar o dia da gira para isso?  Quem nunca pensou em incorporar as suas entidades em casa, ou na casa da pessoa necessitada ou até mesmo em outro lugar a fim de auxiliar o mais breve possível?

Atire o primeiro pó de pemba quem nunca pensou assim.

A intenção é ótima, não resta dúvida. Mas nem sempre as boas intenções são sinônimo de bons resultados.  Conheço inúmeros relatos de casos em que a tentativa de ajudar foi desastrosa para ambas as partes: para o que buscava ajuda e também para o médium.

"Ah, minhas entidades são fortes e minha fé é firme" - dirão alguns. Não tenho dúvidas quanto a isso. Mas pergunto: e os eguns e quiumbas que você (e suas entidades) vai encarar são fracos? Você tem noção da força deles?  Lembre-se que não são apenas os "bonzinhos" que têm força e firmeza.

Outro detalhe para refletir: se fosse para incorporar as entidades em casam (ou na casa do consulente), qual a necessidade de existir um terreiro, com tronqueira, congá e corrente mediúnica firmada? Se temos tudo isso num terreiro é porque lá é o lugar da incorporação e do atendimento acontecer. Se pensarmos o contrário - salvo casos de extrema necessidade - vamos fechar os terreiros e abolir os fundamentos da Umbanda, pois tudo isso passa a ser desnecessário.

Mas vamos ao que realmente interessa. Dar atendimento e incorporar fora do terreiro equivale a nadar em um rio de piranhas famintas. Imagine as falanges de espíritos sofredores, zombeteiros, trevosos, malfeitores, quiumbas e energias nefastas que o acompanharão e, provavelmente ficarão em seu lar. Sensações desagradáveis como mal estar, doenças, desarmonias não tardarão a surgir. E quem é o culpado disso? As suas entidades que se deixaram incorporar em qualquer lugar? Não, elas estão sempre dispostas a ajudar, independente da hora ou lugar.  O culpado é você, que abriu as portas da sua vida e da sua casa para essas energias.

Mais que isso... você levará problemas não apenas para sua vida, sua casa e sua família. Levará problemas também para os seus irmãos-de-fé no terreiro, pois quando lá chegar, em dias de gira, estará carregado com essas energias. E bem sabemos que uma gira funciona como uma grande engrenagem. Quando uma das peças apresenta defeito, todo o mecanismo tende a falhar. Em outras palavras, todos os seus irmãos-de-fé sentem a baixa energia que chega na casa, e a gira tende a não correr da forma esperada.

E não adianta dizer que antes de fazer o antedimento domiciliar você firmou vela para seu anjo da guarda e para sua esquerda. Terreiro é terreiro. Ambiente familiar é morada de espíritos encarnados e não pronto socorro espiritual. Pense em tudo isso. Pense nos prejuízos que você pode levar a si próprio e à sua família.  Lugar de manifestação de orixás e entidades é no terreiro, salvo exceções. como casos de saúde, em que o doente está totalmente impossibilitado de se locomover. O resto é vaidade do médium. E é justamente a vaidade que costuma derrubar os melhores médiuns.

Respeitar essa regra é respeitar a si mesmo, é respeitar a hierarquia da sua casa, é respeitar o consulente (pois você não é detentor da verdade e não tem a certeza de que irá resolver os problemas dele), é respeitar seus irmãos-de-fé, é respeitar o nome do terreiro que frequenta e é respeitar, acima de tudo, os seus orixás e as suas entidade.

Douglas Fersan
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segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Finados... fim de quê? - por Douglas Fersan


Finados? Fim de quê?
Algumas datas e situações são tratadas como sagradas. Uma aparente aura imaculada, na verdade um tabu, parece pairar sobre determinados assuntos, cuja contestação parece ofender as mais profundas tradições.

É óbvio que tenho muito respeito pela dor alheia, assim como respeito também a forma como ela se manifesta em datas como o dia de finados. Mas não consigo me comover com essa data.

Talvez alguém se espante com o fato de um umbandista dizer que não se abala com o dia de finados. Mas entendo o termo “finado” como algo que se esgotou, que chegou ao fim, que não existe mais. E a existência daqueles que amei e continuo amando não chegou ao fim, pelo menos não acredito nisso. E o fato de ser umbandista só reafirma essa minha convicção.

Tive uma ligação muito forte com meus pais, mas nem por isso me abalo no dia dos pais ou das mães. Além de saber que são datas criadas com fins comerciais, tenho meus pais em grande estima todos os dias, mesmo eles já tendo feito sua passagem há tantos anos. A saudade que sinto deles é a mesma, independente da data.

Mas o dia de finados constitui algo diferente, ao mesmo tempo mórbido e especial. Longe de querer criticar quem se comove e se mobiliza nesse dia (afinal cada um tem sua forma individual de manifestar os sentimentos), mas não consigo me inserir nessa peregrinação aos cemitérios a fim de manifestar a saudade e o respeito àqueles que partiram para o plano espiritual. Como umbandista não vejo a morte como um fim, e sim como uma etapa inevitável e talvez sucessiva, dependendo do progresso moral de cada um. Vejo o ser humano, a mais complexa criação divina, como algo muito além da matéria – pensamento e espírito são, na minha concepção, coisas que transcendem o fim da carne, que sobrevivem a qualquer revés e, mesmo que não atingindo os graus mais elevados da chamada evolução, continuam a existir. Sendo assim, o que me levaria a peregrinar a um cemitério a fim de cultuar a única parte que acredito não ser eterna no ser humano? Não me faz sentido.

Prefiro tratar bem, com respeito e amor, aqueles que me são caros ainda em vida, do que levar-lhes flores em datas pré-estabelecidas após sua morte. Não quero reverenciar e amar uma lápide, prefiro dedicar meu tempo e meus sentimentos àqueles que amo enquanto ainda posso vê-los e tocá-los. Após partirem, vou continuar a amá-los, mas demonstrarei isso através das minhas preces e dos meus pensamentos, que serão diários e feitos em qualquer lugar, não necessariamente num cemitério. Aqueles que amo não findam, não acabam, nunca serão finados, pois tenho convicção na continuidade de sua existência, ainda que ela não seja tangível para mim.

Creio também que a paz daqueles que partiram depende da paz que aqueles que aqui ficaram os permitam ter. Sofrer a perda de alguém amado e chorar essa dor é natural e justificável. O que não é correto, sob o meu ponto de vista, baseado em tudo que aprendi até o momento, é cultuar o sofrimento e a dor da separação. Isso aprisiona quem deve partir e não liberta quem permanece na terra, que fica prisioneiro da própria dor.

A Umbanda me dá a fé e a força para seguir adiante, na luta cotidiana, mesmo sem a força dos entes queridos que me davam sustentação. E essa força recebo todos os dias, através da fé, dos orixás, das entidades e, quem sabe, até mesmo desses entes queridos, que quiçá já tenham atingido a luz necessária para me levantar quando preciso. E essa força eu encontro no elo que ainda me liga a eles, independente do dia ou do lugar. Encontro essa força porque a Umbanda me dá a certeza de que não existem finados. Existe a força infinita do amor, que mantém sempre unidas as pessoas que se amam verdadeiramente.

Salve todos nossos ancestrais, vivos em nossas tradições e corações.
Salve o amor infinito que une o mundo espiritual e o material.
Saravá a Umbanda.

Douglas Fersan
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sábado, 1 de novembro de 2014

Pai Nosso de Yogananda


O PAI NOSSO DE YOGANANDA
Pai, Mãe, Amigo e Bem Amado Deus. . .
Que a pronunciação incessante e silenciosa do Teu
Sagrado nome, conduza-nos à Tua semelhança.
Inspira-nos, para que a nossa adoração as coisas materiais,
se transforme em adoração à Ti.
Que através da pureza de nossos corações,
possa Teu reino de perfeição vir
à terra e liberar todas as nações do sofrimento.
Que a nossa vontade se torne mais forte ao vencer os desejos mundanos e 
sintonize-se afinal com Tua vontade perfeita.
Dá-nos o pão de cada dia, alimento, saúde e prosperidade
para o corpo; eficiência para a mente e sobretudo, 
Teu amor e sabedoria para a alma.
É tua lei que diz:
“Com a mesma medida com que medirdes, também vos medirão”.
Que possamos perdoar aqueles que nos ofendem, 
sempre atentos à nossa própria necessidade 
de Tua imerecida misericórdia.
Não nos abandones no abismo das tentações em que caímos, 
pelo mal uso que temos feito da razão que nos concedeste.
E quando for Tua vontade submeter-nos à prova, oh Espírito,
permite-nos compreender que Tu és muito mais fascinante
do que qualquer tentação terrena.
Ajuda-nos a livrar-nos das tenebrosas
cadeias do nosso único mal: não conhecer-Te.
Porque Teu é o Reino, o Poder e a Glória
pelos séculos e séculos.

Amém

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O orixá e suas escolhas pessoais - por Douglas Fersan


Surra de orixá. Quem nunca ouviu essa expressão no meio umbandista ou candomblecista?  O filho-de-fé, por algum motivo desrespeita as normas ou os preceitos da religião e, consequentemente é castigado pelo orixá, que passa a prejudicar a sua vida das mais diversas formas. Doenças, problemas familiares, financeiros, etc.  Será?

Aliás, se assim for, será que a Umbanda é uma religião que vale a pena ser seguida, já que um vacilo quanto aos seus fundamentos torna-se motivo de castigos cruéis praticados justamente por aqueles que justamente nos amam e protegem?

Se partirmos desse sofisma percebemos que algo está errado.

Se há uma coisa à qual ciência e religião concordam é que para cada ação existe uma reação.  Em outras palavras, somos responsáveis pelos nossos atos. Levar uma vida desregrada e, consequentemente envolver-se com energias inferiores, certamente nos afastará das possibilidades que os orixás têm de nos proteger. Ou seja, nós nos afastamos dos orixás, o que é bem diferente de ser castigado por eles.

Quantas e quantas vezes cometemos excessos em relação à alimentação (isso sem falar em bebida e fumo). Certamente o organismo vai reagir a isso.  Será o orixá nos castigando ou será a consequência de nossas atitudes impensadas.

Isso tudo sem contar que viver em sociedade nos coloca sob a influência direta de tudo que nela acontece. Se o país passar por uma crise econômica, por exemplo, todos correm o risco de ficar desempregados. E isso é culpa do orixá? Ou uma surra dele?

O fato é que se conseguimos, mesmo diante das adversidades, manter a fé e cumprir nossos compromissos assumidos com os orixás, eles terão mais força para nos amparar e proteger. Problemas todos enfrentam, não há que passe por esse planeta de expiação sem sofrer um contratempo.

O orixá está sempre conosco, respeitando nossas decisões e agindo conforme a nossa permissão, pois se tivermos atitudes não condizentes com a fé que professamos, não estaremos permitindo a eles que interfiram de forma positiva em nossas vidas.

Portanto não culpe o orixá pelas suas decisões.  Ele o respeita e nã deixa acompanhá-lo.

Douglas Fersan
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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Quem acende uma vela é o primeiro a se iluminar - por Douglas Fersan


Toda religião parte do princípio do "religare", ou seja, de ligar-se novamente à Deus e à sua origem criadora. Ao realizar certos rituais, como acender uma vela, estamos ativando nossos chacras e direcionando nossas energias a esse princípio. Em outras palavas, nos ligamos a Deus e, consequentemente, nossas energias são fortalecidas e renovadas.

Acender uma vela, entregar uma flor em uma cachoeira, carregar um rosário, fio de contas, crucifixo ou patuá não se trata, portanto, de simples fetiche ou idolatria.  Quando canalizamos nossa fé nesses objetos eles superam a condição de fetiches e assumem a condição de sagrados, pois servem de elo entre nós e a divindade à qual os direcionamos.

A Umbanda tem fundamento, portanto é preciso entender que atos como o de acender uma vela ou fazer uma defumação não consistem simplesmente em acender um pavio ou jogar ervas secas na brasa.  É preciso firmeza de pensamento, é preciso fé e convicção de que esses atos, tão simples, estão nos ligando ao princípio do "religare". Aí sim, nessas condições somos os grandes beneficiários de pequenas atitudes, mas que nos proporcionam grande volume de energia e luz.

Douglas Fersan
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sábado, 18 de outubro de 2014

Uma história sobre Oxum - por Douglas Fersan


Era uma daquelas manhãs em que o sol se esforça para brilhar mas sem conseguir. Um fina névoa e uma leve garoa cobriam a mata. Até Oxóssi preferiu descansar naquele dia preguiçoso. Guardou seu arco e suas flechas e esticou o corpo esguio entre as árvores.

Xangô sentou no alto das pedreiras e olhou ao redor, mas sem conseguir ver muita coisa, já que a neblina tapava-lhe a visão. Também preferiu apenas contemplar aquela manifestação da natureza.

Na cachoeira, a nuvem de poeira d'água misturava-se às gotículas da fina garoa, formando uma só camada de água. Se Oxumarê estivesse ali, certamente aproveitaria aquela cortina para projetar seu arco-íris, mas como os demais, também preferiu apenas observar.

Foi quando ela chegou. Cheia de dores. Não dores físicas, mas na alma; os sentimentos estilhaçados e as esperança quase à míngua. Suas esperanças só não haviam minguado completamente porque ainda confiava em seus orixás.

Não tinha muito a oferecer.  A situação financeira não lhe permitia ao menos comprar uma vela. Mas não eram os problemas financeiros que a preocupavam. A razão de seu sofrimento era ver que diante dos problemas, aqueles que a cercavam, marido, filhos, amigos, pareciam perder a fé e no auge da incompreensão dos infortúnios, permitiam que sentimentos como a ira, o rancor, a cólera lhes dominasse o coração, causando momentos de tensão e total desarmonia em seu lar.

Não estava lá para pedir dinheiro ou riqueza. Queria apenas que a família voltasse à civilidade e a se unir pelos laços de amor que se espera em um lar.

Estava envergonhada, pois estava ali para pedir ajuda aos sagrados orixás e não tinha sequer uma vela para ofertar como agradecimento.Sempre lhe ensinaram que era conveniente ofertar algo como forma de gratidão.  Porém, quando estava bem próxima à cachoeira, encontra uma flor amarela. Daquelas bem sem graça, sem perfume ou qualquer atrativo que valha a pena o esforço de dobrar os joelhos para ser apanhada.  Mas algo a impeliu a colher a flor, e assim fez.

Com a flor na mão, sentou-se à beira do rio, mergulhando os pés na água gelada. Sentiu um frescor lhe subir pelo corpo.  Olhou as água da cachoeira descendo com força, mas o mesmo tempo com harmonia, contornando com sensualidade os obstáculos que as pedreiras lhe impunham. Sentiu então a presença magnânima de Oxum, que como dizem, faz como as águas dos rios: não deixa de correr por causa dos obstáculos, apenas os contorna com mestria e elegância.

Fez uma prece sincera a Oxum, entregando à doce Mãezinha todos os seus problemas, todas as suas dificuldades. Pediu com fé que a família voltasse a viver em harmonia e que ela tivesse esse mesmo talento de Oxum, de contornar os problemas sem deixar de seguir seu rumo.

Perdeu a noção do tempo que ficou ali em prece.  Deixou que sua alma viajasse embalada na cascata que descia as pedreiras. Sentiu que fôra acolhida pelo ventre fecundo, alimentada pelos seios fartos a abrigada no coração imenso da mãe das águas doces.  Sentiu que com fé e perseverança contornaria todos os seus problemas, pois seus orixás jamais a abandonariam, o Pai Celestial nunca a deixaria desamparada e não lhe faltaria forças para carregar sua cruz até atingir o caminho da vitória.

Sentiu uma onda gigantesca de gratidão tomar conta de sua alma. Era como se os ventos de Iansã soprassem para longe tudo aquilo que lhe fazia sofrer. Foi quando algo lhe afligiu: o que ofertar  aos sagrados orixás, em especial a Oxum, que lhe acolhera naquele momento de precisão?  Antes que fosse tomada pela preocupação, desceu os olhos e deparou-se com flor amarela, sem graça em sua mão direita.  Não teve dúvidas: fez uma prece de sincero agradecimento e jogou a flor no rio, oferecendo-a à mãe das águas doces.  Respeitosamente deu as costas à cachoeira e tomou o rumo de casa, certa de que seus problemas chegariam ao fim.

Com um sorriso largo Oxum aceitou a singela mas sincera oferenda (a mãezinha estava mais grata pela prece do que pela for, é verdade) e fez com que as águas descessem da cascata ainda com mais força, renovando as energias que a sua filha precisava. A neblina se desfez, o céu se abriu, permitindo que o sol e calor revigorante de Oxalá se derramasse sobre todos seus filhos, fazendo com que jamais perdessem a fé.  Oxóssi se espreguiçou e levantou de seu sono preguiçoso, decidido a trabalhar para que não faltasse fartura àquela valorosa filha. Do alto das pedreiras Xangô também se levantou, decidido a abrir os caminhos da justiça para que todos os problemas da filha-de-fé fossem superados. E Oxumaré resolveu aparecer em forma de arco-íris, mostrando que a beleza da vida e o poder da transformação, que certamente viria.

Aquela filha que chegara tão ferida voltou para sua casa se sentindo curada das dores da alma. Algo lhe dizia que os orixás estavam trabalhando para ajudá-la e que no devido tempo tudo estaria resolvido. Seus olhos materiais não lhe permitiam ver, mas todos eles já estavam agindo, devolvendo a harmonia e paz que faltavam em seu lar... e em breve, harmonizados, os problemas de ordem material também se resolveriam.

Não foi preciso pagamento algum. Bastou uma prece sincera, a fé inabalável e um gesto de simplicidade para que Mamãe Oxum e os demais orixás se compadecessem daquela filha. Pois engana-se quem acha que eles pedem luxo, bens materiais para socorrer seus filhos. Quem defende essa ideia são os mercadores da fé. Basta acreditar e ser merecedor, fazer uma prece e demonstrar, ainda que de forma singela, como jogar uma flor amarela sem graça ao rio, que a sua fé prevalece sobre os seus problemas.

A melhor oferenda são os seus bons sentimentos.

Douglas Fersan
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quinta-feira, 16 de outubro de 2014

História de um preto velho - por Ivi P. Izys


Certa vez uma mulher com a vida toda destruída e sem esperança alguma, resolveu ir a um Centro de Umbanda. Chegando lá aguardou ansiosa para poder ter explicações de como e porque sua vida estava daquela maneira.
Logo foi chamada para poder ser consultada por um Preto Velho.
Ela sentou em frente ao velhinho que começou a falar. Tudo o que o Preto Velho falava parecia que nada tinha sentido. Nada do que ouviu se encaixou a ela. Saiu de lá triste por ter ouvido coisas que não encaixava com ela.
O tempo passa e ela percebe que sua vida mudou muito para melhor desde aquela consulta.
Ela resolveu voltar lá e agradecer.
Chegando em frente ao Preto Velho ela disse: Pai Velho, quero agradecer. Você não acertou nada e tudo o q me disse não encaixou com minha vida, mas depois daquele dia minha situação resolveu e tenho vivido lindos dias.
O Preto Velho respondeu: querida filha, nada do que eu tenha lhe falado era pra você, eu estava conversando com seu obsessor. O que eu fiz foi ajudá-lo a entender muitas coisas, inclusive o perdão.
A Casa de Umbanda trata encarnados e desencarnados. Se nada faz sentido pra você não duvide, mas sim pergunte.

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terça-feira, 14 de outubro de 2014

Defumação é magia e tem fundamento.


Não se sabe quando exatamente, mas há milênios que a prática da defumação é utilizada, em diversas ritualísticas religiosas, logrando o equilíbrio de energias em determinado ambiente.

Um dos primeiros registros mais conhecido era a queima de enormes quantidades de madeiras aromáticas e perfumes de plantas no Egito. Os faraós se orgulhavam de oferecer às deusas e aos deuses milhares de caixas desses materiais preciosos.

Basicamente, a defumação tem a função de extinguir elementos nocivos de um determinado local (defumação de descarrego) e também de preenchê-lo com energias de alto padrão vibratório (defumação lustral), a qual favorece correntes positivas de orixás e demais entidades.

Isso se dá porque, ao queimarmos as ervas, liberamos em minutos poderosos elementos energéticos aglutinados durante muitos anos no solo e nos vegetais, bem como outros advindos dos raios solares, da lua e até mesmo de elementos como o ar e a água. Esses agentes da natureza tem a capacidade de desagregar larvas astrais, miasmas e formas-pensamento produzidos por nós, em nosso constante desequilíbrio mental e emocional, criados por sentimentos como raiva, rancor, mágoa, inveja, orgulho, luxúria etc.

Portanto, é sempre bom realizar a defumação em qualquer casa que habitamos, ainda mais se nela existam pessoas que conduzem trabalhos espirituais de elevado padrão vibratório. Na Umbanda, a defumação é uma das primeiras atividades de qualquer reunião, executando a "queima" de energias deletérias que possam haver no corpo dos médiuns e participantes, assim como evitar nocividades trazidas por espíritos sofredores atraídos pelo desequilíbrio de algum dos presentes.

Numa defumação geralmente são utilizados turíbulos (recipientes de metal ou barro onde é feita a queima com brasa incandescente). Primeiro é feita a defumação para criação de barreiras fluídico-magnéticas, sempre de dentro da casa para fora. Com o ambiente estéreo e propenso a receber novamente qualquer tipo de energia, da porta para dentro deve-se fazer a defumação definida como "doce" ou lustral, a qual, com ervas específicas, atraem a psico-esfera de luz e a bênção das entidades superiores;

Mas cuidado! Apesar da aparente simplicidade dessa liturgia, ela deve ser conduzida por alguém que conheça bem os fundamentos e aplicação de cada tipo de erva a cada finalidade, assim como deve ser executada com muita fé, oração (se possível com ponto cantado) e pensamentos elevados à espiritualidade superior. Caso contrário, de nada valerá!


Fonte do texto:Tupã Óca do Caboclo 7 Pedreiras


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terça-feira, 30 de setembro de 2014

Lenda de Xangô - por Douglas Fersan


Xangô é reconhecido como o Senhor da Justiça.

Oyó, o reino de Xangô, foi invadido por um exército inimigo. Os comandantes desse exército não tinham a menor piedade: aprisionavam não só os soldados de Xangô, mas também os velhos, as mulheres e as crianças do reino. Após aprisionar os inocentes, os comandantes mandavam mutilá-los e enviava seus braços, pernas e cabeças para torturar Xangô.

Tomado de uma imensa ira, Xangô subiu ao alto de uma pedreira com seu oxé e implorou a Olorum que o ajudasse. Em sua fúria, batia com força o oxé na pedreira enquanto rogava ajuda de Olorum.  Desse impacto começaram a sair faíscas, que se tornaram raios gigantescos. Esses raios atingiram as cabeças dos comandantes do exército inimigo e os seus soldados foram aprisionados. 

No entanto, Xangô determinou que esses soldados não fossem punidos, pois assim como os seus comandados, também cumpriam ordens apenas.  Diante da atitude digna de Xangô, Olorum o designou como o senhor da Justiça e assim é até hoje. Quando alguém precisa da Justiça Divina é a Xangô que recorre.


Parte integrante do curso "Mitologia dos Orixás" ministrado por Douglas Fersan, dirigente do Templo de Umbanda Lar de Preto Velho.
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domingo, 28 de setembro de 2014

O orixá mais bonito - por Douglas Fersan


Por tantas vezes já ouvir dizer que os orixás/entidades de uma determinada casa têm mais força que os orixás de outra casa. Fico me perguntando se eles, os orixás, passam por algum tipo de curso, de graduação, treinamento ou algo semelhando para atuar numa casa mais forte ou mais fraca.

Aliás, o que é uma casa de Umbanda mais forte ou mais fraca?
O que determina a força dessa casa?
A quantidade de filhos-de-fé?  Os anos de Umbanda de seu dirigente?  O luxo e a grandeza do espaço físico?

Certamente que não.
Existem casas cheias de "médiuns-samambaia" (aqueles que só ficam encostados na parede para enfeitar e fazer número), portanto a quantidade de filhos-de-fé não determina a força da casa.  Existem também pessoas que estão na Umbanda há dez, vinte, trinta anos e não aprenderam o básico, que é o princípio da fraternidade e a constante busca do crescimento espiritual (e acham que a suposta experiência lhes garante uma posição de PhD na religião e que por isso jamais devem ser questionados, quando não sabem sequer pilar um pó de pemba). Por outro lado, o luxo de um templo em nada colabora com a força da casa. Serve apenas para ostentar algo que talvez nem possua.  Existem casas de Umbanda que se restringem um cômodo apertado com alguns poucos trabalhadores e que ainda assim possuem mais eficácia em seu propósito do que os grandes templos com holofotes iluminando as imagens luxuosas e gigantescas dos orixás.

O que determina a força dos orixás então?
Resposta: os próprios orixás.

Os orixás são seres divinos que sempre possuem força.
Quem deixa de possuir essa força (ou firmeza, se assim preferirem) são as pessoas atuam numa gira de Umbanda). Numa casa onde prevalece a vaidade, o ego, o interesse pessoal em detrimento da caridade e da busca constante pela reforma interna, não sobra espaço ao orixá para usar a força que realmente tem. Aliás, ali talvez nem tenha orixá.

O orixá mais forte e mais bonito se encontra na simplicidade. No lugar onde a prioridade é a caridade, o amor e o respeito mútuo. Portanto, cabe a nós, filhos de Umbanda, vigiar os próprios atos e fazer do templo que frequentamos um lugar onde existam esses pré-requisitos. Com isso - somado à seriedade e o devido preparo para conduzir os trabalhos - os orixás estarão presentes, belos e fortes, sempre dispostos a nos amparar e ensinar que a vida é mais simples do que parece. E que a Umbanda é tão simples quanto a vida, tão simples quanto o Universo.

Douglas Fersan
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sábado, 6 de setembro de 2014

O papel das Iabás na Umbanda - por Maria da Lua

O Papel das Iabás na Umbanda

Iabá é o termo usado para definir os Orixás femininos tais como: Oxum, Oyá, Obá, Yewá, Iemanjá, Nanã e outras. Também é a designação de um cargo feminino, dentro de um Centro de Umbanda, sendo que, quando um médium passa a ser uma Iabá, é porque sua sensibilidade está se aflorando, é um crescimento espiritual.
A Iabá é a responsável pela preparação das oferendas ou amacis, tanto preparo das oferendas aos Orixás, quanto preparo dos amacis para os médiuns, sempre se utilizando das mesmas pedras. O amaci é uma mistura de água pura e sumo de ervas, imantado aos pés do Congá, que dentro da Umbanda, é o altar. Basicamente, o amaci é utilizado para reenergizar o chacra coronário, para que o médium suporte as incorporações e as energias manipuladas na Umbanda.

No livro “A Missão do Espiritismo”, psicografado por Hercílio Maes, pelo espírito Ramatis, apresenta um estudo profundo de comparação entre religiões e nos explica, que diferentemente dos irmãos espíritas Kardecistas, um médium de Umbanda trabalha diretamente no desmanche de fluidos pesadíssimos emanados da magia negra, em um trabalho corpo-a-corpo que exige proteções fluídicas, como no caso do uso do branco ou das tradicionais guias no pescoço. O amaci então, tem a função de reenergizar o médium diante de tamanho desgaste físico e espiritual, fortalecendo seu corpo e seu perispírito, bem como fazendo uma conexão com os guias que compõem sua corrente espiritual, em especial seu guia chefe.

Ao preparar o amaci, a Iabá deve estar sempre buscando a sintonia com o Orixá correspondente através de seu ponto, vibrando sempre com amor e fé. Há de se saber, que a Iabá está colocando também a sua vibração no que está fazendo, portanto também possui responsabilidade no que acontece ao médium envolvido.

Outra responsabilidade da Iabá é com relação ao bom andamento dentro da corrente, cuidando do médium desatento ou distraído. Ela ensina como o médium deve se comportar na corrente e deve sempre prestar atenção em tudo que está acontecendo. Ela ajuda na busca das entidades dos médiuns, sentindo a necessidade de cada um. Se tiver duvidas, deve esclarecê-las com o Dirigente do Centro, um dos Babás ou com as Entidades de Luz. Em reuniões de Iabás com os Babás o que for falado sobre os médiuns e seus problemas, será sempre na intenção de como ajudar o mesmo. Porque temos na corrente, médiuns em vários níveis de desenvolvimento com suas entidades. O que for dito nas reuniões não deve ser levado para fora, pois o respeito por todos deve imperar, num Centro que trabalha em nome de Jesus.

A Iabá tem a responsabilidade de ensinar várias coisas ao médium iniciante, tais como os cuidados que o médium deve ter com a própria roupa que se utiliza nos trabalhos no Centro. Ensina também a bater cabeça no Congá – que é um ato submissão, onde nos abaixamos diante de Jesus e todos os Orixás, pedindo sua proteção. O médium se abaixa e toca suavemente a testa no chão, ou no Congá, demostrando respeito pela terra que toca, e humildade ao se abaixar diante de Deus.

Outro ensinamento passado pela Iabá é o ato de salvar a trunqueira – um local físico que delimita o campo energético das linhas de direita e de esquerda, onde se fazem alguns tipos de descarregos. A esquerda dentro de um Centro, é quem segura a tronqueira, pois nela é feito o firmamento de um exu como chefe da esquerda e sob o comando dele trabalha todas as outras entidades da esquerda do terreiro, não podendo jamais fazer algo que contrarie a Lei.

O exu firmado como chefe, além de obedecer às Entidades de Luz, respondem também ao dirigente do Centro. Ele trabalha sob o comando de Ogum, que é a Lei, respondendo por todos os seus atos. A Umbanda trabalha sob a Lei que o Pai deixou escrita na Bíblia, ou seja, com humildade, fé, caridade, esperança, perdão, respeito, enfim, todas as virtudes. A Iabá também é responsável por cuidar da Trunqueira.

Uma Iabá sempre terá palavras de conforto e carinho para com os médiuns, e deve tratar todos de uma maneira igual e com respeito. Tanto os Babás, ou Dirigentes, como as Iabás sempre devem estar prontos para ajudar um irmão de fé, sem julgar quem merece ou não, tanto dentro ou fora do Centro.

Postado por Maria da Lua

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quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Iansã na África - por Pierre Fatumbi Verger

Iansã na África

Iansã é a divindade dos ventos, das tempestades e do rio Níger que, em iorubá, chama-se Odò
Foi a primeira mulher de Xangô e tinha um temperamento ardente e impetuoso. Conta uma lenda que Xangô enviou-a em missão na terra dos baribas, a fim de buscar um preparado que, uma vez ingerido, lhe permitiria lançar fogo e chamas pela boca e pelo nariz. Iansã, desobedecendo às instruções do esposo, experimentou esse preparado, tornando-se também capaz de cuspir fogo, para grande desgosto de Xangô, que desejava guardar só para si esse terrível poder.
Iansã foi, no entanto, a única das mulheres de Xangô que, ao final do seu reinado, segui-o na sua fuga para Tapa. E, quando Xangô recolheu-se para baixo da terra em Kossô, ela fez o mesmo em Irá.
Antes de se mulher de Xangô, Iansã tinha vivido com Ogum. Vimos, em capítulos precedentes, como a aparência do deus do ferro e dos ferreiros causou-lhe menos efeito que a elegância, o garbo e o brilho do deus do trovão. Ela fugiu com Xangô, e Ogum, enfurecido, resolveu enfrentar o seu rival; mas este último foi à procura de Olodumaré, o deus supremo, para lhe confessar que perdoasse a afronta. E explicou-lhe: "Você, Ogum, é mais velho do que Xangô! Se, como mais velho, deseja preservar sua dignidade aos olhos de Xangô e aos outros orixás, você não deve se aborrecer nem brigar; deve renunciar a Iansã sem recriminações". Mas Ogum não foi sensível a esse apelo, dirigido aos sentimentos de indulgência. Não se resignou tão calmamente assim, lançou-se à perseguição dos fugitivos e, como vimos anteriormente, trocou golpes de varas mágicas com a mulher infiel, que foi então, dividida em nove partes. Este números 9, ligado a Iansã, está na origem de seu nome Iansã e encontramos esta referência no ex-Daomé, onde o culto de Oiá é feito em Porto Novo sob o nome de Avesan, no bairro Akron ( Lokoro dos Iorubás) e sob o de Abesan, mais ao norte em Baningbê. Esses nomes teriam por origem a expressão Aborimesan ("com nove cabeça"), alusão aos supostos nove braços do delta do Níger.

Uma outra indicação da origem desse nome nos é dada pela lenda da criação da roupa de Egúngún por Iansã. Roupas sob as quais, em certas circunstâncias, os mortos de uma família voltam a terra a fim de saudar seus descentes. Iansã é o único orixá capaz de enfrentar e de dominar os Egúngún.

Iansã lamentava-se de não ter filhos. Esta triste situação era conseqüência da ignorância a respeito das suas proibições alimentares. Embora a carne de cabra lhe fosse recomenda, ela comia a de carneiro.
Iansã consultou um babalaô, que lhe revelou o seu erro, aconselhando-a a fazer oferendas, entre as quais deveria haver um tecido vermelho. Este pano, mais tarde, haveria de servir para confeccionar as vestimentas dos Egúngún. Tendo cumprido essa obrigação, Oiá tornou-se mãe de nove crianças, o que se exprime em iorubá pela frase: "Iyám mésàn, Origem de seu nome Iansã.

Existe uma lenda, conhecida na África e no Brasil, que explica de que maneira os chifres de búfalo vieram a ser utilizados no ritual do culto de Oiá-Iansã:
"Ogum foi caçar na floresta. Colocando-se à espreita, percebeu um búfalo que vinha em sua direção. Preparava-se para matá-lo quando o animal, parando subitamente, retirou sua pele. Uma linda mulher apareceu diante de seus olhos. Era Oiá-Iansã. Ela escondeu a pele formigueiro e dirigiu-se ao mercado da cidade vizinha. Ogum apossou-se do despojo, escondendo-o no fundo de uma depósito de milho, ao lado de sua casa, indo, em seguida, ao mercado fazer a corte à mulher-búfalo. Ele chegou a pedi-la em casamento, mas ela recusou inicialmente. Entretanto, ela acabou aceitou, quando, de volta à floresta, não mais achou a sua pele. Iansã recomendou ao caçador não contar a ninguém que, na realidade, ela era um animal. Viveram bem durante alguns anos. Ela teve nove crianças, o que provocou o ciúme das outras esposas de Ogum. Estas, porém, conseguiram descobrir o segredo da aparição da nova mulher. Logo que o marido se ausentou, elas começaram a cantor: " Máa je, máa um, àwò re nbe nínú àká", Você Pode beber e comer (e exibir sua beleza), mas a sua pele está no deposito (você é um animal).
"Iansã compreendeu a alusão; encontrando a sua pele, vestiu-a e voltando à forma de búfalo, matou as mulheres ciumentas. Em seguida, deixaram os seus chifres com os filhos, dizendo-lhes: Em caso de necessidade, batam um contra o outro, e eu virei imediatamente em vosso socorro. É por essa razão que chifres de búfalos são sempre colocados nos locais consagrados a Oiá-Iansã".

Tivemos oportunidade de ouvir essa história na Bahia, narrada por Pai Cosme, um Velho pai-de-santo, hoje falecido. Ele pronunciava com perfeita correção a frase iorubá citada acima.

Os oríkì dirigidos a Iansã descrevem-na bastante bem:
"Oiá, mulher corajosa que, os acordar, empunhou um sabre".
Oiá, mulher de Xangô.
Oiá, cujo marido é vermelho.
Oiá, que embeleza seus pés com pó vermelho.
Oiá, que morre corajosamente com seu marido.Oiá, vento da morte.
Oiá, ventania que balança as folhas das árvores por toda parte.
Oiá, a única que pode segurar os chifres de um búfalo".

Oiá-Iansã no Novo Mundo

As pessoas dedicadas a Iansã, nome sob o qual ela é mais conhecida no Brasil, usam colares de contas de vidro grená. A quarta-feira é o dia da semana consagrado a ela, o mesmo dia de Xangô, seu marido. Seus símbolos são como na África: os chifres de búfalo e um alfanje, colocados sobre seu "pejí". Ela recebe oferendas de acarajés (àkàrà na África) e detesta abóbora..
Quando se manifesta sobre um dos iniciados, ela está adornada com uma coroa semelhante à dos reis africanos , cujas franjas de contas escondem o seu rosto. Ela traz um alfanje em uma das mãos e um espanta-moscas feito de cauda de cavalo na outra. Suas danças são guerreiras e, se Ogum está presente, ela se engaia num duelo com ele, lembrança, sem dúvida, de suas antigas divergências. Ela evoca também, através de seus movimentos sinuosos e rápidos, as tempestades e os ventos enfurecidos. Seus fiéis saúdam-na gritando: " Epa Heyi Oya!".
No Brasil é sincretizada com Santa Bárbara e, em Cuba, com Nuestra Señona de la Candelária.
Certa Iansãs, chamadas Yánsàn de Igbalè, ligadas ao culto dos mortos, os Egúngún, quando dançam
parecem expulsar as almas errantes com seus braços largamente abertos e estendidos para a frente.

Arquétipo

O arquétipo de Oiá-Iansã é o das mulheres audaciosas, poderosas e autoritárias. Mulheres que podem ser fiéis e de lealdade absoluta em certas circunstâncias, mas que, em outros momentos, quando contrariadas em seus projetos e empreendimentos, deixam-se levar a manifestações a mais extrema cólera. Mulheres, enfim, cujo temperamento sensual e voluptuoso pode leva-las a aventuras amorosas extraconjugais múltiplas e freqüentes, sem reserva nem decências, o que não as impede de continuarem muito ciumentas dos seus maridos, por elas mesmas enganados.

Esse texto foi retirado do livro: "Orixás" de Pierre Fatumbí Verger

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domingo, 31 de agosto de 2014

A mão suave de Oxalá - por Douglas Fersan


Houve um período da minha vida que tudo parecia dar errado.
De repente fui pego por uma enfermidade, que fatalmente afetou o meu humor, o meu modo de tratar e de me relacionar com as pessoas. Fiquei introspectivo, pouco falante.

Vieram problemas no trabalho. Coisas que antes eu resolvia com facilidade, passaram a ter uma dimensão maior - talvez por causa da minha fragilidade. Aqueles que me cercavam diziam que eu estava diferente, alguns até compreendiam que a enfermidade afetava o meu estado, mas outros achavam que eu devia reagir. Eu bem que tentava, e às vezes até acreditava que estava conseguindo, mas pelos comentários que ouvia, não estava.

Como dirigente de uma casa espiritual, muitos achavam que eu tinha o dever de estar bem. Afinal, como Deus haveria de desamparar justamente aquele que se dispõe a exercer o sacerdócio em Seu Santo Nome? Mero senso comum. Padres, pastores, rabinos, pais-de-santo também sofrem enfermidades e problemas no dia a dia.

Pior ainda: sempre havia alguém que chegava para dizer que era fulano quem estava "demandando" (enviando feitiços, negatividades e afins) para me derrubar. Não acredito que tenham feito, mas se assim o fizeram, lá no futuro colherão o hoje plantaram, isso é fato.

O que acredito é que, como qualquer ser humano, meu corpo padeceu pelos excessos que cometi e pelos cuidados que deixei de tomar com o físico e que fatalmente desencadeou uma bola de neve que afetou o meu humor e o espiritual.

Mas o que ninguém percebia é que nos momentos em que eu estava calado, aparentemente introspectivo, mal humorado e calado, estava com uma mão sobre meu ombro. A mão divina do Pai Oxalá, que pacientemente cuidava da minha enfermidade. Não de uma forma milagrosa e imediatista como alguns pensam que deve ser, mas da forma racional que necessita ser. Me fez repensar hábitos (inclusive alimentares), posturas, pessoas e, principalmente fortaleceu a minha fé.

Lição aprendida: não estou só. Tenho a minha família carnal, os amigos fiéis, os irmãos e filhos-de-fé, os sagrados orixás e as entidades e, acima de tudo e de todos, Deus... e ninguém pode mais que Ele.

Que fique a lição. A dor é sagrada, pois nos avisa que algo deve ser mudado em nosso modo de tratar o organismo física e consequentemente o espiritual. A introspecção também é necessária, pois nos leva a refletir muita coisa e a aprimorar nossa condição de seres divinos humanizados.

Engana-se quem me via calado e achava que eu estava entregue à tristeza. Eu estava sentindo a mão suave do pai Oxalá afagando meu ombro e dizendo que a luta continuava e muito ainda tinha a ser construído.

Salve nosso pai Oxalá.

Douglas Fersan
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quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Quer montar um terreiro de Umbanda? Tenha culhões para isso - por Douglas Fersan


Em primeiro lugar me desculpo pelo termo chulo com que intitulo esse artigo (não é do meu feitio), muito embora o ache verdadeiro. Criar um templo de Umbanda não é para qualquer um. Não basta pendurar algumas guias no pescoço, incorporar algumas entidades e pronto. É preciso bem mais que isso.

 É preciso, em primeiro lugar, ter conhecimento para segurar todas as energias que rondam uma casa e uma gira. Não basta saudar os orixás/entidades e pronto. Não basta acender uma vela preta e vermelha no tronqueira e acreditar que a segurança está feita. Umbanda é coisa séria para gente séria e que tem conhecimento para isso. As energias que rondam uma gira e uma casa de Umbanda são enormes e por melhores que sejam as suas entidades, você também tem que possuir firmeza, conhecimento, tato e bom senso para administrar tudo isso. Não se esqueça que sacerdócio é coisa séria e que normalmente você é escolhido por uma força maior e não pelo seu ego.

Falando em bom senso, não misture suas crenças pessoais (senso comum) com fundamento de Umbanda. São coisas distintas. Não é porque você sonhou que uma entidade disse uma coisa que isso se torna um fundamento de Umbanda. Talvez você esteja delirando. Não é porque você acha que determinados elementos devam (ou não) ser usados ou evitados, que sua vontade deve ser feita. As entidades não devem deixar de beber ou fumar, de usar determinados paramentos, de usar certos procedimentos só porque você quer. Você não é o papa da Umbanda e, sinto informar, sabe bem menos que as entidades e os orixás: esses sim, os verdadeiros mestres a quem devemos ouvir para nortear o nosso culto. Os fundamentos da Umbanda vêm do Astral, da Espiritualidade Maior, e não do seu ego, às vezes tão mesquinho.

Também não se ache o baluarte da Umbanda. Na Umbanda verdadeira impera a simplicidade e não existe lugar para super-heróis (ou supostas entidades que assim se acham e já baixam se dizendo chefes de falange). Converse com um preto velho se tiver dúvidas quanto a isso. Não existe entidade mais sábia que um preto velho... paradoxalmente não existe também entidade mais humilde. Portanto, se quer contribuir tanto para uma boa Umbanda, comece sendo humilde.


Outro bom conselho: aprenda a controlar a sua língua. Ela não tem osso, pode serpentear de um lado para outro, falando de tudo e de todos. E fica a dica: quem fala de todas as pessoas para você, certamente fala de você para todas as pessoas.

Quer montar um terreiro de Umbanda? Ótimo... mas primeiro assuma a religião para a sua família, vizinhos e amigos. Vamos honrar a roupa branca que vestimos, e não ter vergonha dela. Salve Oxalá e a brancura do seu manto. Tenha culhão para assumir aquilo em que você acredita. Não pratique a Umbanda às escondidas... não é vergonha nem crime ser umbandista, a Carta Magna do país nos garante isso. Se você tem medo de assumir a Umbanda o problema está em você, não nos outros.
Siga seu caminho. Se não conseguiu fazer com que os irmãos-de-fé da sua casa sejam seus cordeiros, procure um lugar com pessoas menos inteligentes, que talvez caiam em sua conversa. Mas não tente abrir um terreiro se não tiver culhão para isso.

E ao sair dessa casa, deixe-a em paz. Deixe seu sacerdote em paz, os filhos-de-fé em paz, seus fundamentos em paz. Você será esquecido por eles mais rápido do que pensa se deixá-los em paz. Não caia do jogo mesquinho de tentar ficar aliciando às escondidas os filhos dessa casa (aqueles mesmos que você tanto criticava) para migrarem para o seu pseudo-terreiro. Além de anti-ético, isso é muito feio. E além de tudo, você vai (tentar) tirar alguém de uma casa para levar para onde, se ainda não teve culhão (além de preparo) para montar um terreiro?

Enfim, tenha ética.

Douglas Fersan
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segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Por que me ajoelho? - Douglas Fersan

Eu me ajoelho porque reverencio Deus, supremo criador de tudo e de todos. Porque respeito os orixás, sua manifestação divina e as entidades que caridosamente vêm nos auxiliar. Me ajoelho para pedir perdão pelas minhas falhas. Me ajoelho pedindo pela saúde, sorte e segurança daqueles que seguem (ou não) a minha fé. Às vezes me ajoelho por aqueles que frequentam uma casa de caridade mas, pelas costas, falam mal das entidades, dos dirigentes, dos seus irmãos-de-fé. Usam o tempo livre para criticar a casa que um dia lhes abriu as portas. Ajoelho por eles pois ainda não aprenderam o significado de tirar os sapatos e pisar um solo sogrado - ou sequer sabem o que é isso.

E me levanto, porque Deus. supremo criador de tudo e de todos, os orixás, sua manifestação divina, as entidades, que caridosamente vêm nos auxiliar, cada irmão-de-fé que se entrega dia a dia, semana a semana, não me deixar perder a fé. Me levanto porque apesar das línguas maledicentes e dos olhos que procuram defeitos e jamais apontam soluções, existem aqueles que são fiéis a quem lhes abre as portas. Porque assim devem ser as portas: abertas a quem precisa, mesmo a quem um dia vá pagar com ingratidão o bem que recebeu.

Douglas Fersan
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segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Os mitos como representações da transmissão do conhecimento - fonte Ôro Orum

Mito não é verdade. Também não é mentira. É uma representação. Uma forma de interpretar algo. Ou um conto que carrega mensagens, significados, representações de acordo com a cultura, a ética e a visão de mundo de um determinado povo.

Há muitas coisas em comum entre mitos de diferentes povos. Por exemplo, os mitos da criação. Em quase todos os mitos da criação que encontramos em livros e sites o homem tem origem do barro. Como “Adão e Eva” por exemplo. O barro por sua vez é a junção de dois dos quatro elementos básicos: água e terra. Enquanto o fogo e o ar são relacionados à energia vital, ou o sopro da vida.

Muitos povos criaram mitos diferentes para transmitir seus conhecimentos e visão de mundo. Um dos povos que mais se destacaram por seus complexos mitos foi o povo grego. “O Mito da Caverna” é um ótimo exemplo de como os pensadores gregos tratavam do apego aos bens materiais, da alienação do ser - humano. ( Para compreender a essência básica do MITO DA CAVERNA assista: http://www.youtube.com/watch?v=csXLZw4amUM).

O mitos Yorubás são a base mitologia africana. Consistem em uma centena de contos, histórias, passagens da vida dos Orixás, que carregam um vasto conhecimento sobre a essência da religião. Passagens diversas de todos os Orissás contêm ensinamentos sobre as regências de cada um; sobre suas personalidades; sobre suas fraquezas e seus domínios.
A ética que permeia a crença africana é é transmitida e ensinada através desses mitos, ao contrário do Cristianismo que estabelece verdades através da Bíblia e suas interpretações, dando ao mito de Adão e Eva a validade de uma verdade absoluta.
No culto aos Orixás os mitos não são verdades absolutas. A crença africana não defende isso. Não precisa disso. Tais mitos são a fonte de transmissão e compreensão da essência dos Orixás. De seus ensinamentos.

Fonte: Ôro Orum